«A minha mulher não dormiu quando soube que isto podia ser possível» (tudo o que disse João Pereira)

FUTEBOL09.12.202420:51

Treinador do Sporting acredita que a reversão do mau momento pode começar já esta terça-feira frente ao Brugge. E diz que sabia — tal como a mulher — que seria altamente escrutinado.

BRUGGE — Vê este jogo como oportunidade de confirmar o objectivo do playoff e elevar o moral da equipa depois desta sequência de resultados menos positivos? Perguntava-lhe também, não tendo Morita nem Daniel Bragança, sobre os jovens jovens da formação que conhece muito bem...

— Conheço perfeitamente os jogadores que vieram connosco para Brugge, tenho plena confiança na capacidade deles, por isso estão nesta convocatória. São jogadores que trabalham bem. O Simões já está há algum tempo integrado nos trabalhos da equipa principal, mesmo antes de eu ser o treinador, porque era um jogador que tinha um elevado nível na equipa B e o Ruben reconheceu isso. Em relação ao Arreiol, ao Mauro e ao Brito digo o mesmo: muita confiança neles se tiverem de jogar. Se tiverem de entrar, se tiverem de jogar de início, tenho total confiança como tenho em todos os outros. E sim, este jogo é mais uma oportunidade. Todos os jogos são uma oportunidade para reverter o momento em que nos encontramos. Vamos encontrar uma equipa que não perder há 10 jogos. O Sporting também não tem tido resultados muito positivos aqui na Bélgica nas competições europeias e esse é mais um mote para nós. Podemos ser a primeira equipa a ganhar aqui e motivar-nos para o que aí vem da temporada, e ainda falta muito.

— Frederico Varandas falou pela primeira vez desde que este ciclo negativo começou. Gostava de ter ouvido um voto de confiança por parte do presidente?

— O maior voto de confiança que o presidente, o Hugo Viana, a Direção, podiam ter dado era terem-me colocado neste lugar. Maior voto de confiança do que esse não existe. E claro: aconteça o que acontecer, eu vou estar aqui, no estádio, em todo o lado para dar a cara. Eu sou o rosto da equipa e estou cá para dar a cara sem qualquer tipo de problema.

— Sente-se mais escrutinado do que estava à espera neste momento, tão pouco tempo depois de ter iniciado o percurso na equipa principal?

— Não. Já estava mentalizado para isso, é normal. Em Portugal vive-se muito o futebol e quando se assume um cargo destes é normal as coisas a acontecerem. A minha mulher sofreu um pouco mais do que eu, não dormiu. A partir do momento que sabia que isto poderia ser possível, não dormiu. E sofre muito mais do que eu em termos de nervosismo e tudo. Eu sofro porque infelizmente não temos conseguido ganhar e fico triste como toda a gente

— Pode garantir um Sporting confiante frente ao Brugge?

— Amanhã vamos estar confiantes como estivemos com o Moreirense. fizemos uma análise fria daquilo que aconteceu em Moreira de Cónegos. Podemos não ter jogado o nosso melhor futebol, pode não ter sido o melhor jogo do Sporting nesta época, mas não fizemos nada que nos levasse à derrota. Acho que em todas as análises frias que se podem fazer se conclui que o Sporting foi superior. Teve mais oportunidades de golo, podíamos ter saído de lá com a vitória. Não saímos, mas os jogadores entraram confiantes em campo. Vi uma equipa completamente diferente da que tinha visto contra o Santa Clara. Muito mais disponível, muito mais em busca da vitória e por isso, às vezes, até partimos um pouco mais o jogo do que devíamos ter feito, na ânsia de mostrar que éramos capazes. Os jogadores vão estar confiantes para amanhã e vamos lutar pela vitória para garantir, ou quase garantir, já os play-off e não termos que pensar muito mais sobre isso.

— A eventual inclusão de um jovem no meio-campo pode mudar a forma de a equipa jogar? Por outro lado equaciona, por exemplo, trazer de volta o Dário Essugo, que está emprestado ao Las Palmas?

— Neste momento conto com os jogadores que estão na equipa principal e com os que estão na equipa B. Podem jogar os miúdos, pode haver alguma adaptação, mas a equipa vai jogar da mesma forma, porque treinamos todos os dias. Dando um exemplo: se o Trincão tivesse que jogar naquela posição saberia o que teria de fazer. O Viktor se calhar podia ser um bocadinho mais complicado, mas ele sabe o que é que tem que se fazer naquela posição, isso é o bom de treinar, os jogadores reconhecerem o que é que os colegas deles fazem nas suas posições, porque algum dia podem ter que jogar lá, até por uma lesão durante o jogo, ou por falta de substituições. Têm que estar todos preparados para isso.

— O João é treinador, já foi jogador, mas é um homem, é um ser humano. Até que ponto consegue aguentar esta pressão?

