AVS a fundo, mas sem derrapagens rumo à Liga
John Mercado e Aursnes disputam a bola (Imagem: AVS)

REPORTAGEM AVS a fundo, mas sem derrapagens rumo à Liga

NACIONAL25.03.202409:17

O AVS, segundo classificado da Liga, espera ser, em breve, oficializado como o clube da Vila das Aves, uma vez que na sua génese está o Vilafranquense.

O AVS não tem nem um ano de vida - foi fundado em 05 de maio de 2023 – e o clube de Vila Franca de Xira, instalado na Vila das Aves, está já na corrida para se juntar aos grandes do futebol português. A história pode parecer confusa, mas nas palavras do diretor geral do clube a solução foi mais simples do que possa parecer.

«Esta reestruturação veio da União Vilafranquense Futebol SAD, por via da compra dos 10% que detinha do clube e que acabou por ficar com 100% da SAD, mudando posteriormente a sua denominação para AVS Futebol SAD, usando a sigla AFS de AVS Futebol SAD. Necessitávamos de uma casa para morar, uma vez que não era possível mantermos a situação em que estávamos [continuar em Vila Franca de Xira] e a solução passou pelo aluguer das instalações na Vila das Aves, uma vila que ama o futebol e que não tinha futebol profissional após a extinção do Clube Desportivo das Aves, há já quatro anos. Viemos trazer novamente essa alegria à vila e estamos muito contentes com esta decisão, prestes a fazer um ano», contou-nos Miguel Socorro, o homem-forte do AVS que, à entrada para as oito jornadas restantes da Liga 2, ocupa o segundo lugar na tabela, em igualdade pontual com o líder Santa Clara. Na Vila das Aves, a promoção à Liga está perto.

«Com a vinda para cá, acabou por ser tudo muito rápido, quer a mudança de infraestruturas, implicando trazer um clube a 300 quilómetros a norte, quer em termos de recursos humanos. Tínhamos consciência de que poderíamos fazer uma boa campanha. Agora, depois de uma época inteira nos lugares cimeiros e a faltar poucas jornadas, lógico que vemos esse cenário como hipótese».

O AVS não é o único clube a jogar fora da sua terra-natal. O LANK Vilaverdense, também da Liga 2, joga no Estádio Cidade de Coimbra e o Casa Pia (Liga) no Estádio Municipal de Rio Maior. Miguel Socorro explicou-nos que «95% dos recursos humanos» são da região, sendo que apenas os outros 5% vieram de Vila Franca de Xira.

«Já fizemos obras no estádio, fizemos uma parceria com os Bombeiros Voluntários de Vila das Aves e a construção de um novo centro de treinos. Estamos também em negociações com a Junta de Freguesia para um protocolo que nos permita aumentar esse espaço [centro de treinos], porque estamos a fazer uma grande aposta a nível de infraestruturas de forma a acompanhar a nossa evolução».

Jogadores do AVS (Imagem: instagram/AVS)

Miguel Socorro tem um historial de sucesso em reestruturação de clubes. O dirigente esteve envolvido na modernização do Paços de Ferreira em 2013/14, época em que os castores chegaram à Liga dos Campeões. Depois de dez anos na Capital do Móvel, mudou-se para o Vilafranquense, agora extinto, e liderou na criação do AVS, ao lado do presidente da SAD, Henrique Sereno, antigo jogador do FC Porto e Vitória de Guimarães.

O dirigente, natural de Paços de Ferreira, lamenta a falta de apoio por parte do município de Vila Franca de Xira na salvação do Vilafranquense, mais por acreditar que o desporto é essencial no desenvolvimento social de uma cidade/vila, principalmente para os mais novos.

«É mais uma etapa, portanto, estamos completamente focados em continuar na Vila das Aves e é isso que vamos continuar a fazer: potenciar o AVS e o desporto na vila e solidificar a nossa postura a nível do futebol profissional. A imagem que fica é de uma SAD séria e cumpridora e que está aqui para dignificar a modalidade, com grande foco ao nível de formação, importante para o desenvolvimento social da região. Estamos a fazer um trabalho de base que nos permita dentro de três ou quatro anos estar perfeitamente solidificados no futebol nacional».

