A redenção de Debast, a lesão de Inácio e a falta de experiência: tudo o que disse Rúben Amorim
Análise do técnico do Sporting à vitória frente ao Lille
O Sporting venceu o Lille por 2-0 na Liga dos Campeões e, no final da partida, Rúben Amorim, técnico dos leões, falou de uma partida em que «correu tudo bem», elogia o golo de Debast, jogador que, diz, precisava deste momento e anuncia que ainda não sabe nada sobre a gravidade da lesão de Gonçalo Inácio.
O que gostou mais nesta partida?
O que gostei mais foi do resultado. Em relação ao golo do Debast, não há muitas palavras, foi um grande golo. Estava chateado com a decisão dele, mas os melhores golos acontecem assim, quando menos se espera. Já o disse, volto a dizer: se havia alguém que precisava de um golo, de uma exibição destas, era o Zeno. E as coisas não acontecem por acaso. O resultado foi melhor do que a exibição, mas já sabíamos que o primeiro jogo é sempre complicado. Correu-nos tudo bem, a expulsão ajudou. E, portanto, foi um dia feliz para todos nós, mas uma prova clara de que temos muito ainda para fazer.
O que pode adiantar sobre a lesão do Inácio? Este golo do Debast pode dar-lhe confiança?
Foi o erro do Debast [lance do 1-3, frente ao FC Porto] que criou um bocadinho esta onda. Foi um jogo que nos correu mal a todos, porque estávamos em vantagem de 3-0, e, portanto, tornou-se ali um bocadinho uma bola de neve, mas isso já aconteceu a vários jogadores nesta época e todos os clubes falham. Acontece. A qualidade dele está lá. Obviamente que ele, sendo muito novo, acho que nunca passou um momento em que as pessoas e adeptos, talvez, do clube dele e de outros clubes, veio para um país novo e houve ali alguma desconfiança. Na Bélgica, ele é um jogador adorado, é um talento daquele país e tudo isso mexeu um bocadinho com ele. Eu acho que foi muito importante o golo, mas principalmente a exibição. Muito competente, muito forte a defender, bem a atacar e, portanto, como já disse, foi um golo da pessoa certa que nos ajuda muito.
Em relação ao Inácio, eu ainda não percebi bem, falei com o doutor e amanhã vamos ver melhor, Ele diz que bateu com o pé no chão com força e sentiu ali qualquer coisa. O que mexeu com o plano foi as características. E depois o Lille é uma equipa que faz muitos golos de bola parada e o Inácio é o melhor na bola parada e isso criou ali um problema se tivéssemos tido muitas bolas paradas contra. Em termos de ideia de jogo não mudou muito, mudou ali a característica porque passamos a vida a jogar da mesma maneira e nestes momentos, ajuda, porque não altera nada o plano de jogo.
O Sporting não tem sofrido golos. Quem pode parar este Sporting? Gyokeres está preparado para marcações tão agressivas?
Ele está preparado para isso e temos visto na nossa liga. Agora, a capacidade dos adversários na Liga dos Campeões é completamente diferente. O que eu notei é que o Lille eles faz muitas vezes pressão alta em homem a homem e a verdade é que eles deixavam o Trincão jogar e não aproveitámos bem no início, mas depois fomos aproveitando. Ficavam dois para trás, o que não é normal. Nota-se que é o estudo das equipas e veem que ele é um jogador muito forte no um contra um. Portanto, estamos preparados para continuar com o Viktor a ajudar-nos a ganhar jogos.
Quem nos pode parar? O Aves pode parar-nos. Tudo pode acontecer no futebol e temos de estar focados. Volto a dizer, este jogo foi bom, tirou-nos algum nervosismo. Notou-se muito na nossa equipa o nervosismo e a expulsão ajudou muito, porque depois estava mais difícil. A equipa continuou a pressionar e nós com muitas saídas de bola para podermos definir um jogo mais cedo. Portanto, qualquer equipa pode parar o Sporting e nós temos que manter os pés bem assentes na terra e saber ler os jogos. Não os resultados apenas.
O que achou da entrada de Conrad Harder?
É um jogador que, no pouco tempo que esteve no campo, demonstrou muita coisa que tem. Pressionou todas as bolas, conseguiu cabecear uma bola no livre, segurou a bola de costas, sofreu falta e ajudou-nos a subir a equipa. Caiu no lado direito e conseguiu carregar a bola a ser pressionado, ganhámos o lançamento e conseguimos acalmar o jogo. Confirmou aquilo que nós vimos nele. Precisa de tempo de treino. Nós temos tido pouco tempo de treino com toda a gente. Assim como o Maxi, assim como muitos que precisam de ainda perceber melhor o jogo da nossa equipa. Mas acho que está claro que temos ali um jovem jogador que nos vai ajudar muito.
Os jogos em casa, destacando o ambiente vivido em Alvalade, vão ser suficientes para chegar aos nove pontos?
