«Bruno Fernandes fez apuramento espetacular, é um líder»
Roberto Martínez [foto A BOLA]

Roberto Martínez «Bruno Fernandes fez apuramento espetacular, é um líder»

FUTEBOL29.01.202403:00

Entrevista a Roberto Martínez. PARTE III

No passado, houve uma altura em que o Fernando Santos estava a puxar o Bernardo Silva mais para o meio. Agora, por aquilo que eu vejo, o Bernardo, e ele já disse que se sentia bem também nesse papel, está a puxá-lo mais para a direita e o Bruno normalmente joga com outro médio. O que é que o levou, o que é que viu na globalidade da seleção que o levou por esse caminho e inverter o sentido?  

Eu acho que para ter ataques mais lentos, para ter mais posse de bola, precisamos de largura. É um conceito de senso comum. E para nós, ter um jogador como o Bernardo Silva, que tem uma capacidade de apreciar o espaço, dá-nos muita boa ligação na ala direita, porque, com o pé esquerdo, entra e abre caminhos. Mas é uma estratégia.

Ele próprio falou nisso na entrevista que deu a A Bola, quando foi figura do ano do nosso jornal, de que, para ele, é obviamente diferente quando joga com o Bruno Fernandes. Esta ligação foi falada, o Roberto falou com eles, para perceber como é que a ligação podia ser melhorada?

Não, eu acho que precisamos de trabalhar os 10 jogadores no relvado. Não é uma ligação de um ou dois jogadores. Eu acho que é muito importante para nós utilizar os jogadores da melhor forma para poder mostrar o que eles podem fazer. Eu acho que o Bruno Fernandes teve um apuramento espetacular. 

Acha que ele se sente mais líder em campo, por exemplo?

O Bruno é um líder. Tem muita liderança. Mas eu acho que o respeito entre os jogadores permite ter uma felicidade no relvado. Nós precisamos de 5 ou 6 jogadores que tenham liderança. Eu acho que em relação ao que o adversário está a propor, podemos utilizar o Bruno, podemos utilizar o Bernardo, em situações totalmente diferentes. E isso é importante para a nossa flexibilidade tática que estamos a falar. Se não temos os jogadores para poder executar isso, não faz sentido. 

Quanto à sua liderança, eu vejo que é alguém que se prepara muito bem, até quando fala com a comunicação social. Veio preparado logo para falar português. Como é que se descreve como líder? 

Eu acho que líder é uma palavra que precisa de ser “ganhada”. O líder, quando há uma contratação, o líder é o selecionador. Mas depois, eu acho que o respeito é mais importante do que a liderança. O respeito é conseguido com trabalho, com muita honestidade, com muita responsabilidade. E eu acho que, durante as minhas experiências no balneário, eu formei a minha forma de tentar trabalhar grupos. 

O facto de ter sido capitão de equipa, que foi, nos clubes que passou, influenciou ou foi algo natural ou foi algo que foi trabalhando? 

Influenciou, mas eu acho que há muitas formas de liderança. Não há formas corretas ou incorretas. Não há, mas eu acredito que a liderança pela inspiração, a aspiração do jogador é a melhor liderança. Se nós podemos ajudar um jogador a conseguir os objetivos que ele tem na dinâmica da equipa, alinhar os objetivos, é a melhor forma de liderança. Porque uma liderança em que o jogador está a fazer o que o líder quer quando estão juntos, são duas horas do dia. A liderança da aspiração é durante 24 horas do dia e tem muito mais sentido. 

Mas num exemplo prático, e felizmente para a seleção, não têm tido muitos problemas, não tem tido que ultrapassar dificuldades a meio do jogo, mas recorda-me, por exemplo, no jogo com o Japão [no Mundial 2018, pela Bélgica]. Como é que foi a sua liderança ao intervalo? O que é que disse ao intervalo? Foi um Roberto mais emocional, ou mais tático, ou ajusta-se à situação? 

Ajusta-se à situação. O treinador precisa de ter sempre uma tranquilidade emocional. Eu acho que quando não podemos controlar as emoções, não podemos ajudar os jogadores. O jogo do Mundial contra o Japão, precisávamos de trocar taticamente. 

Falou em termos táticos, não chegou ao intervalo e teve um discurso emocional nesse dia.

Eu acho que o discurso emocional nunca é preparado. É instintivo. Eu acho que cria-se relações com os jogadores e quando um jogador não está a dar tudo, há uma relação emocional. Mas quando um jogador está a dar tudo e o adversário está melhor, precisa de uma solução tática. É por isso que nós precisamos de ter essas soluções preparadas.