Carlos Borges: brilha no Ajax, cresceu no Sporting e quer acabar no Benfica
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Carlos Borges: brilha no Ajax, cresceu no Sporting e quer acabar no Benfica

INTERNACIONAL22.09.202315:03

Conheça a história do menino de Rio de Mouro, eleito melhor jogador da Premier League sub-21 e que deixou os leões com apenas 9 anos para rumar com os pais, naturais da Guiné-Bissau, para Inglaterra, onde se formou no Manchester City; hoje no Ajax, marcou e assistiu frente ao Marselha esta quinta-feira

Deixou este verão o Manchester City para assinar pelo Ajax, que pagou 14 milhões de euros por ele. Uma década após chegar a Inglaterra, para onde emigrou com apenas 9 anos na companhia dos pais, Carlos Borges, também conhecido como Forbs (apelido da mãe), voltou, assim, a mudar de casa. E de país. Para continuar a brilhar. 

Internacional pelas seleções jovens de Portugal, desde sub-16 aos sub-21, o extremo de 19 anos destacou-se esta quinta-feira com um golo (o seu primeiro pelo emblema dos Países Baixos) e uma assistência no jogo da Liga Europa entre o gigante neerlandês e o Marselha (3-3). O que lhe deu direito a estar nomeado para jogador da semana naquela competição europeia. O menino de Rio de Mouro, que um dia jogou no Sporting, mas que nunca escondeu o seu amor pelo Benfica, fez-se homem. E o céu é agora o limite…

E pensar que foi contrariado que, depois de ano e meio no Sporting, se mudou em 2014 de armas e bagagem para Leeds, na companhia do pai e de irmã mais velha. A mãe tinha ido seis meses antes em busca do trabalho que ia faltando em Portugal; a restante família foi mais tarde ao seu encontro.

«Eu não queria ir, tinha os meus amigos todos em Portugal, não queria mesmo nada deixar o meu país. Lembro-me que viajei com o meu pai – a minha mãe tinha ido seis meses antes – e que estava muito contrariado», confessou Carlos Borges, em entrevista ao podcast The Locker Room, em fevereiro passado.

Carlos Borges esteve quase 10 anos no Manchester City. D.R.

O pai, também Carlos, chegara com 16 anos a Portugal, onde conheceu a mulher com quem viveu na Póvoa de Santo Adrião, depois em Casal de Mira, na Amadora, e mais tarde na Serra de Minas, em Rio de Mouro (Sintra). Foi ali que Carlos Borges nasceu a 19 de março de 2004, preparava-se Portugal para receber o Europeu, dava Cristiano Ronaldo os primeiros passos no Manchester United e na Seleção Nacional.

Os primeiros pontapés numa bola deu-os na Serra de Minas e logo se destacou. Tinha um jeito natural e era rapidíssimo. Juntou-se com um grupo de amigos e inscreveram-se na equipa de futsal do Núcleo de Atividades Desportivas do Concelho Sintra. Até que um dia, um olheiro do Sporting que ia observar outro jogador reparou nele… Como Carlos Borges contou na conversa ao referido podcast.

O olheiro do Sporting ia ver outro jogador, mas depois viu-me e disse: Eu quero-o a ele. E apontou para mim

«Foi engraçado. O olheiro do Sporting ia ver outro jogador, mas depois viu-me e disse: Eu quero-o a ele. E apontou para mim. Depois telefonou ao meu pai e foi a minha casa. Acho que em 15 minutos ficou resolvido. Na altura fiquei contente, mas nada de especial. Ah, ok. Fixe. O meu pai é que estava mais nervoso do que eu», recordou o extremo de 19 anos, acrescentando: «Na escola foi diferente, porque os meus colegas eram tão bons quanto eu e todos queriam estar no meu lugar. Mas nada mudou na minha vida.»

Maior mudança foi mesmo a ida da família para Inglaterra. Para onde foi contrariado, como já mencionado. «Estava num clube grande e não queria mudar de país. Até porque não falava inglês. Lembro-me que, no aeroporto, uma senhora se virou para mim e disse: ‘It´s so hot today!’ Tive de perguntar à minha irmã o que ela tinha dito. E ela lá me disse: ‘Está muito calor hoje’…», relembra Carlos Borges, recordando que, perante a tristeza de deixar país e amigos, insistiu muito com os pais para que, pelo menos, o inscrevessem num clube.

Os pais acederam e, pouco depois de completar 10 anos, levaram-no até à escolinha do Manchester City em Leeds, cidade onde viviam. Chamou logo a atenção dos responsáveis técnicos e, em poucos dias, quiseram que integrasse as camadas jovens dos citizens no centro de estágios do clube nos arredores de Manchester, a 70 quilómetros de Leeds, ou seja, cerca de uma hora de carro.

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A ajuda do pai foi fundamental nessa fase. O jovem futebolista estava na escola até às 15 horas, seguindo depois para a academia do City, onde ficava das 18 às 20h, voltando depois para Leeds. E no dia seguinte era igual, e na outra semana mais do mesmo. «Foram sete anos para trás e para a frente», desabafa o extremo.

Até que, finalmente, surgiu o ansiado contrato. Que tudo mudou. Carlos Borges tinha 15 anos, tinha de mudar-se para Manchester e os pais não podiam deixar os empregos. Ficou, assim, numa família de acolhimento com ligações ao City durante ano e meio, até que os pais reorganizaram a vida e conseguiram, enfim, mudar-se para perto do local de treinos do filho.