Não, porque se olharmos para os jogos em casa, temos o Manchester City e temos o Arsenal. Nós vamos jogo a jogo, tentando vencer os nossos jogos e não pensar muito à frente. Ganhámos este, ajuda-nos muito, porque domingo quase de certeza que os nossos adeptos vão voltar a encher o estádio e vamos ganhar para o campeonato. Eu acho que isso ajuda a criar essa tal bola de neve de que falámos aqui. E não estar a pensar muito à frente. Nós temos de lutar por todos os pontos na Champions e no campeonato. Sabemos que vamos enfrentar equipas muito fortes. Vimos as dificuldades que tivemos na nossa construção no início do jogo. Portanto, não acho que o fator casa vá ser determinante, muito pelos adversários que vamos apanhar.
O Sporting é a equipa que entrou hoje na Liga dos Campeões com a média de idades mais baixa, com uma margem relativamente larga. No final, houve sofrimento. Só com a idade, dentro e fora de campo, é que vem a estabilidade para aguentar estes momentos?
Eu acho que é a experiência. Não diria idade, mas a experiência de viver estes momentos, estes jogos, estes momentos, é que nos ajuda a crescer. Não interessa muito a idade. A verdade é que eu olho para o jogo, e acho que o Morten pode crescer, o Trincão pode decidir melhor, o Pote pode estar ainda mais envolvido. O Maxi chegou agora, nota-se que ainda não tem bem as rotinas de jogo, mas tem umas características muito boas, uma capacidade física muito boa. Acho que no jogo notou-se essa parte da idade, mas principalmente a falta de experiência de alguns jogadores em momentos difíceis. O Franco fez uma grande defesa e, portanto, volto a dizer: acho que hoje tudo correu bem, tirando a lesão do Inácio.
Morita saiu para explorar o meio-campo debilitado pela expulsão ou só pelo amarelo?
O Morita saiu porque já tinha amarelo. Quando temos a vantagem de um jogador, temos a vantagem do jogo, um pisão, uma transição onde a bola vai dividida e o jogador toca primeiro… Já sabemos que é normal, que é humano, já há uma equipa com menos de um, com duas faltas no meio-campo, acontecer o mesmo da outra equipa, poderia haver a expulsão. E nós não quisemos arriscar, porque o Bragança - e isto é importante para todos os jogadores perceberem - cada vez que joga, demonstra que o nível está lá. E se o nível está lá, nós não vamos arriscar um cartão amarelo. Às vezes, é um bocadinho injusto para o Morita, porque ele sabe segurar-se, não é um central, mas essa foi a ideia, o Morita só saiu porque já tinha amarelo.
Porque chamou os jogadores ao banco por volta da meia-hora?
Acima de tudo, o Trincão não estava a ser pressionado. O Alexsandro estava sempre a tapar o espaço para o Viktor, então tínhamos que jogar a bola lá. Depois, o lateral esquerdo da equipa da equipa do Lille estava sempre em cima do Quenda, mas ninguém estava em cima do Trincão e podiam inverter as posições no sentido. O Quenda esticava e o Trincão ia buscar a bola facilmente. Esses pequenos pormenores, acho que os jogadores já têm que ler melhor isso. Nos pontapés de baliza, se o Ousmane for para dentro da área, como eles têm menos um, abre completamente o jogo. Acho que os jogadores são novos, mas já podemos dar esses passos sem estar sempre a ser o treinador. Porque eles têm inteligência e conhecimento do jogo para isso. O Ousmane fez para aí dois passes seguidos na profundidade para o Viktor. Eu sei que nos ajuda a esticar. Eu sei que jogamos em casa e o público quer é que nós avancemos com a bola, mas ninguém pressionava o Ousmane. Portanto, tivemos que empurrar a equipa do Lille para não andarmos a correr só atrás da bola, porque houve ali uma fase que o Angel Gomes, o outro médio-centro e o ala juntavam-se ali e andavam a fazer trocas de meia hora com a bola, digamos assim. E nós a correr muito atrás da bola. Foi basicamente isso, explicar um bocadinho essa ideia. Mas nada de mais porque eles já têm esse conhecimento.
O Sporting sofreu quatro golos contra o Porto mas há quatro jogos que não sofre. O que mudou?
Com o Porto, foram dois lançamentos e o Debast num mau corte e, depois, uma carambola. Há dias que os jogadores não fazem tanta coisa mal, mas os golos acontecem. E hoje passámos a bola ao adversário e não sofremos golo pelo Franco. Portanto, às vezes é de sorte. É ou acontece ou não acontece. Acho que o facto de não jogarmos com nenhum lateral demora um bocadinho. O Quenda está melhor defensivamente, o Geny já tem algum trabalho nesse aspeto. O Nuno Santos também. Precisa de melhorar a agressividade também, porque nós estamos a jogar sempre com alas. Eles têm que melhorar nesse aspeto. E acho que temos crescido, temos sido compactos, muito concentrados, bons nas bolas paradas. Acho que isso é um bocadinho de sorte e também algum trabalho mais com os jogadores.