12 novembro 2023, 22:39
Vídeo: o golo de Tengstedt, válido por 4 cm, que decidiu o Benfica-Sporting nos descontos
Dinamarquês marcou aos 90+7 e águias encostaram no rival
A BOLA conta como companheiros e Benfica olham para o avançado dinamarquês; clubes turcos, espanhóis, neerlandeses e italianos manifestaram interesse em contratá-lo em janeiro
Quando chegou a Lisboa, na noite de 10 de janeiro, com uma t-shirt branca e calças desportivas pretas, Casper Tengstedt, acompanhado do diretor desportivo dos encarnados, Rui Pedro Braz, parecia mais assustado que entusiasmado por estar a trocar o Rosenborg pelo Benfica. No dia seguinte, na apresentação oficial como reforço das águias, arriscou um sorriso tímido ao lado de Rui Costa, poucas mais emoções sugeriu nas restantes imagens partilhadas pelo clube. Quem o viu, eufórico e exuberante, numa celebração em êxtase perto do descontrolo emocional, na pele de herói improvável, depois de marcar o golo do Benfica aos 90+7 minutos no dérbi, domingo, com o Sporting, talvez pudesse pensar que não era a mesma pessoa. Mas é mesmo.
Casper Tengstedt, 23 anos, justificaria, já com frieza, no final do jogo, que tinha sonhado com aquele momento. Foi, não é difícil concluir, o melhor que viveu no Benfica. Aquele que dificilmente o avançado dinamarquês e os benfiquistas esquecerão.
Já, provavelmente, ninguém se lembrará do que dissera no momento da apresentação, até porque, por essa altura, o estado de espírito dos benfiquistas estava dominado pela novela Enzo Fernández, que acabara de marcar em Paços de Ferreira, sugerindo que estava comprometido com os encarnados.
«Venho ajudar com golos», disse, então, Tengstedt, palavras que podiam, muito bem, ser encaradas como próprias da circunstância. Anunciou-se como «ponta de lança que também pode jogar nas alas» e acrescentou com pouca convicção: «Penso que remato bem.»
O Benfica investia €7 milhões (mais três de bónus) em Tengstedt, pensando no avançado mais para o futuro que para aquele presente. O tempo está a confirmá-lo. Até ao final da última época, Roger Schmidt utilizou-o apenas quatro vezes, nenhuma das quais como titular, condição de que beneficiou em quatro jogos na equipa B na Liga2. Nenhum golo marcado. Mas, como A BOLA anunciou em tempo oportuno, seria aposta nesta temporada.
Os encarnados ficaram bem impressionados com os números de Tengstedt no Rosenborg (14 jogos, 15 golos e seis assistências) e certificaram com observações a opinião de que justificaria o investimento. Vários clubes, como AZ Alkmaar ou Celta, estavam também interessados no dinamarquês em janeiro – os neerlandeses chegaram mesmo a apresentar uma oferta ao Rosenborg, quando o Benfica tinha o negócio controlado.
Tengstedt chegou à Luz com muita timidez. Esse traço da personalidade mantém-se, mas, quem acompanha os trabalhos, já o vê «mais solto». Aproximou-se do compatriota Alexander Bah e dos noruegueses Fredrik Aursnes e Andreas Schjelderup – os quatro formaram o unido grupo nórdico do plantel.
Mantém caratcterística que é valorizada pela equipa. Reconhecem-lhe profissionalismo e disciplina, veem nele alguém que «dá a vida» em campo, seja quando entrar de início ou apenas na fase final da partida (e isso já puderam os adeptos confirmar) e que se «sacrifica» pelos companheiros, como por exemplo quando se afasta das zonas de finalização para compensar os movimentos de Di María, Rafa ou David Neres. Justifica, por isso, o respeito dos companheiros, como se atesta pelas reações nas redes sociais depois do dérbi.
Tengsted, esta época, foi utilizado por Roger Schmidt 12 vezes, duas das quais como titular, uma na Liga (com o Estoril) e outra na Taça de Portugal (com o Lusitânia), em jogos consecutivos. Mais importante: marcou dois golos. E sem os golos dele, contra E. Amadora (2-0) e Sporting (2-1), a história do Benfica no campeonato seria bem diferente – abriu o marcador com os amadorenses aos 79’, um minuto depois marcou, ofereceu a vitória no dérbi aos 90+7’.
