Deyverson recorda passagem pelo Benfica no meio dos craques: «O que é que eu estou a fazer aqui?»
Avançado brasileiro conta passagem de teste pelo Benfica B em 2012 e convivência com jogadores como João Cancelo, André Gomes, Bernardo Silva
Hoje no Atlético Mineiro, o brasileiro Deyverson recordou o tempo que passou no Benfica na época 2012/13, procedente do Mangaratibense. A mudança drástica da quinta divisão do Rio de Janeiro no Brasil para a Europa, onde iria jogar no Benfica B, deslumbrou-o, mas logo na chegada a Lisboa, a deceção. Achou que teria jornalistas à espera, mas não aconteceu, e era só um teste, não um contrato.
«Na minha cabeça era ‘eu vou para o Benfica’, mas não para o Benfica B. Pensei em Pablo Aimar, Enzo Perez, Luisão, Maxi Rodriguez, Alan Kardec... Cheguei lá, tudo vazio no aeroporto. Aquele ‘cri, cri, cri cri’ [grilos]», contou Deyverson ao Globoesporte.
«Estavam lá João Cancelo, André Gomes, Bernardo Silva, Miguel Rosa, Ivan Cavaleiro, todos a jogar [ou jogaram] na Premier League. E eu lá no meio pensava: ‘o que é que eu estou a fazer aqui'? Eu estava acostumado com pelados», lembrou ainda.
Havia mais testes físicos do que com bola, mas as coisas começaram a correr bem. «No último dia de teste fiquei no banco num particular [contra o Oriental]. Quando faltavam 10 minutos para acabar, o treinador [Norton de Matos] chamou-me. Entrei, acabou o jogo 2-0, com dois golos ‘do pai’ em praticamente 9 minutos. Foi um de cabeça, até de peixinho. E outra a bola sobrou para mim e eu só ‘chapei’. Aí o treinador chamou-me, disse que estava muito feliz com o meu desempenho e queria muito contar comigo. Fiquei todo feliz, chorei, abracei-me a ele e nem tínhamos intimidade. [Ofereceram-me] cinco anos de contrato, um salário mínimo, na época era 1.200 euros. Liguei para a minha mãe, todo feliz, emocionado, ‘passei, passei’. Ninguém acreditou, foi um choque», recordou.
Deyverson investiu em ajuda à família. «A gente dormia no chão. Uma das primeiras coisas fiz foi comprar casa para minha mãe, para mim, para meu outro irmão, outro irmão. Dei um ‘start’ aqui no clube, comprei materiais de treino e de jogo», diz a propósito do AESC (Associação Esportiva Social e Cultural) Mamaô, clube amador filiado à federação no Rio no qual o irmão é gerente e o pai, presidente.
Assinou por cinco anos mas só esteve um, jogando depois no Belenenses, Levante, Alavés e em 2017 voltou ao Brasil para jogar no Palmeiras.
Aos 33 anos, e depois de ter representado o Cuiabá com Petit, admite excessos. «Eu gostava de tomar a minha cervejinha, de sentar no portão e ficar bebendo. De ficar ouvindo pagode, ouvindo sertanejo. Se eu puder dar um conselho para essa juventude, é: não faça. Sei que é difícil colocar na cabeça dessa juventude, porque o mundo nos propõe coisas maravilhosas. Mas se parar para pensar é vazio. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não faria. Estaria bem melhor hoje», disse Deyverson.