Iago Aspas é um fenómeno no futebol moderno. A carreira da grande maioria dos futebolistas de elite passa por vários clubes, experiências internacionais e a ambição por novas conquistas. Não é o caso do avançado espanhol de 37 anos. No dia de Natal, o Celta deu uma prenda aos adeptos: Aspas renovou e vai ficar no clube até 2026. A carreira de Iago Aspas não passou apenas pela Galiza. Teve dois anos de ligação ao Liverpool, sendo que, no segundo, foi emprestado ao Sevilha, por quem conquistou o único título da carreira: a Liga Europa. Duas temporadas volvidas, voltou a Vigo, onde está desde então, e onde já havia estado desde os sub-13. Se cumprir o vínculo, o atleta que mais vezes jogou (509 jogos) e marcou (210) pelo clube de Vigo chamará casa aos Balaídos por 19 anos, só a nível profissional. Antes da Lei Bosman era muito mais comum que os jogadores ficassem largos anos sem mudar de equipa. Franco Baresi, lendário capitão do Milan, é um dos grandes exemplos de quem nunca saiu, nem nunca quis sair do clube. Entre 1977 e 1997, representou a equipa de coração em 720 ocasiões. Foi o capitão que venceu três Ligas dos Campeões, seis campeonatos e recusou sair quando o clube, por castigo, foi despromovido à Serie B. Ainda assim, teve, ao seu lado, uma das maiores figuras de lealdade dos tempos modernos: Paolo Maldini. Começou ao lado de Baresi e Costacurta, nos anos 80, e a sua carreira só terminou… em 2009, já com Nesta como parceiro do eixo defensivo. Defesa-central ou esquerdo, não deixou o Milan durante 25 temporadas, nas quais realizou 902 jogos e conquistou 26 títulos, incluindo cinco Champions e sete campeonatos. Um amor que vai até ao nível genético: é filho de Cesare e pai de Daniel: o mais velho jogou 390 partidas pelos rossoneri e o mais novo disputou 24 duelos pelo emblema rossonero, antes de, no início desta época, rumar a título definitivo para o Monza. Também em Itália, Francesco Totti esteve tanto tempo na Roma como Maldini em Milão: 25 temporadas. Nesse período, foi – em mais que uma ocasião – aliciado pelo Real Madrid, mas como o presidente dos merengues, Florentino Pérez, fez questão de lhe dizer, Totti foi o único jogador que nunca conseguiu persuadir. Fez, entre 1993 e 2017, 786 jogos pelo clube da capital italiana, com 307 golos apontados. Em Inglaterra, os anos 90 e 2000 foram dominados pelo Manchester United e dois elementos da equipa viveram este período do início ao fim: Ryan Giggs e Paul Scholes. O extremo galês é, ainda hoje, o jogador com mais partidas disputadas pelos red devils, com 967 em 23 anos e, com 632 duelos, é o terceiro que mais jogos disputou na Premier League. Scholes não jogou tantos: começou mais tarde, em 1994 e, por isso, só jogou 718 vezes pelo emblema que é, hoje, treinado por Ruben Amorim. Só. Scholes, aliás, reformou-se em 2011, depois do 10.º título de campeão da carreira, mas sentiu que queria voltar a competir e, por isso, no início da época 2012/2013, dirigiu-se a Sir Alex Ferguson para voltar a jogar. Imediatamente recebeu um contrato, jogou 21 vezes esse ano e… voltou a ser campeão. No rival Liverpool, Jamie Carragher foi uma das principais vítimas da hegemonia do Man. United. Em 17 anos, jogou 737 jogos pelos reds sem nunca ter sido campeão de Inglaterra. O central tornou-se capitão da equipa que sempre representou e, em 2005, conquistou o título mais marcante da carreira: a Liga dos Campeões, na mítica final frente ao Milan, em Istambul, em que o Liverpool estava a perder 0-3 ao intervalo. O Barcelona foi exemplo de casa prolongada para vários jogadores. Mas, de nomes como Messi, Iniesta, Xavi, Piqué ou Sergio Busquets, só Puyol esteve, durante toda a carreira, ao serviço dos blaugrana. Começou em 1996, na equipa B, subiu à equipa principal e tornou-se indiscutível ao longo de 15 anos, em que realizou 593 partidas. Foi a grande figura de liderança do Barça que, nesse período, conquistou seis campeonatos e três Ligas dos Campeões. Na baliza, também há exemplos de lealdade inquestionável. Rogério Ceni, mítico guarda-redes goleador do São Paulo, é um desses casos. Aliás: é, porventura, o maior deles. Ao serviço do São Paulo, jogou, em 22 anos, 1197 partidas, por quem conquistou três campeonatos, duas Libertadores e um Mundial de Clubes, para falar dos principais títulos. Além disso, enquanto exímio batedor de bolas paradas, ainda faturou 129 vezes pelo emblema paulista, de quem se despediu em 2015. Já Igor Akinfeev, do CSKA de Moscovo, ainda não disse adeus. 22 anos depois da estreia, em 2003, é o titular do emblema russo, por quem já jogou em 788 ocasiões e venceu seis campeonatos e uma Taça UEFA (frente ao Sporting, em Alvalade). No topo do futebol europeu há ainda um caso especial: Thomas Muller, avançado do Bayern, já ganhou tudo o que podia ganhar com os bávaros, mas escolheu nunca sair, mesmo depois de 12 campeonatos e duas Champions, em 17 épocas e 710 partidas. Uma boa referência para Iago Aspas.