No Vilafranquense, Miguel Socorro foi o responsável pela contratação do treinador Rui Borges – atualmente no sexto lugar da Liga ao serviço do Moreirense – e agora de Jorge Costa na equipa do Aves.

«Quer a nível de jogadores como de equipa técnica, estamos muito satisfeitos. Se conseguirmos o objetivo da promoção à Liga, vamos ter que conversar entre todos e melhorar o nosso plantel. Há jogadores que terminam contrato, outros que se vão valorizar e poderão atingir patamares maiores, é o normal. Estamos perfeitamente preparados para qualquer um dos cenários portanto para a manutenção na segunda liga quer para uma eventual subida de divisão».

«Benfica é um grande clube», diz John 'Toretto' Mercado

21 jogadores do Vilafranquense transitaram para o AVS, entre eles o equatoriano John Mercado, que saltou para a ribalta após um golaço marcado ao Benfica na Taça da Liga esta época.

«Tem sido um trabalho de muito sacrifício de uma longa temporada. Continuaremos a trabalhar para melhorar a cada dia até ao último», conta-nos o avançado de 21 anos.

Mercado festeja o golo na Luz. Imagem: AVS

Mercado partilha o ataque do AVS com um jogador muito experiente, Nenê, de 40 anos, explicando que é possível encontrar o ponto de equilíbrio entre a irreverência da jovialidade e a sensatez da experiência.

«Falamos muito acerca disso, ele brinca com a nossa diferença de idade mas tem-me apoiado imenso de forma a evoluir. A idade é o que é e não há forma de o contornar».

O jogador tem contrato - renovou em dezembro passado - até junho de 2027, mas os contratos, por vezes, não são cumpridos até ao fim e o AVS poderá ser o trampolim para saltos mais altos, até porque na direção do clube acredita-se que o atleta que também passou pelo Athletico Paranaense poderia jogar em muitas das atuais equipas da primeira divisão em Portugal.

«Trabalho para melhorar enquanto jogador e para ajudar a equipa. O mais importante agora é trabalhar muito até o final da temporada para sermos bem-sucedidos».

John Mercado, que se destaca pelo seu ataque em profundidade nas laterais, não tem dúvidas em afirmar que o Benfica é «a melhor equipa de Portugal», contra a qual marcou um grande golo ainda esta temporada, na fase de grupos da Taça da Liga.

Recentemente, o avançado equatoriano marcou outro golo que deu muito nas vistas, de trivela contra o Académico de Viseu, merecendo elogios por parte de Ricardo Quaresma, o ‘rei das trivelas’, nas redes sociais: «É um grande golo. Os meus eram melhores, mas este está muito bom», disse o antigo internacional português.

No balneário do AVS, o jovem atleta é conhecido como ‘Toretto’, em alusão à personagem interpretada por Vin Diesel na saga cinematográfica Velocidade Furiosa. Ao que parece, essa velocidade está mais relacionada com as boleias aos companheiros do que a que imprime nos jogos, que também é muita.

Mas já que falamos em velocidade, também quisemos saber qual foi o defesa que o deixou mais furiosa esta temporada. A resposta é… Miguel Bandarra, lateral-direito do Académico de Viseu.

O grande coração de um clube continua a ser o apoio dos adeptos, eles que enfrentam distâncias, derrotas e desilusões. Muitos dos adeptos do AVS adotaram este novo clube depois do Clube Desportivo das Aves se ter desintegrado.

«Acho que eles sentem o clube igual, como era o antigo clube que jogava e treinava aqui. Entendo que possa haver alguma resiliência, ainda fruto desta transformação e desta mudança, mas estamos cá nós para colocar o futebol – e quiçá outras modalidades - na Vila das Aves, além de um trabalho junto das escolas. Penso que, mais cedo ou mais tarde, vai dar frutos e vamos ser oficialmente o clube de Vila das Aves», apelou, a terminar, Miguel Socorro.