Conheça a história de Romário Baldé: do penálti à Panenka ao êxito na China
Na carreira do avançado do Nantong Zhiyun há um antes e um depois daquele lance com o Shakhtar Donetk, em março de 2015, nos quartos de final da UEFA Youth League; formado no Benfica, encontrou, de novo, um clube e um treinador que lhe devolveram a alegria e o prazer do futebol
Tem nome de craque e nasceu no dia de Natal. Romário Baldé, 26 anos, avançado luso-guineense, tem contrato com o Nantong Zhiyun até final do ano e sente-se «acarinhado, feliz e realizado» na China, onde foi a principal figura do novel clube, com estádio em Rugao, e que cumpriu o primeiro ano na Superliga, tendo assegurado, apenas no último jogo, assinale-se, a permanência.
«Adoro o país e o clube, tem sido uma extraordinária experiência e a verdade é que, desde o primeiro dia, sinto-me amado por todos no Nantong Zhiyun e na cidade. Finalmente, voltei a encontrar um ambiente e as condições ideais para poder mostrar todo o meu futebol. Um pouco à imagem do que tinha vivido no Benfica», destaca Romário Baldé em exclusivo a A BOLA.
Com 31 jogos oficiais (29 para o campeonato e dois na Taça) na época de estreia na China, Romário Baldé – destro utilizado preferencialmente, desde os tempos da formação no Seixal, sobre o lado esquerdo do ataque – foi eleito MVP em 13 ocasiões, terminando a época com participação direta em nove finalizações (5 golos e 4 assistências) e um total de 2.645 minutos de competição, tendo sido o jogador mais utilizado pelo treinador português David Patrício e pelo espanhol Gabri.
Não surpreende, por isso, que ainda recentemente, David Patrício tenha enfatizado, em conversa com a A BOLA, que «Romário Baldé está para o Nantong Zhiyun como o Messi estava para o Barcelona de Guardiola», recordando que se tinha empenhado muito na contratação do jogador. «Estive sempre muito próximo dele e não tenho dúvidas de que conseguiu atingir aqui a sua melhor versão. Aliás, posso mesmo afirmar que não há nenhum extremo melhor do que ele a jogar na China. Foi extraordinário para o Nantong Zhiyun conseguir ter um jogador deste nível e queremos, naturalmente, mantê-lo na equipa. Em termos ofensivos criou um impacto muito grande e imediato», disse ainda, na ocasião, o técnico.
Proposta para continuar no Nantong Zhiyun
Romário Baldé reconhece que a decisão de transferir-se para o futebol chinês, depois de uma experiência na Tailândia, «foi a melhor» para a sua carreira. «O mister David Patrício explicou-me o que pretendia de mim, deu-me a responsabilidade de assumir um papel importante na equipa e senti-me na obrigação de retribuir e ajudar o clube a atingir os objetivos. Estou a ser valorizado, um pouco como quando joguei no Benfica. E, como se costuma dizer, gostamos de estar onde também sentimos que todos gostam de nós», reforça.
Também por isso, Romário Baldé admite continuar na China, apesar de as boas prestações ao longo da temporada terem proporcionado sondagens de outros campeonatos mais mediatizados. «Os adeptos na China têm sido incríveis, os estádios estão sempre praticamente cheios. E há qualidade no campeonato. Os jogadores chineses são muito bons e o campeonato continua a contar com estrangeiros também de grande nível. A Liga é muito boa e reúne todas as condições para continuar a crescer. Os estádios e os campos de treinos são de grande qualidade», destaca, numa fase em que está a negociar novo contrato. «Estamos a estudar o que vai ser o futuro mas é verdade que há uma proposta do Nantong. Posso dizer que sou muito feliz no Nantong e o clube e os adeptos estarão sempre no meu coração», reitera Romário Baldé.
Aquele jogo com o Shakhtar Donetsk em 2015
Mas é impossível falar da carreira de Romário Baldé e não voltar a 15 de março de 2015. E ao Benfica Campus, no Seixal, onde os sub-19 do Benfica jogavam com o Shakhtar Donetsk o acesso às meias-finais da UEFA Youth League.
Com o jogo empatado a um golo, o avançado que tinha chegado ao Benfica em 2008 e que já tinha conquistado os títulos nacionais de juvenis e juniores, teve no pé direito a oportunidade de adiantar os encarnados, num penálti que se transformou num dos mais caricatos ‘Panenkas’ falhados da história… Depois, no desempate por grandes penalidades, o conjunto ucraniano acabou para afastar a equipa liderada por João Tralhão da fase seguinte.
Um lance que, indelevelmente, marca a carreira do antigo internacional jovem português (18 internacionalizações entre os sub-17 e sub-20) e atual internacional AA pela Guiné Bissau (3 jogos oficiais). «Depois desse jogo, ainda renovei contrato com o Benfica. Por cinco épocas. O que prova que, internamente, sempre tive a confiança dos técnicos e responsáveis do clube. Mas admito que, para o exterior, esse momento tenha tido relevância», reconhece Romário Baldé que, pessoalmente, garante nunca se ter sentido condicionado em termos técnicos. «Nunca mais pensei nisso. Aliás, em praticamente todos os clubes por onde tenho passado, sou sempre um dos jogadores escolhidos para bater os penáltis. Se voltei a tentar à Panenka? Nos treinos, continuo a fazer alguns golos assim», assume.
À distância, Romário Baldé recorda com nostalgia os anos no Benfica e mostra-se orgulhoso das carreiras internacionais dos antigos colegas de equipa. «Fico muito feliz por eles e sinto que mantêm um grande carinho por mim. Às vezes, perguntam-me porque também não estou nesse patamar, se era um dos craques da equipa… Acredito que é o destino, foi o que Deus quis para mim e agradeço todos os dias pela oportunidade», vinca.
Os tempos com João Alves na Académica
A verdade é que, depois do ‘Panenka’ falhado, Romário Baldé saiu para ganhar experiência. Primeiro no Tondela, no escalão maior, com Rui Bento, Vítor Paneira e Petit como treinadores. Foram 26 jogos e dois golos, antes de voltar ao Seixal para mais uma época no Benfica B, sob as orientações de Hélder Cristóvão. Seguiu-se, em 2017, o Lechia Gdansk, da Polónia, antes de voltar a Portugal para representar a Académica, Gil Vicente e Leixões.
«Em alguns clubes, faltou-me mais apoio, sentir-me acarinhado e importante na equipa e no projeto. Acabava por ser apenas mais um, sentia que não era compreendido. Mas na Académica foi diferente, felizmente. Realizei uma boa época e contei com um treinador que me ajudou muito e sempre me apoiou. Não posso esquecer o mister João Alves, foi mais um pai para mim», realça Romário Baldé que, em todo o percurso, assume igualmente responsabilidades.
«As coisas nem sempre terão resultado também por minha culpa», reconhece Romário Baldé. «Vinha do Benfica, onde era acarinhado por todos e talvez não tenha sido devidamente valorizado», acrescenta a avançado que, antes da China e depois da Polónia, também jogou em Chipre e na Tailândia. «Os primeiros meses no Doxa foram incríveis. Estava a jogar muito e a marcar. Depois, no AEL Limassol, um grande clube, houve muita instabilidade e isso prejudicou a equipa. Na Tailândia, gostei muito do país mas o futebol não era tão atrativo», finaliza.