«Algo ainda não liga dragão à Taça da Liga», a crónica do Estoril-FC Porto
Rafik Guitane marca ao FC Porto (Foto: MIGUEL A. LOPES/LUSA)

«Algo ainda não liga dragão à Taça da Liga», a crónica do Estoril-FC Porto

NACIONAL06.12.202321:25

Campeão em título eliminado ao primeiro jogo; FC Porto sem ideias, apenas um ou outro esboço; técnica canarinha letal para o dragão

Dragão ao tapete. À primeira, na Taça da Liga. O KO surgiu de novo pelo restabelecido mas ainda frágil canário, depois das surpreendentes cenas na Invicta, para a Liga, no início de novembro. E não poderia ter sido mais justo, mesmo que tenha existido FC Porto a menos e não um Estoril tão a mais do que o costume, sem que se desvalorize, obviamente, o mérito pela qualidade e competência que colocou em campo. 

Descobrir espaço tornou-se rapidamente a principal missão do FC Porto na Amoreira. Vasco Seabra, que nem perante a possibilidade de fechar a qualificação com um triunfo desistiu de rodar jogadores, montou o Estoril num 5x4x1. A linha defensiva alta aliada a uma pressão feita a partir de um bloco médio convidava a (controladas) bolas nas costas disferidas pelos médios e defesas portistas, e a forte presença por dentro (seis unidades) eliminava ao máximo a sua progressão pelo corredor interior. 

Se os dragões se poderiam ter colocado em vantagem logo aos 16 minutos sem que ainda tivessem criado algo relevante, na sequência da iniciativa individual de Francisco Conceição (anulada por fora de jogo de Galeno), foi apenas depois do excelente golo estorilista, construído pela brilhante trivela de João Marques e a movimentação incisiva no espaço entre os centrais (reação tardia de David Carmo) com consequente finalização clínica de Cassiano, que o conjunto de Sérgio Conceição começou a aplicar com regularidade as ideias que vinha a esboçar há alguns minutos: Taremi, como falso 9, recebia entre linhas e embalava, Pepê preenchia os espaços deixados vazios a toda a largura e Galeno e Conceição, mais o primeiro, tentavam sprints, desde um ponto de partida mais central, para receberem para lá da última linha. 

Entretanto, a esquerda, com João Mendes bem mais eloquente a subir no terreno do que o companheiro Zé Pedro do lado contrário, apresentava-se mais dinâmica, fosse pela capacidade de a equipa em atrair para isolar o seu lateral-esquerdo, ou pelos ataques de Galeno no canal entre lateral e primeiro central. No fim, saberemos que foi curto, porém foi a partir destas situações que os dragões colocaram as poucas dificuldades que os canarinhos sentiram na primeira parte do encontro. Com a bola recuperada, os homens de Vasco Seabra exploravam a transição e iam deflagrando pequenos incêndios na área rival.

Taremi, o farol

Taremi saiu de campo aos 63 minutos e terá sido decisão precoce. O iraniano estava a ser fundamental no pouco que o FC Porto construía que não fosse cruzamentos ou bolas longas para as costas da defesa contrária. Foi ele quem, aos 34 minutos, fez a diagonal para combinar com Pepê, através de um simples amortecimento no peito, antes do tiro do brasileiro para o empate. Mas não só. Foram as suas movimentações, quando o espaço se abriu depois desse momento, que equilibravam o encontro, já que a partir do intervalo, o Estoril pareceu sempre mais perigoso, conseguindo situações de igualdade e superioridade numérica perto de Cláudio Ramos

Os ferros e a óbvia conclusão

Os dragões não encontraram antídoto para a técnica individual estorilista. O drible era um arma perante a tentativa de pressão portista, que foi perdendo duelos até à derrota. Pelo meio, houve duas bolas ao ferro para cada lado - Heriberto a abrir (47’) e a fechar (90’+2), Taremi (49’) e Evanilson (87) -, que podiam ter feito cair a partida para cada lado. Todavia, se as oportunidades portistas apareciam em esforço, havia uma autoestrada aberta aparente para a baliza de Ramos.

Conceição ainda tentava tornar a equipa mais simétrica e ofensiva (Evanilson por Zé Pedro, com Pepê a recuar para a lateral, antes de voltar para a frente com a aposta em Jorge Sánchez, e a rendição de Grujic por Nico), contudo era dia não. O caminho estava a descoberto e Guitane, lançado ao intervalo para criar ainda mais caos, abriu novas rotas para ferir mortalmente o dragão. O 3-1, de penálti (mais um erro de Carmo) foi apenas a confirmação. Não só o canário cuspia mais fogo como há algo que ainda não liga este FC Porto à Taça da Liga.