Médio não quis mudar as rotinas após a morte da mãe e comunicou-o a Schmidt; manter-se em campo foi uma forma de encontrar a paz possível; lágrimas no final da partida tiveram um impacto tremendo, tocando tudo e todos
João Neves foi igual a ele próprio. Mesmo num momento de dor profunda, o facto de ter representado o Benfica em França quatro dias após a morte da mãe não surpreendeu quem lida com ele de mais perto.
Tal como afirmou o treinador Roger Schmidt, o médio teve sempre a liberdade de tomar a decisão de ficar em Portugal, viajar e não jogar ou viajar e manter o seu lugar no onze, ao que o número 87 respondeu logo nas primeiras conversas possíveis sobre o tema de que queria fazer tudo exatamente igual.
A maturidade que todos lhe identificam ficou mais uma vez vincada na quarta-feira, no treino após a folga de véspera do plantel, que coincidiu com o funeral da progenitora, em Tavira: João Neves comunicou à estrutura encarnada de que pretendia manter as rotinas e fazer o que tão bem sabe.
Isso foi o suficiente para o alemão não mudar os planos para a segunda mão do play-off de acesso aos oitavos de final da Liga Europa. O técnico confia cegamente no instinto do internacional português e o jogo comprovou-o: manteve a concentração e determinação de sempre e foi, como é hábito, um dos melhores da equipa, atrás de Trubin.
Médio do Benfica perdeu a mãe na segunda-feira, vítima de doença prolongada, e foi titular (cumprindo os 90 minutos) em Toulouse, no jogo que valeu o apuramento para os 'oitavos' da Liga Europa
Jogar foi uma maneira de encontrar a paz, tal como foi confidenciado a A BOLA. E o futebolista sentiu-se de certa forma protegido por todos, desde o presidente Rui Costa aos colegas, passado pelo técnico e staff. O amparo possível antes e durante os acontecimentos.
Mas concluída a partida deu-se a descarga emocional. O escudo caiu e soltaram-se as lágrimas do menino feito homem, enquanto ouvia os mais de mil adeptos do Benfica cantarem o nome dele em Toulouse. Esse momento revelou outra característica de João Neves: a sua pureza, sem problema algum em exibir publicamente o sentimento de uma perda brutal.
Aqueles longos segundos no relvado, aplaudindo e sendo aplaudido, à medida que era confortado por António Silva (que também perdeu o avô), Tiago Gouveia e até pelo técnico adversário, o espanhol Carles Martínez, são imagens cujo poder dispensam palavras e que chegam ao fundo do coração de todos.
O vídeo publicado pelo Benfica nas redes sociais com esse momento e a legenda obrigado teve um impacto tremendo. À hora da produção deste artigo o reel no Instagram superava os 8,3 milhões de visualizações e mais de 325 mil likes, além das 515 mil visualizações no TikTok, 40 mil likes no Facebook e 19 mil no X.
Médio estava visivelmente emocionado no final do encontro contra o Toulouse
O próprio futebolista (e ninguém por ele) usou esse curto vídeo para fazer uma story no Instagram, na comunhão possível num período de vida tão sensível. Dos muitos comentários feitos por colegas, destacou-se o de João Cancelo, também ele obrigado a despedir-se da mãe em idade muito jovem. «Estes putos são especiais, dentro e fora do campo», escreveu o atual jogador do Barcelona, comentando uma fotografia de João Neves e António Silva.