Alemanha: o guia
Alemanha. IMAGO
Foto: IMAGO

EURO 2024 Alemanha: o guia

INTERNACIONAL26.05.202412:00

Expectativas

A esperança voltou. Durante muito tempo houve medo de que a Alemanha passasse vergonha ao receber o Euro. Houve o sentimento de que escapar à qualificação foi uma sorte, dada a forma em que estavam no ano passado. De março a setembro de 2023, Die Mannschaft perdeu quatro dos cinco jogos que realizou contra adversários medíocres e não ganhou nenhum. Hansi Flick, tendo sido também eliminado na fase de grupos do Mundial 2022, tornou-se no primeiro selecionador alemão de sempre a ser despedido, com a gota de água a ser a chocante derrota por 4-1, frente ao Japão, em casa, em setembro.

A Alemanha virou-se para Julian Nagelsmann, de 36 anos, e muitos adeptos ficaram contentes de ter aceitado um cargo que poucos treinadores desejariam. Nagelsmann é assertivo, tem mais carisma que o seu antecessor, e trouxe ímpeto. Não houve uma mudança de rumo, ainda assim.

Pelo final de 2023 o caótico plantel continuava a queda. Em novembro, num amigável frente à Turquia, Kai Havertz apareceu do nada a lateral-esquerdo – ou um 10 «pela esquerda», como disse Nagelsmann. A experiência correu mal e a Alemanha perdeu por 3-2, uma derrota que foi seguida de novo embaraço frente aos vizinhos da Áustria, por 2-0.

Depois dessa derrota em vitória, Nagelsmann disse ao Der Spiegel: «Temos de parar de pensar em estatutos. Dizemos a nós próprios que somos a Alemanha, um país de futebol de topo, embora estejamos a passar por falhanços há anos.»

Em março de 2024 trouxe Toni Kroos de volta à seleção e optou por uma linha defensiva a quatro, com Havertz de volta a jogar perto da baliza adversária, e não perto da sua própria. A Alemanha é forte ofensivamente, mas Nagelsmann foca-se novamente num futebol de posse, ao invés dos contra-ataques. Uma boa vitória por 2-0 frente à França foi seguida de uma reviravolta frente aos Países Baixos (2-1), em Frankfurt, e o ambiente mudou – uma equipa incerta voltou a acreditar em si própria. Tal como os adeptos.

 É difícil acreditar o quão rapidamente as coisas mudaram para a Alemanha, mas voltam a ser um dos favoritos à conquista do Euro, em sua casa.

O selecionador

Julian Nagelsmann, selecionador da Alemanha (IMAGO / Nico Herbertz)

Com apenas 36 anos, Julian Nagelsmann é a figura da escola de treinadores alemães: um mestre da tática que nunca foi futebolista profissional e que, em 2015, foi descrito por Mehmet Scholl como «um treinador de computador» – não especificamente sobre o selecionador, mas como figura desta nova escola e geração de técnicos. Nunca teve receio de tentar coisas novas, e até usava um skate para andar de um lado para o outro no complexo de treinos do Bayern.

Ainda sentem a falta dele no Hoffenheim, clube que levou da luta pela permanência até à Liga dos Campeões, antes de sair para o RB Leipzig. Lá, chegou às meias-finais da Liga dos Campeões, em 2020. O Bayern abordou-o um ano depois e, embora tenha sido despedido enquanto estava em férias, numa estância de ski, em março de 2023, o clube adoraria tê-lo novamente. Contudo, para surpresa de muitos, Nagelsmann renovou contrato com a DFB até depois do Mundial 2026. Quando assumiu o cargo prometeu que ia manter as coisas simples, antes de complicar tudo. Rapidamente se corrigiu a si próprio. Passou muito tempo a tentar encontrar uma visão para a sua seleção e foca-se agora num estilo de posse de bola e controlo com Toni Kroos. Mas não há muito tempo para se habituarem a essa nova abordagem.

O ícone

Toni Kroos IMAGO

O patrão voltou. Durante muito tempo, Toni Kroos foi erradamente julgado por muitos alemães e descrito como 'Querpass-Toni' (algo como o 'Toni dos passes laterais'). Depois da eliminação perante a Inglaterra, nos ‘oitavos’ do EURO, em 2021, a lenda da Alemanha e do Bayern, Uli Hoeness, disse: «O Toni Kroos já não encaixa neste futebol». Voltou à seleção nesta primavera e até Hoeness gostou que o tivesse feito. Novamente vencedor da Liga dos Campeões, pode fazer com que a Alemanha seja novamente bem-sucedida. No seu primeiro passe após regressar, lançou Wirtz para o golo inaugural frente à França, no primeiro minuto de jogo. Dita o ritmo e os seus colegas adoram-no. Sempre calmo, nunca nervoso. Aos 34 anos, teve talvez a sua melhor época de sempre no Real Madrid. 'Toni dos passes laterais'?! «Quem ainda escreve isso não percebe nada de futebol», diz Nagelsmann. Anunciou em maio que irá terminar a carreira após o Euro.

