Da asfixia ao sonho, sem um final feliz: a crónica do Sporting-Atalanta

Liga Europa Da asfixia ao sonho, sem um final feliz: a crónica do Sporting-Atalanta

INTERNACIONAL05.10.202321:31

Atalanta da primeira parte jogou e não deixou jogar. Amorim mexeu bem ao intervalo. Mobilidade leonina baralhou marcações italianas.

Diz-se, no futebol, que uma equipa joga o que a outra deixa jogar. Esse foi o retrato da primeira parte do duelo luso-italiano de Alvalade, onde uma Atalanta intratável, disciplinada taticamente e altamente pressionante, não deixou o Sporting colocar pé em ramo verde. Ao intervalo, além da vantagem por 0-2, a equipa de Bérgamo tinha mais posse de bola (45/55), mais passes (229/321), mais cantos (2/6) e menos faltas (3/4). E os leões, nos primeiros 45 minutos, não foram capazes, por uma vez que fosse, de aproximarem-se com perigo da baliza do argentino Juan Musso. Se houvesse um título só para os 45 minutos iniciais, seria «Panela de pressão italiana cozinhou futebol dos leões.» Na verdade, um Sporting demasiado macio, sem capacidade de antecipação e argumentos para contrapor à pressão alta transalpina, sofreu a bom sofrer e nunca conseguiu equilibrar as operações. Na esquerda da equipa italiana, Ruggeri e Lookman descobriram uma autoestrada entre as costas de Fresneda e Diomande, que não era compensada por Morita, abrindo caminho a várias situações de pânico para a baliza de Adán. Com um meio-campo sempre bloqueado, onde Hjulmand não teve arte e imaginação para soltar-se, e que sistematicamente estava demasiado longe de Paulinho e Pedro Gonçalves, restava aos leões, incapazes de construir a partir de trás, o recurso ao jogo direto para Gyokeres, que era presa fácil para o trio de centrais da Atalanta. Era justa a vantagem dos italianos ao intervalo, e no ar, perante tanta superioridade, pairou a dúvida quanto à capacidade de reação que o Sporting teria... 

Amorim ‘entra’ em campo 

Foi então que o treinador do Sporting viu do que a sua equipa precisava para libertar-se das amarras construídas pelo experiente Gasperini: mobilidade à frente e tranquilidade na defesa. Assim, fez entrar o patrão Coates, para meter ordem na casa, e ainda dois agitadores, Catamo e Edwards, passando o Sporting a articular-se num 3x3x1x2x1, onde Morita ficava entre Fresneda e Mastheus Reis, Pote aparecia entre linhas pelo meio, Edwards e Catamo permutavam de posição, tornando infrutífera a marcação em cima, quase homem-a-homem, da Atalanta, e Gyokeres abria espaços, com a generosidade que se lhe reconhece. 

Com este desenho, com esta nova filosofia, a fortaleza de Bérgamo começou a abrir brechas e Gasperini apanhou o primeiro susto aos 52 minutos, quando Gonçalo Inácio esteve muito perto do golo. Três minutos depois estava a refrescar defesa e ataque, na vã tentativa de controlar os leões. O jogo partiu-se e o técnico transalpino, acossado pela versatilidade leonina, embalada por Alvalade que finalmente começou a acreditar, lançou Pasalic e Holm para dar consistência ao meio-campo e travar a ala esquerda do Sporting, que entretanto trocou, à direita, Fresneda por Esgaio. Até que chegou o minuto do remate de Matheus Reis, bem defendido por Musso e a recarga de Diomande, para a mão de Salvini, que não passou despercebida ao VAR. Estavam jogados 76 minutos quanto Gyokeres, dos onze metros, colocou o resultado na diferença mínima. E logo a seguir, o momento do jogo, que mostra como tantas vezes é ténue, no futebol, a linha que separa o sucesso do insucesso: Catamo, aos 78 minutos, atirou com violência à base do poste direito da baliza de Juan Musso, gorando-se uma oportunidade de ouro para o Sporting chegar ao empate e tentar cavalgar o momento para conseguir a vitória. Mais uma vez, Gasperini foi pragmático, percebeu que Salvini já não aguentava Gyokeres, e fez entrar, para marcar o sueco, Pelomini, um peso-pesado que, de facto, passou a controlar o ponta-de-lança leonino. A partir daí, e apesar de uma expulsão, por segundo amarelo, perdoada a Tolói (84), as coisas mudaram, os italianos passaram a conseguir trocar a bola e até obrigaram (Scamacca) Adán a um excelente defesa aos 89 minutos. E nem Coates a ponta-de-lança, nos minutos finais, foi argumento para evitar a derrota...