A noite em que o Fenómeno dançou no gelo: «É o melhor 9 de todos os tempos»
Para Moriero, Ronaldo é «o melhor 9 de todos os tempos»

A noite em que o Fenómeno dançou no gelo: «É o melhor 9 de todos os tempos»

Francesco Moriero relembra a exibição de Ronaldo na meia-final da Taça UEFA de 1998 e o momento da celebração

14 de abril de 1998. As meias-finais da Taça UEFA opunham Spartak Moscovo e Inter. Depois de uma vitória por 2-1 em casa, os italianos deslocavam-se à Rússia para apanharem, em abril, temperaturas negativas e neve e gelo, como conta Francesco Moriero. «Nunca joguei num campo como este. Fomos experimentar o campo e senti logo os tornozelos sobre o relvado», começou por dizer o antigo extremo direito à Gazzetta dello Sport.

Com uma vantagem de um golo após vitória por 2-1 no Giuseppe Meazza, os nerazzurri até ficaram atrás, com golo de Tikhonov, e, com a regra dos golos marcados fora de casa, o Inter estava fora. Até que... apareceu Ronaldo. Fez dois golos - o segundo, com um grande gesto técnico - e Moriero nunca mais se esqueceu. «Olhávamos uns para os outros e dizíamos 'como é que vamos ganhar este jogo?' Para nós, ir num um para um era importante e para o Ronaldo teria sido difícil implementar o seu jogo. Mas ele não disse nada. Talvez já soubesse que ia inventar qualquer coisa», afirmou. E depois, explicou o lance do 2-1: «Não sei como fez isso. Vesti duas camisolas, protetor de pescoço, de ouvidos, tudo. Sofremos o golo logo aos 10 minutos. Mas Ronaldo bastou. Pode ter tocado na bola 10 vezes, mas não correu no gelo, ele patinou. Dançou. Aquele golo é lendário: parou, combinou com o Zamorano, uma finta para passar por dois defesas, outra para tirar o guarda-redes do caminho e está lá dentro. Tudo em poucos metros, com tanta velocidade.»

Partilhar o relvado com O Fenómeno foi «um privilégio» para Moriero: «Foi um privilégio, uma honra e um prazer. Para mim, o melhor número 9 da história. Estava 10 anos à frente de todos. Tinha tudo: técnica, força, velocidade, faro de golo.» Só ficou um arrependimento: não poder ter usado a «imagem de marca». «O meu único arrependimento foi não estar em campo para engraxar a chuteira dele [uma celebração], como tinha feito com Recoba. Depois, os outros copiaram, mas foi uma imagem de marca nossa», explicou.

Moriero 'limpa a bota' a Ronaldo (IMAGO)

A vitória significou a passagem à final da Taça UEFA e, depois, foi preciso comemorar. Uma festa que «não foi necessariamente sóbria»: «No balneário, desarrumámos tudo. Dissemos a nós mesmos: 'Temos de comemorar.' Não nos deixavam entrar em nenhuma discoteca, não estávamos suficientemente bem vestidos. Lá encontrámos uma só para nós. Mesmo quem não bebia muito, como eu, deixava-se levar. Voltámos para o hotel de manhã. O presidente e Simoni [treinador] estavam na receção. Lembro-me bem do esforço que fiz para chegar ao elevador sem mostrar que estava a cambalear...», conta Moriero.

O extremo-direito deixou elogios à equipa. «Jogávamos de cor, o balneário emanava positividade. O grupo do triplete [em 2010, o Inter venceu a Serie A, a Taça de Itália e a Liga dos Campeões, com José Mourinho ao comando] entrou para a história, mas teve um antecessor: nós. Representávamos o espírito do Inter. Éramos uma mistura perfeita de campeões e colegas de equipa que corriam por eles. Divertíamo-nos e deixámos algo para trás», recorda Moriero, que deixa uma confissão sobre o final de carreira: «Deixei de jogar quando me disseram que tinha de jogar a dois toques. Disseram-me 'não faças isso, tens de fazer aquilo'. Não me sentia o mesmo Moriero que se divertia e podia entreter as pessoas.»