Para ter debaixo de olho

Florian Wirtz IMAGO

Florian Wirtz ajudou o eterno ‘vice’ Bayer Leverkusen a tornar-se campeão da Bundesliga sem derrotas. Encontra espaços e tem um soberbo remate. Ainda com 21 anos, já jogou mais de 100 encontros no campeonato e é um dos melhores dribladores que a Alemanha alguma vez teve. Consegue virar-se incrivelmente rápido, passando pelos defesas, tal como fez no seu golo do ano de 2023, frente ao Friburgo, no qual fintou, fintou e fintou. «Não podes ensinar a alguém como fazer isso», disse o seu treinador, Xabi Alonso.

Espírito rebelde

Rudiger IMAGO

«Rüdiger, vais-me levar à cova», disse o ator e comediante Didi Hallervorden no filme Didi und die Rache der Enterbten. Uma frase com quase 40 anos que não se podia adequar melhor a Antonio Rüdiger. Por vezes pode ser um bocado maluco, mas toda a gente preferia jogar com ele do que contra ele. Possivelmente o jogador mais forte da Alemanha em termos físicos, é uma pessoa que parece estar sempre a divertir-se, e nunca com medo – e certamente nunca desiste. Teve alguns altos e baixos nos seus cinco anos no Chelsea, mas foi fundamental para a conquista da Liga dos Campeões em 2021. Não foi logo titular no centro da defesa quando se juntou ao Real Madrid em 2022, mas é agora, tendo-os levado a mais glória na época passada.

A espinha dorsal

Neuer, Rüdiger, Kroos, Havertz. Um eixo com muita experiência, vencedor da Liga dos Campeões pelo menos uma vez. Quantas equipa têm uma espinha dorsal destas? Mas pode ser o eixo da dúvida, também. Kroos aposentou-se da seleção e voltou apenas recentemente (embora trazê-lo de volta deve ter sido a coisa mais importante que Nagelsmann fez na seleção). Manuel Neuer esteve lesionado durante muito tempo e está a começar a cometer erros pouco habituais, como o erro crasso no duelo entre Bayern e Real Madrid, no Bernabéu, para a Liga dos Campeões. Rüdiger está muito bem pelo clube, mas tem sido uma opção arriscada na seleção. Havertz ainda vai disputando o lugar com Niclas Füllkrug. Em teoria é uma espinha dorsal de classe mundial. Mas a verdade é que ainda têm muito para provar nos grandes palcos.

Onze provável

 4x2x3x1: Neuer – Kimmich, Rüdiger, Tah, Mittelstädt – Andrich, Kroos – Musiala, Gündogan, Wirtz – Havertz

Adepto famoso

Herbert Grönemeyer. A sua música faz tanto parte da Alemanha como cerveja ou salsichas. Tornou-se conhecido nacionalmente como ator no drama de guerra, Das Boot, em 1981, aos 21 anos, que foi nomeado para seis Óscares. Cantou o seu tema ‘Zeit, dass sich was dreht’ na abertura do Mundial 2006. É visto como alguém que fala pelo coração da nação, tendo escrito um hino sobre a sua cidade natal de Bochum, que é sempre ouvido no Ruhrstadion. Faz parte da claque da seleção desde 2016. 

Herbert Grönemeyer IMAGO

Petisco

O Stadionwurst, que difere da bratwurst pelo simples facto de ser confecionado e vendido dentro ou perto de um estádio de futebol. Tem de ser estaladiço à primeira dentada. É servido num pão e consumido com cerveja. Os profissionais comem com mostarda e os blasfemos com ketchup. Custam de 3.50€ a 5€ nos estádios alemães e agora há opções vegan em alguns recintos. O campeão do mundial e lenda do Bayern de Munique, Uli Hoeness, é agora coproprietário de uma fábrica de bratwurst em Nuremberga

Stadionwurst (IMAGO)

Texto de Nicolas Horn, que escreve para o Die Ziet, no âmbito da rede de troca de conteúdos do Euro 2024 que A BOLA integra.