Jéssica Silva, jogadora do Benfica e da seleção nacional, recorda o último Mundial feminino
Pela seleção, é histórico para Portugal a presença no Mundial da Nova Zelândia. O que ficou de tudo o que viveste lá?
Se eu me for a focar naquilo que aconteceu dentro das quatro linhas, fica o jogo que nós empatámos contra os Estados Unidos e fomos a achar que podíamos ganhar. Se calhar muitos portugueses não achavam, mas nós fomos para esse jogo a assumir que podíamos vencer. Mas, não tirando relevância àquilo que se passou dentro das quatro linhas, para mim foi marcante o impacto que este Mundial teve nos portugueses. O impacto que teve nas miúdas que viram o Mundial. Miúdas e miúdos. Todo este carinho, toda esta atenção que as pessoas passaram a dar ao futebol feminino, à seleção nacional. Tenho a certeza de que os olhos que nos viram antes do Mundial não são os mesmos olhos que nos viram depois do Mundial. Acho que isso é a nossa maior conquista. Ganhámos um espaço diferente, subimos mais um degrau e isso deixa-me bastante orgulhosa porque há cinco ou seis anos era impensável ter tanta gente, tantos portugueses a apoiar o futebol feminino. Tanta gente a querer o bem da seleção nacional. Isso, para mim, foi a maior conquista.
Aquela tua imagem a cantar o hino de lágrimas nos olhos vai ficar como um dos grandes momentos.
Ainda hoje me emociono porque foi o primeiro Mundial. Eu quando comecei a jogar futebol, mesmo profissionalmente, era difícil imaginar jogar num Mundial. Eu não consigo sonhar em ganhar o Mundial, mas eu sei que dei um passo para que as novas gerações, estas meninas incríveis que estão a aparecer, possam estar mais próximas de sonhar em ganhar o Mundial. E ter estado neste Mundial é especial porque, lá está, é um momento que acaba por condecorar não só as jogadoras que lá estiveram, mas todas aquelas que abriram portas para que nós pudéssemos sonhar. Por isso, foi um momento muito emotivo, foi ali um misto de sensações, porque foi um dos momentos mais altos da minha carreira, sem dúvida.
Falavas aí de o olhar dos portugueses agora ser diferente, mas este Mundial também quebrou aqui outra barreira com a questão do que se passou com a Espanha, que ainda hoje está a ter consequências. Aquele beijo foi falado em todo o mundo. Todas vocês abriram os olhos ao mundo.
Claro que sim, nós somos parte da mudança e isso deixa-me muito feliz. Assédio é assédio. É bom sentir que nós, jogadoras, estamos a traçar um caminho que está a permitir que outras miúdas cresçam a dizer que querem jogar e exigirem esse mesmo respeito. Tivemos de lutar imenso. Nós e aquelas que já cá estiveram e que nos abriram caminhos. Estávamos a falar do episódio da seleção espanhola… Toda a gente se juntou e acho que isso é muito a imagem daquilo que tem de ser, não só no desporto. Nós, mulheres, quando nos juntamos podemos fazer acontecer coisas gigantescas. Temos de nos juntar todas para continuarmos a quebrar as barreiras, para estarmos num lugar ainda de mais respeito e num lugar que realmente merecemos.
Decidimos falar com uma mulher com garra, que fosse um exemplo no desporto que pratica. Facilmente chegámos ao nome de Jéssica Silva, por tudo aquilo que ela demonstra enquanto jogadora de futebol. Fomos até ao Benfica Campus, centro de treinos do Benfica, conhecer um bocadinho do muito que esta mulher de 29 anos tem
Entrevista a Jéssica Silva, jogadora do Benfica e da seleção nacional