Sporting-Boavista, 3-2 A ferida ainda existe, mas ao menos já não sangra (crónica)
Leão continua com o corpo dorido e enfrenta inseguranças, mas para já estancou a ferida
A pele ainda está esfolada, o corpo permanece dorido, mas o leão conseguiu, finalmente, um pouco de descanso. Persistem tremores desconfortáveis, medos dominadores, inseguranças desconcertantes, mas o diagnóstico apresenta ligeiras melhorias. Ainda arde a ferida provocada pela saída de Ruben Amorim para o Manchester United, foi golpe que deixou marca que continua bem visível, mas ao menos parou de sangrar. João Pereira conseguiu finalmente estancar o trauma, na esperança de que o tempo ajude a curar por completo.
A ferida atingiu também o orgulho, e foi a isso que se agarrou o Sporting para uma entrada empenhada, de equipa revoltada até com a situação em que se colocou. Apesar dessa atitude, os primeiros minutos ainda ameaçaram acentuar o peso da Lei de Murphy, até porque St. Juste nem entrou na ficha de jogo, devido a síndrome gripal. Galo, terão dito muitos adeptos, que depois viram Hjulmand ficar com um hematoma na testa logo nos minutos iniciais, após choque de cabeça com Reisinho. Quando Gyokeres teve uma situação para golo fácil e viu a bola ressaltar em César, guarda-redes do Boavista, e sair por cima da barra (8'), muita gente terá julgado que o Sporting seria incapaz de virar a sorte.
Mas frente a um adversário esforçado mas inegavelmente fragilizado pelo contexto atribulado dos últimos anos, o Sporting foi alimentando a convicção de que seria possível alcançar outro resultado. Perante um Boavista fechado em 4x4x2 na organização defensiva, a equipa de João Pereira procurou a largura para encontrar espaços. Maxi Araújo e Geovany Quenda também começaram cedo a criar situações de perigo, mas Geny Catamo e Francisco Trincão mostraram maior acutilância no lado direito. Foi um cruzamento do português a proporcionar a segunda grande oportunidade desperdiçada por Gyokeres, com um cabeceamento que saiu a centímetros da baliza boavisteira. Mas quando o passe partiu, inesperadamente, de um jogador da equipa visitante, Pedro Gomes, que calculou mal o toque para o guarda-redes, o goleador sueco do Sporting já não se fez rogado.
Parecia alcançado o mais difícil, mas a vantagem no marcador fez mal à equipa leonina, que entrou numa espécie de gestão da atitude com que tinha entrado em campo.
O Boavista, que nos primeiros quarenta minutos praticamente não passou o meio-campo, conseguiu restabelecer a igualdade ainda antes do intervalo, com um cruzamento de Salvador Agra para Bozeník, perante a passividade total da defesa verde e branca (onde foi Debast?!).
Se permitir tal reação uma vez já era sinal da insegurança do Sporting, deixar acontecer duas vezes confirmou o bloqueio mental/emocional dos jogadores agora treinados por João Pereira.
O público de Alvalade mal teve tempo para saborear o 2-1 de Trincão, já que Bruno Onyemaechi restabeleceu a igualdade pouco depois, mas o internacional português conseguiu, ao minuto 66, apontar o golo, o bis, que acabaria por garantir o regresso do Sporting aos triunfos.
A insegurança deixou a dúvida no ar até ao apito final, mas João Pereira conseguiu a primeira vitória para a Liga, o que permite segurar a liderança da prova.
O tempo dirá se o remédio caseiro é bom o suficiente para garantir uma cura completa, que permita ao leão voltar a ser o que era, ou se uma nova queda, um dia destes, não vem destapar uma ferida ainda por cicatrizar.