Primeiro uma vantagem escassa e os falhanços do costume; depois foi São Trubin a segurar a vitória; alta intensidade deu final feliz
Quando uma equipa ganha por três golos de diferença, a tendência natural é pensar-se que teve um jogo fácil. Ora, não foi nada disso que aconteceu ao Benfica, que teve de batalhar muito para derrotar um excelente Famalicão, bem organizado e com intérpretes de qualidade, que esteve na Luz para, sem táticas suicidas, mas também sem qualquer autocarro, discutir o resultado com os campeões nacionais.
Sem os argentinos campeões do Mundo e com seis jogadores made in Seixal no onze inicial, Roger Schmidt apresentou o desenho tático do costume, com Tiago Gouveia a fazer de Di María e Tomás Araújo na vaga de Otamendi, entregando o ataque a Arthur Cabral, acolitado por Rafa. Porém, após uma entrada em grande estilo, com Tiago Gouveia e Rafa muito perto do golo nos minutos cinco e seis, o Benfica passou a viver quase exclusivamente de João Neves, que era a argamassa que Kokçu não conseguia ser, dava aos encarnados a intensidade que João Mário, demasiado refugiado no jogo interior, manifestamente não tinha, e ainda se arvorava em recuperador número um da equipa da Luz. E frente a jogadores de ótimo nível como Topic ou Youssouf, ajudados na criação de superioridade numérica a meio-campo por Gustavo Sá, a tarefa foi exigente.
O que conta o Benfica-Famalicão desta sexta-feira; João Neves foi fantástico a ligar a equipa, Rafa determinante; um bom Arthur Cabral e um ainda melhor Petar Musa
O Benfica, que teve em Tiago Gouveia, que fez um jogo de mais a menos, um agitador que se entendia bem com Rafa, foi perdendo agressividade e foi preciso uma genialidade de João Neves aos 31 minutos, que lançou Rafa para a assistência a Arthur Cabral (peçam-lhe para finalizar, não lhe peçam para ser Gonçalo Ramos, Tengstedt ou Musa, que não é capaz...) para colocar a equipa da casa em vantagem.
Guarda-redes e médio famalicenses adiaram o mais possível a vitória do Benfica no jogo de campeonato desta sexta-feira
Trubin ‘salvador da pátria’
O Benfica entrou mal na segunda parte, com vários passes falhados na zona central e intranquilizou-se. Os minhotos perceberam e depois de terem passado a primeira metade sem conseguir qualquer remate perigoso, começaram a ameaçar o empate, com Trubin, um muro na baliza, a salvar por três vezes o Benfica, a ver Chiquinho (60) reclamar, provavelmente com razão, uma grande penalidade de Tomás Araújo, e a contar com ajuda do poste num remate de Youssouf aos 72 minutos.
Avançado deu a entender que vai sair do Benfica
A tremelicar na defesa e sem ter clareza no aproveitamento de espaços que a subida dos famalicenses criou, Schmidt respondeu a uma tripla alteração de João Pedro Sousa (66), que deu mais presença ao ataque, com uma tentativa de reequilíbrio da sua equipa. Guedes, Florentino e Musa foram a jogo, demoraram algum tempo a carburar, mas acabaram por ser decisivos no engordar do resultado. Entretanto, a lesão de Aursnes que provocou a sua substituição por Jurasek, mexeu em todas as posições da defesa do Benfica, que acabou por coordenar-se bem.
Uma questão de intensidade
Então, o que trouxeram ao jogo os jogadores que Schmidt foi buscar ao banco? Florentino deu uma boa ajuda a João Neves, cada vez melhor, mais influente e com pilhas que parecem infindáveis, a carregar a equipa às costas nos momentos mais delicados, Musa foi o panzer que Arthur Cabral nunca há de ser, e aproveitou os espaços, e Guedes deu à equipa algo que faltou em muitos períodos da noite de ontem, especialmente em João Mário, que teve 90 minutos de futebol telegrafado: intensidade. E com um Benfica intenso, por um lado o Famalicãofoi abrindo espaços, por outro Rafa regressou ao jogo que mais gosta, rápido, vibrante e para a frente, e não para o lado. Quando o 27 do Benfica, que fez o jogo 300 de águia ao peito, marcou um golo de belo efeito (85) após trabalho de Guedes, Musa e João Mário, as dúvidas quanto ao vencedor cessaram.
Análise do treinador do Benfica na 'flash interview' da BTV
Finalmente o Benfica libertou-se e quis dar aos seus adeptos um resultado mais robusto, e em novo contra-ataque da dupla Rafa/Musa, o croata fez o 3-0 e só não voltou a marcar (90+4) por muito pouco. Em resumo, frente a uma equipa que irá fazer um bom campeonato, o Benfica voltou a dar-se mal quando quis jogar para o lado e entrar em tabelas (João Mário/Arthur Cabral) pelo centro da área, a zona mais povoada do campo, e desmantelou o adversário quando colocou os olhos na baliza de Luiz Júnior e se aproximou da intensidade colocada em campo por João Neves ao longo dos 90 minutos.
Treinador do Famalicão gostou da segunda parte da equipa, lamentou falta de eficácia, mas também deu mérito ao Benfica pela vitória