Estoril-Arouca, 4-1 A mensagem de pacificação: acabem os tumultos! (crónica)
Canarinhos golearam Arouca em tarde de contestação que nem a vitória silenciou totalmente
A mensagem afixada numa tarja negra fora o Estádio António Coimbra da Mota, mas visível dentro do mesmo era inequívoca: «O treinador, ou os adeptos. Vocês escolhem».
Mas apesar de ser dirigida à administração da SAD do Estoril, foi levada muito a peito pelos jogadores.
Depois de uma semana em que a contestação subiu de tom na Amoreira, fruto da eliminação da Taça de Portugal, que se juntou a um ciclo com apenas uma vitória em nove jogos, uma possível derrota na receção a um adversário direto na luta pela fuga aos lugares de despromoção, poderia ser fatal no destino de Ian Cathro.
Os jogadores, porém, fizeram a sua escolha. E deixaram-na clarinha como água.
Apesar da melhor entrada do Estoril, principalmente graças às arrancadas de Fabrício na esquerda do ataque, foi o Arouca quem marcou primeiro. A defesa estorilista deu demasiado espaço a Ivo Rodrigues na direita e o extremo cruzou e Henrique Araújo.
E se esse golo aos 24 minutos podia afundar ainda mais o Estoril no buraco onde a equipa já estava, a resposta não demorou a surgir e foi inequívoca.
Duas subidas de Pedro Amaral pelo corredor esquerdo terminaram em igual número de assistências. Primeiro para Marqués empatar (30’) e depois para Wagner Pina fazer a reviravolta, aos 42’, também com direito a mensagem, com maior ou menor significado, de um jovem de 21 anos, com origens cabo-verdianas, que nasceu nos subúrbios de Lisboa e não festejou, limitando-se a fazer um gesto contra o racismo.
Mesmo com o Estoril em vantagem, a 2.ª parte trouxe um subir do tom de… contestação. A claque entrou para a bancada e trocou o apoio à equipa pela contestação a Ian Cathro.
Porém, é dentro de campo que se joga. É ali que se resolvem jogos. E se decidem futuros. E o de Ian Cathro, pelo menos a breve prazo, deve continuar na Linha. Foi isso que disseram os jogadores, liderados pelo capitão Pedro Álvaro que depois de apontar o 3-1 chamou todos os companheiros para junto do banco para um abraço coletivo a envolver o treinador.
Era o virar de página. Meter a sorte de pernas para o ar no Estoril. Porque se não bastasse o golo do central canarinho ter surgido três minutos de pois de a possibilidade de empate arouquense ter batido com estrondo no poste, após remate de Jason, o mesmo jogador desperdiçou, aos 80’, um penálti que poderia relançar a discussão do vencedor da partida.
Robles teve mérito na forma como defendeu e evitou que um erro infantil de Boma colocasse em causa a reviravolta da equipa da casa, e a cereja no topo do bolo foi colocada por Holsgrove, aos 90’, no melhor golo do jogo.
Numa espécie de justiça poética à moda escocesa, o médio compatriota de Ian Cathro arrumou na gaveta a contestação com um livre direto de muito longe que deu início a novo abraço coletivo junto do banco.
Já todos entenderam a mensagem?