— Eu vou até ao fim. A vida nunca me foi fácil e se não aguentasse a pressão se calhar não estava aqui hoje. Lembro-me que quando comecei a jogar à bola muita gente dizia «é franzino, é pequenino, não joga de pé esquerdo, não joga de cabeça, é refilão, só dá porrada, nunca vai conseguir singrar no futebol». E o que aconteceu é que felizmente tive a carreira que tive e acho que foi uma carreira simpática para aquilo que muita gente esperava de mim. Quando comecei a minha carreira de treinador lembro-me que os primeiros anos foram complicados. Recordo-me perfeitamente que ficámos perto dos últimos lugares com os sub-23 do Sporting e dizia-se «temos um jogador que não percebe nada disto, não tem vida para ser treinador, tem vida é para jogar, esqueçam isso, mandem-no embora». Passados três anos fizemos uma excelente época nos sub-23, a primeira vez que passámos à fase final, que fomos à taça, estivemos a um ponto de ser campeões nacionais. A partir daí se calhar «o João Pereira já é bom para ir para a equipa B, o João Pereira já é o futuro do Sporting». Chegámos à equipa B, a equipa praticava bom futebol, a jogar bem na Youth League, com o apuramento quase garantido, tudo correu bem. Começou a falar-se da saída do Ruben Amorim e dizia-se: «Se calhar temos ali a pessoa certa para o lugar». Chegámos aqui e os resultados não têm sido aquilo que se esperava. «O João Pereira já não presta». É normal, a vida de um treinador vive à base de resultados, e se os resultados não aparecerem é normal haver e dúvidas. Eu não posso ter dúvidas é daquilo que penso e daquilo que quero que a minha equipa faça. Eu é que não posso ter dúvidas, e não as tenho. E estou confiante de que amanhã vamos fazer um bom jogo e o futuro vai ser muito melhor.

— O Sporting faz muitos mais cruzamentos do que na era de Ruben Amorim. O João já falou que quer pôr o seu cunho na equipa, mas tendo um avançado cujo ponto fraco é o jogo de cabeça, como o Gyokeres, acha que isso faz sentido? De que forma isso pode ou não ser alterado na equipa?

— Não sei se o jogo de cabeça é o ponto fraco do Gyokeres, até nos cantos tem sido ele a ganhar algumas bolas de cabeça ao primeiro posto, importantes, que não deram golos mas podiam ter dado. Quanto ao jogo exterior, se calhar estava a falar maioritariamente do jogo contra o Moreirense. Se formos analisar friamente outra vez, o Moreirense jogava num 4x4x2, e uma linha de quatro tem muito mais dificuldade em defender a largura. Se aproveitarmos a largura para chegarmos ao último terço e fazer cruzamentos pode ser bom. Mas o cruzamento não tem de ser sempre para a cabeça, o cruzamento pode ser rasteiro, como já dizia um ex-treinador meu, é um cruzamento-passe. Falta-nos definição no último terço. Se virem a quantidade de vezes que conseguimos entrar por dentro do meio-campo e entre linhas da equipa do Moreirense, se calhar no último terço também tínhamos de decidir um bocadinho mais fora do que decidimos, porque eles fechavam muito dentro, Se calhar foi por isso que houve mais cruzamentos do que tem havido.

— Depois de o presidente Frederico Varandas ter dito que o João foi uma escolha da estrutura considera que o sucesso da direção a breve e médio prazo também está dependente do seu sucesso desportivo, colocando ainda mais pressão sobre si?

— Eu tenho pressão todos os dias. A direção, o presidente, o diretor desportivo, quando escolhem um treinador escolhem-no para ganhar. E como a direção vive de vitórias, como o presidente vive de vitórias, como o clube vive de vitórias, quanto mais se ganha, mais tranquilidade existe. Com 11 vitórias seguidas e agora três derrotas claro que há alguma apreensão, mas o importante é o que eu sinto e toda a gente sente dentro da estrutura do Sporting: estamos todos juntos, todos a remar para o mesmo lado, todos com a mesma vontade e ninguém abandona ninguém.

— Se não tiver um resultado positivo aqui em Brugge o treinador do suporting continua a ser uma solução ou passa a ser um problema para Frederico Varandas?

— Acredito que nunca vou ser um problema para o Sporting.

— A imprensa destacou episódios de grande tensão no balneário do Sporting após à derrota com o Moreirense. Como lida com esse ambiente? Sente que tem os jogadores consigo?

— Primeiro, não existiu nada no balneário do Sporting. Existiu tristeza e decepção pelo momento e pela derrota. Não houve nada mais no balneário e o meu era mesmo ao lado. Se eu estava ao lado e não ouvi nada, dificilmente alguém pode ter ouvido ou sabido de alguma coisa, é quase impossível. O meu balneário era mesmo ao lado e não houve gritos, não houve tensão nenhuma, os jogadores estavam tristes, estavam decepcionados, é normal. Depois do grande momento em que estavam, de repente há três derrotas seguidas, abalam como toda a gente, somos seres humanos. Mas os jogadores estão confiantes, os jogadores sabem que podem dar a volta e agora é entrar no jogo de amanhã (terça-feira) confiantes, concentrados, focados, alertas para aquilo que temos de fazer durante os 90 minutos, mais os tempos de desconto: jogar como um bloco, tanto a atacar como a defender, e controlar o jogo na maior parte do tempo, para termos mais oportunidades de golo e podemos sair daqui com uma vitória.