Sporting-Benfica, 1-0 A estreia em Alvalade, a atitude da equipa e o pós-Amorim: tudo o que disse Rui Borges
Análise do técnico do Sporting à vitória frente ao Benfica
Rui Borges, treinador do Sporting, deixou largos elogios à atitude da equipa frente ao Benfica, mesmo na segunda parte, em que, diz, não houve tanta «inspiração». O técnico, que se estreou no banco dos leões logo no dérbi com as águias, diz que os atletas estiveram «recetivos» às novas mensagens da equipa técnica.
— O que sentiu quando pisou Alvalade? Acreditava que a equipa podia reagir de forma tão positiva à mudança tática?
— Sim. Sabia que os jogadores, nos três dias em que trabalhámos, mostraram abertura para ouvir, para mudar, para compreender, para aceitar, e isso é importante, e nós sentimos logo nos primeiros momentos. Senti-os tranquilos, com vontade de mudar o resultado negativo que traziam. Não fiz milagres. O mérito é todo da equipa, agarraram-se a pequenas coisas. Também prometi que não íamos estar 90 minutos em cima do Benfica, mas que, quando não estivéssemos, íamos ser uma equipa, que foi o que acabou por acontecer na segunda parte. Estar aqui é o concretizar dum grande objetivo, de um sonho, de há oito anos, quando comecei no clube da minha terra, o Mirandela, e não podia estar mais feliz pela vitória.
— Como é que, em três dias, mudou a atitude e a forma como os jogadores estavam em campo? Tem a ver com a confiança que passou? Ou foi a liderança?
— Isso é mérito deles. Eu fui o Rui Borges. Fomos a equipa técnica do Rui Borges, que os meus adjuntos são muitos importantes, com a nossa simplicidade, a nossa maneira de estar e de ser, tentámos que acreditassem nas poucas coisas que perspetivámos para o jogo. Dentro de algumas mudanças, nada de extraordinário. Acima de tudo, estavam prontos e capazes de ouvir e aceitar. Logo aí, foi um bom prenúncio. Sentimos que a equipa ia dar uma resposta muito boa. Sabíamos que ia estar muito longe do que a equipa técnica quer, ainda está muito longe. Fizemos uma grande primeira parte, em que podíamos ter feito mais que um golo. E a segunda parte foi bater à frase que eu disse: a primeira parte foi de inspiração e atitude e a segunda parte foi mais de atitude que de inspiração. Pedi que a equipa se agarrasse à energia que estava de fora para dentro e foi isso que aconteceu. A equipa agarrou-se à energia que vinha de fora, que foi fantástica durante 96 minutos, e fomos justos vencedores.
— O que pode trazer a esta equipa este regresso às vitórias e à liderança?
— Para mim, três pontos, apenas isso. Acima de tudo, tínhamos de nos focar no que tínhamos de fazer para ganhar. Ser primeiro é consequência da vitória. Focaram-se no que tinham de fazer para vencer, e muito bem. Na sexta-feira, vamos ter um jogo mais difícil, em casa do Vitória, que tem adeptos muito fervorosos. Hoje, podem festejar, têm esse direito, fizeram por isso, mas, a partir de amanhã, há que pensar no jogo com o Vitória, que vai ser muito difícil
— Sente que a equipa recupera confiança e se isso vale mais por ter sido num Sporting-Benfica?
— Vale o mesmo, independentemente dos adversário. É lógico que estes jogos são diferentes e os jogadores estão motivados por si só, é algo que é natural. Hoje, não precisava de os motivar nesse sentido. Precisava de os libertar, que não desconfiassem. Ali na segunda parte, houve momentos em que começámos a desconfiar um bocadinho, perdemos a posse de bola em momentos sem grande pressão do Benfica. Depois, conseguimos empurrar o Benfica com uma ou outra bola na profundidade para o Viktor [Gyokeres]. Às vezes, estivemos mal organizados na segunda parte, a pressionar alto, porque a vontade era tanta. Mas a atitude foi fantástica. A parte difícil agora é passar os 45 minutos de inspiração e atitude para mais que 45 minutos. No próximo jogo, talvez 60. Depois, talvez 70. A consistência vai levar a que ganhemos essa confiança. Eles não podem duvidar deles, são campeões nacionais. Não vou apontar nada daquilo que eles falharam. Vou apontar se não tiverem a atitude correta, mas depois do jogo de hoje, jamais apontaria o que quer que fosse.
— Como vai relembrar esta estreia em Alvalade? Como é que se viveu a segunda parte de menor inspiração?