12 novembro 2023, 22:39
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Esse impacto positivo não tem passado despercebido. A prova disso teve-a o Benfica no recente congresso TranferRoom, que reuniu os principais agentes de futebol, entre os quais muitos clubes europeus, no Estoril, no início desta semana. O golo de Tengstedt ao Sporting ainda estava fresco e representantes do Benfica foram confrontados com abordagens de clubes turcos, neerlandeses, espanhóis e italianos, interessados na contratação do avançado dinamarquês. Mas a todos foi dada a mesma resposta – impossível sair em janeiro.
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Tengstedt assinou contrato com o Benfica até 2028 e tem cláusula de rescisão de €100 milhões. O golo ao Sporting só reforçou a convicção dos encarnados de que fizeram uma escolha certa. Na Luz, tem-se em consideração, também, que o avançado ainda é jovem e está a dar os primeiros passos e que, na verdade, nem 10 meses tem de Benfica (excluindo as férias de verão).
Casper Tengsted está mais próximo, no plantel, dos escandinavos, mas tem boa relação com todos os companheiros. No final do jogo com o Sporting, o avançado recorreu à conta do Instagram para assinalar que Lisboa ainda é vermelha e branca. E, como acontece em situações semelhantes, houve logo reações. «Amo-te», escreveu, em português, Fredrik Aursnes. O norueguês foi dos que mais festejaram com o dinamarquês ainda em campo.
«Papai», reagiu David Neres, que não pode dar o contributo à equipa por estar lesionado. «Lindo», comentou João Mário. E até no Brasil Lucas Veríssimo aplaudiu.
O compatriota Alexander Bah, também ausente por lesão, esteve no balneário e partilhou foto aproximada da cara de Tengstedt. Na Dinamarca, Andreas Schjelderup entrou nos comentários para publicar emojis com corações. E Mihailo Ristic, agora no Celta, sublinhou o instinto matador do ex-companheiro.
Kenneth Andersen conheceu Casper Tengsted nas camadas jovens do Midjylland. Já lá vão uns aninhos. O atual treinador do Mafra, da Liga2, revela a A BOLA que ainda mantém contacto com o avançado do Benfica.
«Sim. Casper gosta de Portugal. Está num ambiente muito bom. Gosta muito de Portugal e do Benfica», atira Andersen, que puxa o filme atrás para recordar «um avançado muito bom já naquela altura». «Trouxemo-lo para a academia do Midtjylland e conseguimos ver logo que era um bom finalizador. Conseguia finalizar com a cabeça, com o pé direito, com o esquerdo, era um ótimo finalizador», lembra, para revelar aquilo que talvez poucos saibam: «Era um tipo aberto, um tipo simpático, os colegas de equipa gostavam muito dele. Mas também – e por vezes isso também é importante – para ele era mais importante marcar golos que fazer amizades.»
Andersen acompanhou o percurso de Tengstedt que, depois do Midtjylland, o conduziu ao Horsens, Dinamarca, e Roseborg, Noruega, antes de chegar à Luz. «Tinha a certeza de que podia atingir um nível alto. Só não sabíamos que é que isso iria acontecer. Sabíamos que poderia acabar num clube maior e que depois o veríamos assim. É muito bom que ele tenha aproveitado as oportunidades», partilha o treinador dinamarquês do Mafra.
Andersen só não responde se Tengsted deveria ter mais oportunidade «porque isso é uma decisão do treinador do Benfica» e desconhece se estar será a altura certa para jogar mais. «Para mim, é importante que os jogadores aproveitem as oportunidades, como fez Casper desta vez no dérbi com o Sporting. Ele só precisa de estar pronto para aproveitar os minutos que lhe dão, não importa se são cinco, dez, uma parte ou mais. Só precisa de estar pronto», argumenta.
O norueguês Andreas Schjelderup voltou aos dinamarqueses do Midtjylland. Andersen não salta para fora de pé, diz que não conhece a situação em detalhe, mas acredita que o jovem extremo «estava na mesma situação de Casper». E remata: «Se o Benfica e ele concordaram que era o melhor, a decisão é deles. Mas estou contente por Casper ter ficado.»