A lição de Rúben Amorim depois da goleada ao Boavista
Treinador do Sporting fala de tudo abertamente: a importância de Gyokeres e o que ele ainda tem de melhor, a sugestão a Roberto Martínez, a sorte nas contratações e muito mais
— Sporting encerra ciclo infernal, começa este jogo em desvantagem, o que permitiu esta reviravolta e esta segunda parte demolidora?
— Primeiro, os adeptos. Depois de sofrermos o golo, bateram palmas e puxaram a pela equipa. Na primeira parte, senti o estádio tranquilo, falhámos algumas tabelas, tivemos alguns maus passes, mas senti sempre que confiavam que iríamos dar a volta. O golo antes do intervalo foi muito importante, depois não demos qualquer hipótese na segunda parte, quase não houve ataques do Boavista. Criámos mais oportunidades também porque o Boavista começou a cair fisicamente. Vitória justa e mais uma vez marcámos muitos golos e o Boavista marcou na única oportunidade.
— A noite fica marcada pelo hat trick do Gyokeres. Paulinho já marcou 16 golos. Que palavras tem para ele?
— As mesmas de sempre: às vezes os golos aparecem outras não. Da mesma forma que olhava para as exibições do Paulinho e não via só o que marcava mas tudo o que fazia, agora faço o mesmo. Tem marcado mais golos, mas jogado menos tempo. Está às vezes num papel mais difícil, por estar descaído para um dos lados, mas é muito inteligente, dá-nos muito, outro peso nas bolas paradas. É muito importante para nós.
— Sem opções ofensivas no banco, o Sporting volta a golear. Tem 117 em todas as provas e 75 no campeonato. Como explica esta máquina goleadora?
— Explicação tem a ver com a qualidade dos jogadores, que têm muito tempo de treino, a aquisição de um jogador que nos deu uma capacidade de rotura a toda a hora e capacidade física diferente. Isso ajudou a tornar a equipa mais perigosa, o facto de jogarmos sem laterais, mas com extremos, tudo ajuda, os centrais cada vez constroem melhor, os médios-centro têm mais mobilidade, descobrimos os melhores espaços para eles jogarem. O conhecimento entre eles ajuda muito. São vários fatores que se juntarem.
— Portugal vai jogar com a Suécia. Como adepto da seleção, está preocupado e vai dar dicas a Roberto Martínez?
— Nada. É meter o [Gonçalo] Inácio, conhece-o bem e não haverá qualquer tipo de problema.
— Sente que este é o Sporting mais difícil de bater desde que chegou a Alvalade?
— Não, porque na primeira época tivemos apenas uma derrota, quando já éramos campeões, isso é difícil de bater. Mas jogávamos de uma forma que não era sustentável para uma equipa grande, tínhamos de dar o passo a seguir. Fomos dando, sinto que a equipa é mais completa, mas a diferença para o segundo lugar é de um ponto. São equipas que jogam de forma diferente, temos um trabalho que vem de trás, fomos arranjando soluções para os jogadores que saíram e tivemos sorte nas aquisições, o avançado mudou a nossa equipa, o Morten [Hjulmand] é melhor do que pensávamos. É preciso ter sorte nessas pequenas coisas que tornam uma equipa muito mais forte, imprevisível e melhor ofensivamente, mas ainda temos problemas defensivos, apesar de considerar que defendemos melhor. Em poucas oportunidades sofremos golos.
— É a melhor equipa a jogar em Portugal?
— Vi o FC Porto jogar com o Arsenal e não podemos dizer isso. Depende do jogo e da fase. Temos sido constantes nas nossas exibições e isso chama a atenção das pessoas. Temos marcado mais golos, as pessoas querem ver golos e quem marca mais é quem dizem que joga melhor. Estamos bem e os outros também.
— O que tem Gyokeres para melhorar?
— Muita coisa. Hoje melhorou: joga da mesma maneira contra um central lento ou rápido. Tudo o que faz na Liga portuguesa fez contra a Atalanta. Esse entendimento do jogo ainda pode melhorar. Às vezes defende muito, mas falta-lhe um pouco a reação defensiva dos cinco metros. É muito novo. Pode melhorar na primeira ligação. Mas quero realçar o que nos dá: estica a equipa, deixa-nos descansar, ganha faltas, as equipas têm de substitui os centrais, por estarem cansados ou com amarelos, isso dá outra dimensão à equipa, ajuda-nos muito.
— Vários jogadores do Sporting têm-se lesionado. É a morte do artista se Gyokeres se lesionar?
— Não vamos saber, se Deus quiser. Só saberíamos se ele se lesionasse. Agora, obviamente, seria difícil substituí-lo. Mas como é difícil substituir o Pote e outros. Mas seria um problema grande ter uma lesão. Também já foi poupado, vai fazendo gestão, comanda o esforço dele, pára, um médio-centro não pode. Vai aguentar até ao fim.
— O que se passou com Hjulmand, que saiu ao intervalo?
— Tem feito muitos jogos e tinha amarelo. Qualquer transição poderia levar o segundo. Para salvaguardar isso e para usar o Dani [Daniel Bragança]. Foi muito difícil deixá-lo fora. Deu muita qualidade entre linhas.
— E o que se passou com Trincão?
— Tem um problema no pé. Quando a medicação começa a perder o efeito na segunda parte, cada vez que bate na bola tem um problema no pé. Tem de ir à Seleção, será reavaliado.