— Não sei se durmo hoje… pela adrenalina, pela felicidade. Amanhã, acordo a pensar no Vitória. Conheço a equipa do outro lado muito bem e sei que é um jogo muito, muito difícil. Hoje, estou feliz, rio-me, mas amanhã, vou estar de cara fechada, muito sério, já com a cabeça a mil, a pensar no Vitória. Na segunda parte, foi sofrer com eles. Acima de tudo, senti-os confortáveis. O Benfica também não teve oportunidades claríssimas de golo. Honestamente, estava tranquilo, no sentido em que olhava para os jogadores e a alma deles era enorme. Se não fosse o individual, o coletivo ia conseguir anular isso. Senti muita alma na equipa e que íamos ganhar.
— Que impacto pode ter este salto para a liderança?
— O impacto é passar confiança aos jogadores. Eles têm de sentir que são bons, que são muito bons, que foram campeões nacionais porque são bons. É lógico que, a passar para primeiro lugar, a confiança aumenta. Não podemos é baixar os braços. Vai ser uma luta até ao final. Sei que vão agarrar-se àquilo que são, ao que foram estes três dias. Sou muito de sentir, por isso, para mim, é difícil dizer o que fiz com eles. Fui eu próprio. Tentei passar confiança ao máximo, tentei perceber algumas coisas, individualmente e coletivamente, falar com eles e ajustá-los aqui ou ali. A malta falava muito do sistema. Nós defendemos em 4x4x2, o Ruben já defendia assim, eles já estavam minimamente recetivos a isso. É certo que mudámos a forma como atacamos, mas é só um começo. Fomos construindo a quatro, a três, tivemos várias nuances. Eles acreditaram nisso, foram ganhando confiança e sentindo que eram capazes. Fizeram um belíssimo jogo, uma primeira parte fantástica, uma segunda parte mais sofrida, mas faz parte.
— Morita e Eduardo Quaresma saíram lesionados?
— O Quaresma foi desgaste. Saiu com cãibras. Fez um belíssimo jogo até sair. O Fresneda entrou muito bem, competitivo. Acredito em toda a gente. O Maxi, o Harder e o Simões entraram com o espírito que era preciso. Em relação ao Morita, não quisemos arriscar outra lesão, não vale o risco. Até porque o Simões tem dado boas respostas, seja em três dias comigo, seja com o outro treinador. Por isso, confio totalmente nos jogadores todos e deram todos uma resposta muito boa.
— A frase ‘Quando faltar inspiração, que não falte atitude’ foi usada pelos adeptos. Sente que pode ser um lema para este Sporting?
— Acredtio que sim. Tem sido uma imagem das minhas equipas: com qualidade mas muito competitivos. Os pergaminhos do Sporting são de alma. Temos de ter essa atitude de início ao fim, em todos os jogos, independentemente do que possa acontecer. Se a atitude estiver lá, os adeptos vão estar connosco até ao fim. Sempre. Foram muito importantes hoje. Se a energia for assim, seja da equipa, seja dos adeptos, não tenho dúvidas de que seremos muito felizes.
— Não a equipa com três centrais quando o Benfica colocou mais avançados. Foi para testar a equipa? Sente que surpreendeu Bruno Lage pela forma como montou o Benfica?
— Não. Penso que estava preparado. Os jogadores é que surpreenderam, com as dinâmicas que tiveram, principalmente na primeira parte. Se calhar não esperavam um Sporting tão forte no começo do jogo e ao longo da primeira parte. Apesar do Benfica nos ter empurrado mais para trás, a equipa estava confortável. Senti que não tinha necessidade de meter uma linha de 5. Ainda pensei nisso, mas pensei que podia empurrar a equipa mais para baixo. Sentia que, se tivéssemos um bocadinho de calma e qualidade, numa recuperação de bola, podíamos ter feito o 2-0. Eles estavam a expor-se demasiado. Até tirei o Trincão e meti o Harder, ficámos com dois avançados. Podia ter sofrido golo e estava aqui a dizer o mesmo. Sentia a equipa confortável, desgastada também, fazia parte, mas com um grande espírito competitivo.
— O choque emocional da saída de Ruben Amorim foi definitivamente superado?
— Não olho para as coisas dessa forma. Olho para aquilo que consigo controlar. Eu olho para a equipa e sinto-a bem, independentemente do choque que possa ter havido. Acredito que sim, a empatia e a sintonia com o Ruben era diferenciada, toda a gente de fora via e sentia isso. Acredito que tenha tido um impacto muito grande inicial, mas é passado. Agora, a liderança é de Rui Borges, nova forma de pensar, de trabalhar. Acima de tudo, é sentir se os jogadores estão recetivos a isso. E estão, deram uma demonstração disso hoje. Por isso, é nisso que me foco.