2 abril 2024, 07:30
«Nós nunca servimos o regime, o regime é que se serviu de nós»
António Simões recorda a final da Taça de Portugal de 1974, a primeira em democracia; Sporting levantou o troféu, ao bater o Benfica por 2-1 após prolongamento
Antigo avançado das águias marcou presença no aniversário de 50 anos do San Jose Earthquakes
António Simões foi recentemente homenageado pelos San Jose Earthquakes, conjunto norte-americano que representou na década de 1970. O clube celebrou 50 anos de existência no passado dia 28 de junho e fez questão de prestar tributos a alguns dos atletas que por lá passaram, como George Best e Landon Donovan. A BOLA falou com o antigo avançado do Benfica, campeão europeu em 1961/1962, que nos contou como foi a experiência na Califórnia.
— Foi aos EUA para ser homenageado pelos San Jose Earthquakes. A que se deveu esta homenagem?
— O clube organizou um evento para celebrar o 50.º aniversário e, como tal, convidaram-me e a outros jogadores que por lá passaram em todos estes anos, sobretudo os da equipa de 1974. Também quiseram homenagear os de 1975, 1976, 1977 e por aí afora, mas sobretudo os de 1974, porque foram verdadeiramente os ‘fundadores’ do clube. Esteve lá o grande responsável do projeto, um homem do futebol que já teve várias equipas em Inglaterra. Milan Mandaric, jugoslavo. Bem, agora é sérvio! Tem uma fortuna incalculável. Era um homem que gostava de jogar connosco, um homem do futebol, completamente apaixonado pelo desporto.
Quando cheguei e foi anunciado na televisão e na rádio que eu iria ser deste clube, logo no primeiro jogo, assim que acabou, saí e tinha dezenas e dezenas de portugueses à minha espera, e aquilo fez-me lembrar o Benfica. Fui para este clube ver coisas que me tinham acontecido no Benfica, foi o que mais me deslumbrou.
— E como foi a experiência de ser homenageado nos EUA?
— O mais importante foi reencontrar os jogadores com quem joguei. Continuam bem, com grandes famílias, netos… e depois, o evento em si foi muito interessante. Fizeram uma entrada com uma passadeira vermelha, parecia a cerimónia dos óscares. Fizeram um jantar onde estavam cerca de 700 pessoas no campo, com uns estratos de madeira no chão e jantámos por cima do relvado. Com um ecrã enorme, passaram imagens de jogos, da história do clube, e depois nomearam os jogadores que por lá passaram. Eu, o George Best, o Landon Donovan, que jogou vários campeonatos do mundo pelos EUA…
— O que guarda da homenagem?
— O mais importante é o reconhecimento. Joguei lá há 50 anos e lembraram-se das pessoas, reuniram-nos todos, alguns já faleceram infelizmente, mas foi algo muito bonito. Foi um momento especial e fiquei muito feliz por se terem lembrado de mim. Vivi três dias de grande regozijo, de grande alegria, de grande emoção, vi gente que não via há muitos anos. Este é o lado bom do futebol. Foi isso que vivi lá, o lado bom do futebol.
Havia um ecrã enorme em que passaram imagens de jogos, da história do clube, e depois nomearam os jogadores que por lá passaram. Eu, o George Best, o Landon Donovan, que jogou vários campeonatos do mundo pelos EUA…
— Tem alguma memória em especial da altura em que jogou no clube?
— Quando cheguei e foi anunciado na televisão e na rádio que eu iria ser deste clube, logo no primeiro jogo, assim que acabou, saí e tinha dezenas e dezenas de portugueses à minha espera, e aquilo fez-me lembrar o Benfica. Fui para este clube ver coisas que me tinham acontecido no Benfica, foi o que mais me deslumbrou. Entretanto, na altura, fui eleito deputado da Assembleia da República e então era muito engraçado, eles diziam ‘Now the number 7, Tony Simões, the Senator!’ [Agora o número 7, Tony Simões, o Senador]. Apresentavam-me, na entrada individual, chamando-me senador de Portugal. Nunca se esqueceram de tudo isso.
2 abril 2024, 07:30
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— Surpreendeu-o essa receção de portugueses nos EUA nessa altura?
— Bom, o entusiasmo estava muito fresco, tinha saído do Benfica em 1975. Todos se lembravam do meu nome e havia muitos portugueses que viviam e vivem naquela área de San Jose, vinham ao jogo e esperavam por mim. Passava a vida a ir jantar a casa dos portugueses que me convidavam. Coisa fantástica. Fiquei surpreendido, mas, ao mesmo tempo, muito comovido por receber convites de portugueses para ir jantar a casa deles. O nome e a grandeza do Benfica presentes, através de uma pessoa que foi para lá jogar chamada António Simões. Pessoas a pedirem-me autógrafos, a levarem-me a casa para conhecer a família… foi fantástico.