Focado e decidido a ser um grande jogador de futebol, «como Cristiano Ronaldo», o miúdo de Rio de Mouro dedicou-se com afinco ao treino e foi sucessivamente sendo eleito o melhor do ano. Nos sub-18 do City marcou 13 golos e fez 19 assistências em 24 jogos e nos sub-19 somou 13 remates certeiros e 8 passes decisivos.

Até que, na temporada passada, se impôs como estrela maior da Premier League 2, uma espécie de Liga Revelação sub-21 de Inglaterra, na qual se sagrou campeão nacional, conquistando ainda os troféus de jogador do ano e de melhor marcador da competição com 21 golos. Juntando a este número os da Taça da categoria jovem, os totais de Carlos Borges em 2022/2023 impressionam: 25 golos e 11 assistências em 27 jogos! E Pep Guardiola, técnico da equipa principal, quis vê-lo em alguns treinos...

«O prémio de melhor do ano deixa-me orgulhoso. Passamos a fazer parte dos livros de história. É uma sensação top, agora é só aproveitar e divertir-me muito», disse aos canais oficiais do Manchester City, acrescentando: «Agora trata-se de continuar e fazer isto de novo na próxima temporada.»

A «próxima temporada», porém, já não é em Manchester. Sempre atento às jovens estrelas, o Ajax aceitou pagar 14 milhões e opção de recompra proposta pelo City para contratar o extremo de 19 anos. Que, ao quarto jogo como titular no gigante de Amesterdão, provou tamanha aposta dos neerlandeses, estreando-se a marcar e protagonizando uma assistência no primeiro jogo do Ajax no grupo B da Liga Europa frente ao Marselha (3-3).

«Disseram-me que estavam interessados em mim, explicaram-me o projeto, como iria encaixar na equipa. Contavam comigo e, como jogador, é isso que queres ouvir. Acho que é a mudança certa para mim», disse o jovem durante a apresentação como reforço do Ajax no início da agosto, aceitando dizer quem é o seu ídolo: «Cristiano Ronaldo! A mentalidade dele... Quer sempre mais, tem 38 anos e ainda continua ao mais alto nível. Definitivamente, é o meu ídolo.»

Cristiano Ronaldo é definitivamente o meu ídolo. A mentalidade dele... Quer sempre mais, tem 38 anos e ainda continua ao mais alto nível

Falando em Cristiano Ronaldo, vem à memória um momento que envolveu alguma polémica na época passada e que aconteceu no dérbi de Manchester em sub-21. Além de ter levado os adeptos à loucura com… quatro golos (!) na vitória do City frente ao United por 6-1 (ele que dois anos antes nos sub-18 já fizera um hat-trick num 5-1 igualmente contra os red devils e que na Youth League passada fez outro também num 5-1 em Sevilha), Carlos Borges celebrou o terceiro remate certeiro imitando a então celebração de CR7, com as duas mãos junto ao peito e dedos entrelaçados, em posição de sesta. 

Acharam que era provocação, o jovem tratou de esclarecer: «Eu adoro-o, é o meu ídolo, foi uma homenagem, mesmo sabendo que ele é uma lenda do United. Mas também é uma lenda do meu país.»

Representar o meu país é dos melhores sentimentos de sempre. Lembro-me de que na noite anterior não consegui dormir

E é com o sonho de seguir as pisadas do ídolo – quem o conhece garante que tem o quarto recheado de pósteres de CR7 – que Carlos Borges anseia chegar, precisamente, à Seleção principal, ele que nas equipas nacionais jovens soma 21 internacionalizações e 3 golos, destacando-se a recente presença no Europeu sub-19, no qual ajudou à caminhada de sonho de Portugal até à final, onde sofreria a única derrota na prova, diante de Itália (0-1), depois de, na fase de grupos, ter vencido Polónia (2-0), a mesma Itália (5-1) e Malta (2-1) e de ter afastado a Noruega (5-0) nas meias finais. Carlos Borges foi titular em quatro jogos (e suplente utilizado num) da fase final em Malta, contribuindo com um golo e uma assistência. 

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Ainda na referida entrevista ao podcast The Locker Room, o extremo esquerdo de 19 anos, canhoto, fala do que sentiu no dia em que foi chamado pela primeira vez às seleções de Portugal. «Foi um dos melhores momentos na minha vida. Representar o meu país é dos melhores sentimentos de sempre. Lembro-me de que na noite anterior não consegui dormir. E esse sentimento continua hoje, porque representar Portugal nunca está cem por cento garantido. Tenho de trabalhar sempre para merecer ser chamado. Também podia jogar pela Guiné-Bissau, mas foi Portugal que esteve sempre na minha cabeça», contou Carlos Borges, antes de falar um pouco dos gostos pessoais.

«Tomo duas vezes o pequeno-almoço, uma quando acordo, pelas 8 horas da manhã, e outra pela 9 h quando chego ao clube. Prato preferido? Bacalhau com natas. Quanto ao estilo de música, o meu favorito é kizomba e o cantor de que mais gosto é Edgar Domingos. A série que levava para uma ilha deserta seria o Prison Break», revelou Carlos Borges.

A fechar a entrevista, a derradeira confissão, sobre o clube do coração: «Sempre apoiei o Benfica. Naquela altura [em que jogava no Sporting] gostava muito do Luisão, por ser um líder, e do Cardozo, por ser um ponta de lança de topo. Se gostava de jogar no Benfica nesta altura? Nesta altura o meu clube de sonho é o Manchester City [onde se encontrava na altura da entrevista em fevereiro de 2023]. Mas gostava de um dia me retirar no Benfica.»