Destaques do Benfica: Cabral adora a bola, Di María adora o jogo
Golo prodigioso do brasileiro que reforça o debate sobre o que ele pode oferecer às águias; argentino esteve nos três golos; Bah e Carreras a subir
O melhor em campo: Arthur Cabral (nota 8)
A época caminha para o fim e Arthur Cabral continua a provocar um debate: o avançado brasileiro é apenas um incompreendido ou daqueles que oferece pouco nos intervalos de golos que merecem ser mostrados nas escolas de futebol? O 2-1, de calcanhar, foi um daqueles momentos prodigiosos que merecem ser louvados e está à vista que não é obra do acaso porque ele tem uma relação especial com a bola (mesmo que não a mesma com o jogo) e um repentismo de ponta de lança vincado no remate de longe ao poste (37) e num pontapé de bicicleta defendido com dificudade por Ricardo Velho.
Trubin 6 — Ainda transmite, inexplicavalmente, alguma intranquilidade, expressa na linguagem corporal, muito embora nas poucas vezes em que interveio fez o que se pede a um guarda-redes de um grande: defender o posssível. Quanto ao impossível (tiro de Belloumi), nada a fazer.
Bah 7 — Uma das melhores exibições nesta época. Intenso, com fôlego para dar e vender, explorou muito bem as costas da defesa do Farense e a incapacidade de Marco Matias acompanhá-lo. Duas assistências, uma para Kokçu e outra para Arthur Cabral, ou a prova de que, quando em forma, é um lateral que faz a diferença, principalmente se tiver a inteligência de Di María ao seu serviço.
António Silva 6 — Alexander Bah pôde projetar-se muito porque o central português cobriu-lhe bem as costas, e quase nunca concedendo uma nesga de terreno a Zé Luís.
Otamendi 7 — A capacidade de uma equipa pressionar também tem a ver como os centrais leem o jogo, antecipando possíveis lances de perigo enquanto estão de frente para a bola. Protegeu bem as falhas defensivas que Carreras ainda comete e quase nunca recorrendo à falta. Uma noite de um líder.
Carreras 7 — Aos poucos vai ganhando confiança e mostrando que pode ter futebol para justificar a contratação em definitivo, no final da época. Tem o mérito de mostrar, a todos os que assistem, o que pretende fazer, e dá para perceber que as ideias são boas, ainda que nem sempre as consiga executar. De qualquer forma deu ao Benfica imprevisibilidade a sair a jogar, jogando por dentro e por fora, com algum requinte aqui e ali e, fundamentalmente, uma grande disponibilidade ofensiva traduzida no primeiro golo como jogador sénior.
Florentino 7 — Grande primeira parte, revelando ótimo sentido posicional refletido em muitas interceções. As suas decisões no primeiro toque em fase de construção foram quase sempre as mais acertadas e desta vez esteve em evidência no passe longo. Foi dele a abertura para Di María no lance que originou o 1-0. Saiu aos 62’, porventura acusando o desgaste.
João Mário 5 — Não parece estar muito confortável numa posição que em tempos foi desenhada para ele, mas à qual se foi desligando para tornar um falso ala. Temporizou demasiado o jogo em momentos que exigiam mais rasgo.
Di María 8 — Ao contrário de outros jogos, precisou de correr menos com bola e pô-la muito mais a correr para os colegas. Cedo que percebeu que o ouro estava no flanco onde atua e tendo um sprinter como Bah a aparecer-lhe nas costas e sem que ninguém acompanhasse o dinamarqués, o lado playmaker do campeão do mundo veio ao de cima, fazendo jogar todos os que estavam à sua volta. Esteve nos três golos: nos dois primeiros, esperando a hora certa para convidar Bah nas últimas braçadas na piscina; e posteriormente no cruzamento para Carreras trazer tranquilidade às águias.
Kokçu 7 — A primeira meia-hora foi toda dele, jugando como gosta: um 10 operário, que faz a equipa jogar na base do toque curto e progressão rápida. Pertenceu-lhe o primeiro remate, aos 4’, e inaugurou o marcador, aos 16, respondendo bem ao cruzamento tenso de Bah. Com uma particularidade: desta vez sorriu. Caiu de produção na segunda parte, embora tenha terminado o jogo com uma oferta de golo a Neres.
Tiago Gouveia 6 — Ótima primeira parte, agressivo na pressão e muito criterioso no jogo de tabelas na meia-esquerda, permitindo que Carreras queimasse linhas com propósitos bem claros. Baixou de ritmo na segunda parte e justificou-se a saída.
Neres 4 — Não aproveitou os espaços que começaram a surgir entrelinhas, ruto de um Farense a correr mais riscos. Teve um golo na cara, mas não deu o melhor seguimento ao cruzamento tenso, mas bem medido, de Kokçu (90+4).
João Neves - — Recebeu o prémio azar: pouco mais de 10 minutos e uma saída forçada depois de um choque de cabeças.
Aursnes 5 — Novamente na posição de origem após a saída de João Neves. Não estranhou. Porque não sabe jogar mal em lado algum.
Rollheiser - — Tempo para duas ou três acelerações a pedir mais.
Marcos Leonardo - — Sem espaço ou tempo para causar ameaças.