Bruno Lage, um treinador em missão
Bruno Lage no Benfica, em janeiro de 2020. Foto: RUI RAIMUNDO

Bruno Lage, um treinador em missão

NACIONAL05.09.202408:00

O Benfica não precisa apenas de um treinador competente. Precisa de sarar.

Bruno Lage vai voltar a uma casa onde gosta de estar. Esse é o primeiro ponto do regresso do treinador ao Benfica. Ninguém duvida de que o técnico campeão em 2018/19 é benfiquista. Obviamente, isso só por si não quer dizer nada a nível de competência, mas pode ser fundamental pelo momento que o clube vive.

O Benfica não precisa apenas de um treinador competente. Precisa de sarar. A relação entre o banco de suplentes e a bancada ficou quebrada com Schmidt. Pelo facto de conhecer o sentimento encarnado, Bruno Lage estará mais próximo da terapêutica necessária. Acredito que o técnico de Setúbal nunca diria coisas que Schmidt dissera – e eu até acho que em certos pontos o alemão tinha razão -, precisamente por saber bem como reage o «Terceiro Anel».

Dificilmente um treinador é consensual. Bruno Lage no Benfica também não o será. Mas há treinadores e lugares, ou seja clubes, que quando se juntam mudam um e outro. Para melhor, isto é. Porque fazem sentido só ali e não noutro lado. E o Benfica, na sua história, até tem exemplos: Toni é um deles. É isso que a nação encarnada espera, é isso que Rui Costa aposta também. Tem de haver um apelo ao coração dos adeptos, de união em torno de um espírito de missão: como foi a denominada Reconquista.

O Benfica tem problemas maiores, daí também a necessidade de restruturação na SAD. Esses não são responsabilidade de Bruno Lage resolver. Embora todos saibamos como pode ajudar. Ainda assim, e já o disse e repito, nenhum presidente deve ser avaliado apenas pelos resultados em campo, sejam eles maus ou bons.

Voltando a Lage. Ser benfiquista, dizia, é apenas uma parte da equação. Mas o treinador que será confirmado na Luz tem, também, algo que poucos têm no currículo. Já aqui esteve, nesta situação. Ou seja, soube o que fez na altura, sabe que erros terá cometido também. E essa experiência pode alterar muito o resultado final.

Há uma velha teoria que questiona: a empresa A foi contratada para fazer o trabalho. E falhou. O contratante desistiu do projeto. Mas tempos mais tarde, quis voltar a ele. Podia contratar a tal empresa A ou ir por uma nova nesse desafio. Quem contrataria? A empresa A que já sabe por onde não ir ou a B, que não falhou como a A, mas que pode perfeitamente cometer os mesmos erros que a A e, assim, perder-se tempo ou toda a empreitada?

Não sei se Lage vai conseguir dar a volta ao futebol do Benfica, sei que há argumentos válidos para os dois lados. Para os que acreditam que não, e para os que acreditam que sim. Bruno Lage tem uma missão: convencer os primeiros e uni-los aos segundos.

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