A leveza de um dragão que adora o número 4 (crónica)
João Mário persegue Talisca (FOTO GRAFISLAB)

FC Porto-Al Nassr, 4-0 A leveza de um dragão que adora o número 4 (crónica)

NACIONAL28.07.202420:46

Nico González bisou, Iván Jaime sorriu no golo e ‘deu’ a Gonçalo Borges o penálti para o 4-0. Sem os seis internacionais, e mesmo frente a um Al Nassr sofrível, azuis e brancos revelaram uma dinâmica atacante muito interessante

Uma goleada de 4-0 (o algarismo preferido dos azuis e brancos, que marcaram quatro golos em seis ensaios!) a embalar o dragão para o primeiro jogo oficial da época – a final da Supertaça, sábado, frente ao Sporting. Pagou uma fatura pesada o Al Nassr, de Luís Castro, pelo grande remate de pré-época do FC Porto de Vítor Bruno, num ambiente vibrante no Dragão que estimulou a melhor versão de uma equipa que não utilizou nenhum dos seis internacionais que estiveram no Euro 2024 e Copa América. Ora, esse dado não deixa de ser importante: significa que os azuis e brancos, sem reforços, têm uma base já muito bem trabalhada e com dinâmicas bastante interessantes.

Desde logo, emerge um sentido coletivo que autoriza o FC Porto a ser um conjunto mais criativo e imprevisível para o adversário. A bola não chora nos pés dos médios. A estrutura tática, essa é a mesma, 4x2x3x1, mas a forma como os jogadores se envolvem no processo é diferente. Iván da esquerda para o meio, Namaso do meio para a zona da meia lua, Grujic e Alan Varela sólidos a defender  e fluidos na construção de jogo, Nico González com liberdade para se dedicar ao golo. Pode parecer demais, e é um pouco, mas resulta numa matriz que torna o dragão mais atrativo e, sobretudo, mais efetivo na relação com a baliza contrária.

Não há pontos fracos neste FC Porto? Há. Os lances de bola parada defensiva ainda constituem uma dor de cabeça, mesmo frente a um Al Nassr sem Ronaldo e que só mesmo em livres e cantos criou algum perigo. E pouco. No todo, a equipa de Vítor Bruno joga com uma leveza extraordinária, cerca a presa com paciência e em toques de magia consegue penetrar em estruturas densas.

O primeiro e segundo golos foram disso um bom exemplo. Um belo cruzamento da direita de João Mário, após passe açucarado de Grujic (sim, leram bem) para o lateral-direito resultou no cabeceamento poderoso de Nico. Ainda com as bancadas a celebrar, novo golo, toque de calcanhar de Namaso a isolar Iván Jaime e este, sem contemplações, a enviar dinamite para a baliza de Alaqadi.

O  terceiro golo foi uma exceção. Um lance caricato protagonizado por Otávio, que se imaginou ainda no FC Porto e assistiu Nico. A intenção do baixinho era nobre, entregar a bola ao seu guarda-redes, mas o cabeceamento saiu mal calibrado e com o destino errado. Imparável, o FC Porto continuou a exercer domínio sobre os sauditas e Iván Jaime sentiu a dureza da marcação de que foi alvo. Carregado na área, o penálti acabaria bem convertido por Gonçalo Borges. O extremo pediu ao espanhol para ser ele a marcar e Iván não foi insensível ao pedido. Isto diz muito sobre a atmosfera que se vive no plantel.

E podiam ser 5!

A ganhar por 4-0, o FC Porto tirou um pouco o pé do acelerador e o Al Nassr regressou do intervalo mais organizado, mas ainda com um futebol sofrível. Menos velocidade, menos oportunidades, e com as substituições o jogo reforçou o caráter de treino em ambiente festivo. Ainda assim, no último quarto de hora, os portistas podiam ter chegado ao quinto golo – aos 90+1 Al Lajami tirou a bola rematada por Fran Navarro em cima da linha de baliza!

Será interessante verificar a dimensão deste FC Porto quando os internacionais entraram em pleno. Não há dúvidas de que parte do caminho está feito e a tese de que há jogadores que podem dar mais nas mãos de Vítor Bruno vai ganhando mais força. Grujic, tão mal-amado, é destes casos. Vá portistas, não custa nada admitir que o sérvio está num nível superlativo, e que com ele as costas de Nico ficam mais protegidas. Gonçalo Borges, Iván Jaime, sem esquecer o ouro que vem da formação, Vítor Bruno tem matéria-prima de qualidade para projetar uma época de sucesso. Claro que são os jogos a doer que vão mostrar a fibra deste dragão.