Braga é onde o Benfica está há mais tempo sem vencer
Nem Dragão nem Alvalade: piores memórias recentes vêm do Minho; primeira derrota de Schmidt pelas águias foi na 'pedreira'
Longe vão os tempos em que uma deslocação do Benfica a Braga era encarada como uma festa para os adeptos das águias daquela cidade, conhecida como o maior bastião de benfiquismo do Norte.
Uma das grandes conquistas da era António Salvador foi a descolagem do seu clube, do ponto de vista social e desportivo, aos encarnados da capital, a ponto de o Municipal de Braga representar, atualmente, o estádio que proporciona as piores memórias recentes do Benfica: a pedreira é o palco onde os campeões nacionais estão há mais tempo sem vencer.
Nem Dragão, nem Alvalade, nem mesmo Guimarães. De todos os recintos cujos clubes estão há pelo menos três temporadas consecutivas no escalão principal, o o bracarense é aquele que obriga a recuar mais no tempo até encontrar um triunfo benfiquista: 21 de março de 2021, à data sob o comando de Jorge Jesus.
De lá para cá foram três os jogos e todos com o mesmo desfecho: 2-3 a 1 de abril de 2022, 0-3 a 30 de dezembro de 2022 e 4-5 nos penáltis após 1-1 nos 120 minutos para os quartos de final da Taça de Portugal, a 9 de fevereiro de 2023. Nenhum outro clube nacional venceu o Benfica nas últimas três vezes que o recebeu.
O 'caso' Enzo Fernández
Duas destas três derrotas deram-se com Roger Schmidt, treinador que perdeu pela primeira vez em Portugal na casa minhota. Foi há praticamente um ano, numa partida marcada pelo caso Enzo Fernández: vindo de um Mundial extraordinário, ganhando a prova ao serviço da Argentina e eleito o melhor jogador jovem da competição, já tinha recebido a proposta do Chelsea e pediu para não se juntar à equipa na viagem.
Rui Costa foi obrigado a intervir, lembrando-o de que a transferência não estava consumada e recordando-o da importância do jogo, pelo adversário em causa. Roger Schmidt transmitiu ao argentino mensagem semelhante e o médio contratado ao River Plate no verão anterior foi convocado e titular. O desempenho, porém, foi bastante fraco, contagiando a equipa, vendo o adversário marcar três golos sem qualquer resposta do líder da Liga — e o resto da história é conhecida: Enzo Fernández foi transferido para Londres em janeiro, com os blues a pagarem €121 milhões pelo seu passe.
Números de um grande
Desde que António Salvador assumiu a presidência do SC Braga, em fevereiro de 2003, o clube transformou-se, foi galgando patamares e apresenta-se hoje como um candidato assumido ao título. O histórico de confrontos em casa frente aos encarnados nos últimos 20 anos revelam a tendência de crescimento, embora com a balança ainda a pender para o adversário: 10 vitórias para o Benfica, oito para o SC Braga e cinco empates. No mesmo período temporal, o histórico de visitas dos benfiquistas a Alvalade, por exemplo, não é muito diferente: 9 vitórias do Benfica, 8 vitórias do Sporting e sete empates (nas visitas ao Dragão o cenário é outro: 5 triunfos do Benfica, 12 do FC Porto e sete empates). A leitura pode ser feita ainda de outra forma: até 2003 a percentagem de vitórias das águias em Braga era de 56 por cento, de lá para cá baixou para 43,5.
O jogo mais polémico
As três derrotas consecutivas do Benfica no Municipal de Braga inventaram o melhor ciclo de triunfos dos lisboetas nas duas últimas décadas, quando somaram seis vitórias entre 2015 e 2021 que contrastaram com episódios marcantes num dos estádios criados para o Euro-2004 —_três deles se destacam, e ambos a favor da equipa da casa: triunfo na meia-final da Liga Europa, em 2011, que permitiu a passagem à final com o FC Porto em Dublin (os azuis e brancos venceram-na, por 1-0); vitória por 2-0 em 2009, numa época em que os arsenalistas disputaram o título com as águias até à ultima jornada; triunfo por 2-1 em 2011, provavelmente o jogo mais polémico entre as duas equipas e que serviu para confirmar, definitivamente, a emancipação dos minhotos face ao clube por quem tantos adeptos locais suspiravam. O SC Braga assumia-se como um rival do século XXI.