Alvo do Benfica falhou Europeu e lidou mal com a frustração
Gosens chegou ao Union Berlim no verão de 2023. Foto IMAGO

Alvo do Benfica falhou Europeu e lidou mal com a frustração

NACIONAL24.06.202408:00

Lateral-esquerdo Robin Gosens diz que ficou destroçado e conta que a troca de Inter por Union Berlim fazia parte da estratégia para estar na convocatória da Alemanha; consultou psicólogo para ultrapassar situação

Robin Gosens tem uma licenciatura em Psicologia e tem, naturalmente, posições bem definidas sobre a saúde mental dos jogadores. Num documentário da televisão alemã ZDF, o lateral-esquerdo de 29 anos do Union Berlim, alvo do Benfica para a próxima temporada, começou por abordar o seu próprio desgosto quando soube que não estaria no Euro 2024 ao serviço da Alemanha.

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«Para mim, foi o despedaçar de um sonho de toda uma vida, o despedaçar de um mundo. Não sabia como lidar com isso e, sobretudo, não sabia como sair dessa situação, depois de uma época dececionante, lutando para manter o clube na Bundesliga», começou por explicar.

«A escolha para o Campeonato da Europa não se concretizou. Perguntou-me se fiquei triste ou o que isso me fez. Para mim, foi o fim de um sonho de uma vida inteira, a quebra de um mundo. A minha família mudou-se comigo de Itália para a Alemanha [jogava no Inter e reforçou o Union Berlim em 2023/24], onde temos uma vida de bom nível, para que eu pudesse participar neste Campeonato da Europa. Dediquei tudo a este desporto e trabalhei arduamente todos os dias só para fazer parte deste Campeonato da Europa», observou.

Sem se deter, partilha frustração: «Então, não se trata apenas de não estar lá e seguir em frente. Não, um mundo desmoronou-se para mim. Foi por isso que aprendi que falar com um psicólogo como forma de desabafo ajuda muito.»

A licenciatura de Robin Gosens em Psicologia apela à consciência dos clubes. Para ele, os psicólogos nos clubes devem ser realmente uma obrigação e explica as razões. «Não pode simplesmente acontecer que a Psicologia continue a ter um estatuto tão baixo no futebol profissional, mas também que continue a ter um estatuto tão baixo na sociedade em geral. Isso perturba-me e deixa-me muito triste. Sobretudo quando ouço ou leio comentários em que a depressão é simplesmente ignorada: ‘rapaz, estás a ganhar milhões, como é que podes estar mal?’ Isso dá-me vontade de vomitar. Só porque estamos a ganhar dinheiro, não significa que possamos comprar a nossa saúde com esse dinheiro. Sei que estou numa posição incrivelmente privilegiada e que provavelmente ganho demasiado dinheiro. Mas as coisas são mesmo assim», diz o lateral-esquerdo alemão, que não esconde as emoções que sente nos encontros mais importantes: «Fico muito tenso antes dos grandes jogos, mas nunca tenho medo de entrar em campo.»

Mensagens agressivas de adeptos também foram abordadas. «Quando a minha família, os meus filhos, também estão envolvidos, toda a estrutura familiar tem de ser analisada. Acho que é uma loucura, por isso tento sempre colocar-me na pele das pessoas que escrevem estas coisas. Em que momento das suas vidas têm de estar, que fatores têm de reunir-se para se sentarem conscientemente em frente ao seu telemóvel, acederem ao meu perfil e escreverem a mensagem. É preciso analisar», sublinha.

Gosens lembra igualmente que muitas vezes esse tipo de situação acontece depois de momentos infelizes para os jogadores, que, no limite, são quem mais sofre com uma má exibição. E não por qualquer tipo de crime cometido. Trata-se apenas de futebol. «Na pior das hipóteses, acabámos de jogar 90 minutos de mau futebol e talvez tenhamos marcado um autogolo ou feito um mau passe que levou a um golo e à derrota da equipa. Essa é a pior coisa que posso fazer como futebolista. É brutal», frisou o defesa alemão.