Supertaça Benfica-FC Porto: a crónica
Velhinho medo cénico expurgado a pontapé
FC Porto dominou na primeira meia hora. Benfica sacudiu a poeira e arrancou uma hora muito boa e com belos golos. Final ‘à sul-americana’ com Conceição em destaque pela negativa
Talvez pudesse esta crónica começar pelo indecoroso final de jogo, mas deixemos o mau para o fim e o verdadeiramente importante para o início. O Benfica mereceu regressar a casa com o primeiro troféu da época, fazendo com que o FC Porto parecesse, em todo o segundo tempo e na parte final do primeiro, uma espécie de sparring-partner. Ou seja, aquele parceiro que ajuda, nos treinos, o pugilista a sério. Se os dragões tiveram meia hora inicial de quase esplendor, empurrando todas as águias para bem perto da área de Vlachodimos, não lhes permitindo quase nenhuma saída de bola, a partir daí tudo mudou.
Os encarnados sacudiram, então, dos ombros o velho medo cénico que se diz aparecer sempre que jogam com os azuis, pegaram na bola e partiram para uma hora (15+45 minutos) de estrondo, em que reduziram quase a cinzas o adversário. O primeiro golo apareceu num grande trabalho de Kokçu e Di María, com erro inicial de Pepê e erro final de Diogo Costa. Percebeu-se aí que o jogo estava ganho e que a Supertaça voaria para o museu do Benfica.
Surpresas Musa e Namaso
Regressemos ao minuto zero e aos onzes iniciais que, sejamos sinceros, poucos esperariam. Schmidt apenas três vezes, nos 55 jogos da época passada, jogara sem ponta de lança e mesmos nesses aparecera Gonçalo Guedes a fazer a posição. Já sem Gonçalo Ramos, o alemão abdicou de jogar com um 9 puro e colocou Rafa como avançado mais perto de ser 9 sem que fosse mesmo 9. E fez entrar João Neves para o miolo. Conceição, por seu turno, surpreendeu com Namaso no lugar que, em teoria, seria de Toni Martínez.
Dir-se-ia que Sérgio Conceição entrou a ganhar, pois o Benfica parecia estranhar a ausência na frente de um homem mais fixo e o FC Porto assimilava bem a troca Toni Martínez/Namaso. E a primeira meia hora, com Galeno endiabrado na esquerda e Pepê a partir de trás para fazer de médio-ala e, por vezes, quase de médio-centro, pertenceu quase na totalidade aos dragões. Concluir os primeiros 30 minutos sem golos sofridos acabou por ser ótimo para os encarnados, embora não tenha havido qualquer oportunidade do outro mundo por parte do FC Porto. Mais do que poder dos dragões, era a confirmação de que reaparecera o velho medo cénico, aquela figura de estilo que nos diz que os jogadores do Benfica se apavoram quando defrontam o FC Porto.
Era, porém, erro de análise de quem via o jogo de fora. Por volta da meia hora, por motivos inexplicáveis, tudo começou a inverter-se. A primeira sacudidela no tal medo cénico surgiu do pé de Kokçu, que obrigou Diogo Costa a defesa segura, sim, mas não simples. Até ao intervalo, realce ainda para uma fuga de Rafa mal avaliada por um dos auxiliares de Luís Godinho, que deveria ter deixado concluir-se a jogada e só depois, então sim, assinalar o eventual fora de jogo.
Roger Schmidt mexeu ao intervalo e mexeu muito bem: Ristic por Jurásek e, sobretudo, João Mário por Musa. O Benfica terminara o primeiro tempo por cima do adversário, iniciou o segundo ainda mais por cima e assim prosseguiu quase até final. Faltava apenas um golpe de asa, um daqueles momentos que transformam um jogo equilibrado num jogo desnivelado. Erro de Pepê, recuperação de Kokçu, golaço de Di María (com demasiado estilo de Diogo Costa e escassa eficácia); pouco depois, Rafa foge pela direita, abre em Musa, que faz o 2-0. Benfica, 2-FC Porto, 0? Ou Schmidt, 2-Conceição, 0? Os dois. A Supertaça estava, pois, quase no bolso encarnado, mas o quase passou a definitivo quando, sem grande espanto, sejamos sinceros, Pepe foi expulso após entrada à Pepe sobre Jurásek.
Falemos, então, do tal indecoroso final. Lance a meio-campo, Luís Godinho assinala falta a favor do Benfica, Sérgio Conceição discorda de forma exalta, manda o árbitro pró c*** e vê o cartão vermelho. Insolitamente, o treinador do FC Porto recusa-se a sair de campo.
Godinho pede a Marcano (capitão após a saída de Pepe) para comunicar a Conceição que tem mesmo de sair. Não sai. A polícia é chamada, mas não chega a entrar em ação, pois após demasiados minutos do árbitro a dizer ao treinador do FC Porto que tem de sair, Conceição lá aceita a decisão e sai. Indecoroso.
O árbitro - LUÍS GODINHO (nota 6)
Demasiado rígido disciplinarmente de início, teve de baixar depois o rigor na amostragem de cartões amarelos. Porém, esteve muito bem nos lances essenciais: justíssimas expulsões de Pepe e Sérgio Conceição e golo bem anulado a Galeno. E muita coragem/serenidade para lidar com a atitude do treinador do FC Porto, ao não querer sair de campo após ter sido expulso.
Melhor em campo A BOLA - João Neves (Benfica)