Crónica do Portimonense-Benfica: há diversão a mais naquele carrossel
Benfica teve uma vitória justa, mas não totalmente tranquila; continua a haver poucos olhos na baliza; Kokçu mais influente
Vitória de indiscutível mérito do Benfica em Portimão. E esse é um facto que ganha maior relevância e importância, na medida em que a equipa de Robert Schmidt precisava de voltar a confiar em si própria, depois de uma traumática estreia na Champions e antes de receber, na Luz, o FC Porto.
Não foi, no entanto, a vitória fácil e totalmente tranquilizadora que poderia ter sido, se o Benfica tivesse matado o jogo quando devia. Depois de ter chegado, sem resistência, ao 2-0, apenas com 17 minutos de jogo decorridos, o Portimonense, que já era uma equipa perdida na dinâmica de ocupação de espaços do Benfica, assustou-se com a hipótese de sofrer um resultado penalizador e como que bloqueou o seu futebol de transição. Nesse período, até metade da primeira parte, o campeão nacional encontrou facilidades que não soube aproveitar, preferindo entreter-se num carrossel que parece divertido, mas que já provou ser pouco objetivo e, sobretudo, ter pouca baliza nos olhos.
Entretanto, o Portimonense ia acordando para a vida. Lentamente, sem grande rasgo e sem grande risco. Foi equilibrando o jogo, foi tendo mais bola e assim conseguiu suster o domínio adversário.
A surpresa alemã
Ao intervalo, Roger Schmidt decidiu fazer alterações significativas, que se justificavam por uma noção algo surpreendente de gestão de jogadores. Não é habitual esse conceito de poupança de jogadores nucleares na equipa, por parte do treinador alemão. Desta vez, Schmidt foi mais flexível e, talvez, mais pragmático, começando desde logo a pensar no jogo com o FC Porto. E foi nessa altura que se tornou até mais compreensível a inesperada ausência de Di María e a troca de António Silva por Morato. A verdade é que Schmidt deixou Kokçu (grande primeira parte), Musa e Bah na cabina, todos eles jogadores que tinham sido essenciais na exibição e no resultado e experimentou, enfim, Jurásek e Arthur Cabral, para além de João Neves.
Quatro minutos de pesadelo
O Portimonense também mudava, mas por motivos diferentes. Paulo Sérgio decidiu abrir o jogo, ganhou gente para o ataque e, sobretudo, ganhou uma outra dimensão exibicional e ainda outra ambição. Chegou ao golo, aos 56 minutos e, quatro minutos depois, teve clara hipótese do empate, que poderia ter mudado toda a história do jogo, num penálti que Trubin defendeu. Este terá sido o lance decisivo do jogo. Primeiro, porque deu uma alma nova ao guarda-redes do Benfica, que continuava comprometido com os erros do passado, e, depois, porque explicou ao Benfica que não podia adormecer e que era demasiado arriscado deixar o jogo partir-se, como se estava a partir.
Daí até final, o Benfica recuperou o domínio, voltou à tradição do seu carrossel vistoso, mas pouco objetivo, marcou um golo (Neres, aos 66 minutos) que mais descansou a equipa e podia ter marcado mais, se não continuasse a haver um claro défice de aproveitamento de oportunidades. Algo que toda uma segunda parte de Arthur Cabral não resolveu. Pelo contrário, o ponta de lança brasileiro mostrou-se aparentemente pesado e com pouca mobilidade para jogar em terrenos tão apertados e deu toda a razão a Roger Schmidt quando mostra uma clara preferência por Musa, que, além de ter vocação de golo, continua a ser um trabalhador incansável.
Está, então, este Benfica preparado e animado para o próximo jogo com o grande rival nortenho? Ninguém terá certezas de que sim ou de que não. No Algarve, o Benfica voltou a ter momentos muito altos e momentos de adormecimento e desconcentração, sobretudo no rigor de marcações. Não parece ser, ainda, uma equipa muito segura e consistente, mas apresenta outros sinais mais encorajadores. Por exemplo, há, claramente, uma subida de forma e de influência no jogo de Kokçu. Mas também existem zonas cinzentas na dúvida óbvia entre Florentino e João Neves.