Arthur Cabral: do inferno ao céu
Momento em que Arthur Cabral, de calcanhar, marca o terceiro golo do Benfica em Salzburgo. Foto: Miguel Nunes/ASF

Arthur Cabral: do inferno ao céu

NACIONAL13.12.202308:30

Como viveu o avançado os momentos depois da tempestade na garagem da Luz e da bonança em Salzburgo; a importância da família e o respeito dos companheiros; deve ser titular em Braga

Já seriam duas da manhã de sábado, umas boas horas depois do incidente com adeptos na garagem do Estádio da Luz depois do empate com o Farense, e Arthur Cabral, sem conseguir dormir, ainda ligava para um elemento da estrutura do Benfica, pedindo desculpa do gesto obsceno. O mal estava feito e, ainda sábado, o avançado brasileiro de 25 anos partilhou, arrependido pelo comportamento, um vídeo nas redes sociais a pedir desculpa, então, aos benfiquistas.

O gesto de Arthur Cabral apanhou de surpresa jogadores, treinadores e estrutura de futebol profissional. Todos aqueles, no fundo, que conhecem Arthur Cabral. Que tiveram contacto com ele desde que foi contratado, no verão, por €20 milhões, para substituir Gonçalo Ramos.

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O avançado é estimado, na Luz e no Seixal, por ser educado e tranquilo, alguém que amadureceu na Europa com as experiências no Basileia e na Fiorentina, antes de chegar ao Benfica. Integrou-se muito bem no grupo, fala inglês, italiano e um pouco de alemão, mantém boa relação com todos os companheiros, como atestam as reações deles quando marcou em Salzburgo, mas também em Arouca e no Açores. Com Casper Tengstedt e Petar Musa, concorrentes, prevalece o respeito.

Muita lenha para queimar

Arthur está consciente de que o episódio na garagem da Luz trouxe mais pressão. Como se os €20 milhões que o Benfica pagou por ele, as dificuldades de afirmação na equipa e os poucos golos (só três) não fossem suficientes. Mas o avançado mantém a confiança de que vai triunfar, que vai dar a volta à situação e a vontade de corresponder às expectativas só aumentou depois do gesto insultuoso e do golo marcado ao Salzburgo. Homem de família, tem recebido o apoio dos pais, muito presentes na vida dele, e da namorada. O avançado confessou a pessoas próximas que o presente e o futuro dele estão no Benfica e que há muita lenha para queimar.

Titular em Braga

Arthur Cabral foi a segunda opção de ataque de Roger Schmidt no jogo com o Salzburgo. Tengstedt não correspondeu às expectativas e foi substituído ao intervalo por Musa. O treinador alemão quererá aproveitar, como fez com Tengstedt, o efeito emocional do jogo. Mas o brasileiro, mais físico e forte que o dinamarquês, também se adequa à estratégia de jogo no Minho.

E, por outro lado, Arthur Cabral sabe bem o que é marcar ao SC Braga. Na época passada, pelos italianos, foi o carrasco dos bracarenses no play-off de apuramento para os oitavos de final da Liga Conferência.

Os viola ganharam em Braga por 4-0, na primeira mão, com dois golos de Arthur Cabral. O primeiro foi espetacular: após um lançamento lateral, tocou com o peito, deu um toque na bola, escapando à pressão de Paulo Oliveira, Castro e André Horta, e disparou para o terceiro golo. Marcaria o quarto, este mais fácil, ao desviar um cruzamento da direita de Ikoné.

Em Florença, na segunda mão, assinou o golo da vitória (3-2) — após um cruzamento da direita de Bonaventura, esticou-se, antecipando-se a Paulo Oliveira, e finalizou o lance.

A reconciliação total com os adeptos, sabe Arthur Cabral, pode ainda não estar completa. Para isso acontecer e para justificar também a aposta em mudar-se para a Luz, o avançado brasileiro só pensa numa coisa — voltar a marcar. E Arthur Cabral acredita que vai dar certo.