Como Lage meteu o Benfica nos eixos
Da comunicação à melhor utilização dos recursos, da melhor análise aos adversários à utilização de vários sistemas, treinador já colhe frutos do trabalho. Comparação com rivais pode animar adeptos
O Benfica arrancou o campeonato com uma derrota em Famalicão e, depois da vitória gorda sobre o FC Porto, por 4-1, no clássico de domingo, na Luz, parece estar de volta ao caminho certo. O caminho no campeonato, principal objetivo dos encarnados, é, pelo menos, imaculado — seis vitórias em seis jogos.
A entrada em falso do campeonato já parece distante. Foi uma espécie de nascimento torto da época. Roger Schmidt foi despedido depois de uma derrota, um empate e apenas duas vitórias em quatro jogos. Bruno Lage deu o primeiro treino no Seixal, apenas com seis jogadores do plantel principal, devido às ausências dos internacionais ao serviço das seleções, há dois meses e sete dias.
Muito mudou, desde então, e o treinador que voltou à Luz depois de uma primeira passagem na qual conduziu as águias à conquista do título de 2018/2019 está a endireitar as coisas. Desde logo no campeonato, com percurso imaculado.
Bruno Lage esforçou-se, de início, para convocar todos os benfiquistas, cansados de Roger Schmidt, para uma espécie de renascimento. Quis envolvê-los, apelou à união e falou de reações e vitórias à Benfica, confortando-lhes o ego. De nada valeriam as palavras, também reconheceu, se a equipa não correspondesse e puxasse por quem sempre a apoiou.
Sim, Lage não se pode queixar de falta de apoio. Só na Luz, por exemplo, desde que tomou conta da equipa, houve quatro assistências acima dos 60 mil — FC Porto (63.342), Atl. Madrid (62.028), Feyenoord (61.687) e Santa Clara (60.145) —, duas perto dos 60 mil — Rio Ave (58.961) Gil Vicente (58.865) — e uma, na Taça da Liga, perto dos 50 mil — Santa Clara (48.639).
Novo(s) sistema(s)
Se a comunicação contribuiu para reaproximar adeptos a equipa, a principal razão para que isso tenha acontecido, claro, nasceu no campo. E, aí, a diferença em relação a Roger Schmidt, fiel aos sistema tático de 4x2x3x1, é ainda maior. Lage introduziu o 4x3x3, mas também já recorreu ao 4x2x3x1, com dois médios interiores (Aursnes e Kokçu) mais vocacionados para tarefas ofensivas, e até aos sistema de três centrais, por exemplo, no final do jogo com o Farense ou com o Bayern.
A cuidada preparação dos jogos, que passa pela análise detalhada do adversário, está de mãos dadas à melhor utilização do recursos humanos — está a tirar mais proveito, entre outros, de Florentino, Kokçu ou Di María. O campeão do mundo argentino, como se viu no clássico, tem mais liberdade criativa e ao mesmo tempo a equipa está protegida das fragilidades defensivas que a sua utilização provoca. Promoveu Tomás Araújo, um dos jogadores em mais alto nível, Carreras floresce, Pavlidis, que sempre apoiou, começa a ser mais influente, para lá de chamar à competição Beste, Amdouni ou Renato Sanches.
Números não enganam
Desde a entrada de Lage, o Benfica, com menos um jogo que os rivais, soma 10 vitórias e duas derrotas em todas as provas. No mesmo período, o Sporting venceu 12 vezes e empatou uma, enquanto o FC Porto tem nove triunfos, um empate e três derrotas. Só no campeonato, o Benfica, como o Sporting, fizeram o pleno — seis e sete vitórias, respetivamente — já o FC Porto regista seis vitórias e uma derrota, na Luz.
Apesar de ter menos um jogo, o Benfica tem igual número de golos marcados que o Sporting (23), logo melhor média (3,8 golos por jogo contra 3,3 do Sporting), mas mais um sofrido (0,7 por jogo contra 0,4). Marcou mais cinco golos que o FC Porto, mesmo com menos um jogo.
O triunfo sobre o FC Porto reforça a convicção, na Luz, de que a época ainda poderá ser salva e que Lage meteu a equipa nos eixos. Mas todos estão conscientes da realidade. O Sporting continua com mais oito pontos e o FC Porto com mais dois, apesar de as águias ainda terem um jogo em atraso, com o Nacional.
Seis vitórias seguidas no campeonato
Seis das dez vitórias de Bruno Lage são para o campeonato — Santa Clara (4-1), Boavista (3-0), Gil Vicente (5-1), Rio Ave (5-0), Farense (2-1) e FC Porto (4-1). Na última época, Roger Schmidt conseguiu duas séries de sete triunfos seguidos, da segunda à oitava jornada e da 14.ª à 20.ª. O melhor de Bruno Lage foram 16 vitórias seguidas no campeonato na época 2019/2020. Nem isso lhe serviu para ficar até ao fim daquela temporada.
Três reviravoltas em seis jogos
Nem todos os jogos no campeonato começaram a correr bem ao Benfica. Em metade — contra Santa Clara, Gil Vicente e Farense — a equipa começou a perder. São três reviravoltas que atestam a resistência emocional desde que Lage tomou conta do plantel.
Akturkoglu é o rei dos marcadores
Kerem Akturkoglu é o melhor marcador com Bruno Lage. Soma oito golos, cinco dos quais no campeonato. Houve mais 14 marcadores nesse período. Di María (5 golos), Pavlidis (4), Kokçu (3), Carreras (2), Amdouni (2), Florentino (2), Beste (2) Schjelderup (1), Otamendi (1), Arthur Cabral (1), Rollheiser (1), António Silva (1), Alexander Bah (1) e Nehuén Pérez (1), este último, defesa-central do FC Porto, na própria baliza.
Nove golos sofridos em 12 jogos
Foram cinco os adversários que não marcaram ao Benfica — Rio Ave e Boavista no campeonato, Atl. Madrid na Liga dos Campeões, Pevidém na Taça de Portugal e Santa Clara na Taça da Liga. E os encarnados só não conseguiram marcar ao Bayern, em Munique, na quarta jornada da Liga dos Campeões, claramente o pior jogo com Bruno Lage. Anatoliy Trubin foi o guarda-redes titular em 11 dos 12 jogos de Bruno Lage. Samuel Soares foi utilizado no jogo da Taça de Portugal com o Pevidém. É a única presença esta época do guarda-redes internacional sub-21 português. Na temporada anterior jogou seis vezes.