A crónica do Boavista-SC Braga: Já se nota o 'dedo (mindinho) de Carvalhal
FERNANDO VELUDO/LUSA

A crónica do Boavista-SC Braga: Já se nota o 'dedo (mindinho) de Carvalhal

NACIONAL18.08.202423:10

Os guerreiros do Minho ainda não está afinados, mas já apareceram algumas mudanças que podem ter influenciado os dois últimos jogos: duas vitórias!

 Há sempre a tendência para os analistas acharem que, quando uma equipa troca de treinador e os resultados passam a ser melhores, há já a interferência direta do novo treinador. É o chamado: já se nota o dedo de…. Nem sempre é assim, claro. Aliás, raramente é assim, pois não é depois de meia dúzia de treinos, por muito bons e intensos que eles sejam, que a mudança passa de temporária a definitiva.

É o caso do SC Braga. Saiu Daniel Sousa, entrou Carlos Carvalhal. Após o passeio da eliminatória com os israelitas do Maccabi Petah Tikva (2-0+5-0) e de dois empates seguidos (0-0 em casa com o Servette e 1-1, igualmente na Pedreira, com o Est. Amadora), António Salvador decidiu mudar. Estranhamente para quem está de fora. Porém, ser treinador é como ser casado. Quando uma das duas partes (pelo menos uma) sente que algo vai mal e é irremediável, é tempo de mudar. E Salvador achou que estava na hora de assinar o divórcio, pouco depois do casamento com Daniel Sousa. E, igualmente de forma um pouco estranha para quem está de fora, o novo comparsa aceitou sê-lo em poucos minutos. Há segundos matrimónios assim. No caso de SC Braga e Carlos Carvalhal, o terceiro.

A verdade é que o recente casamento atravessa agora a lua de mel: 2-1 em casa do Servette, 1-0 ontem no terreno do Boavista. Dois jogos, duas vitórias. Podemos dizer que este SC Braga já tem o dedo de Carvalhal? Não, ainda é relativamente cedo para o afirmarmos. Mas já tem um dedinho do novo treinador. Talvez só, para já, o mindinho, mas já há algo de novo nos guerreiros do Minho. É possível que seja, apenas, algo mental, aquilo que, tantas e tantas vezes, se chamou de chicotada psicológica.

Fez o SC Braga um jogo brilhante? Não, longe disso. Pareceu, no entanto, que a capacidade de sofrimento e de superação, tão necessárias no futebol do Século XXI, subiram um degrau e permitiram, por isso, resistir, na Suíça, ao impacto do 1-2 do Servette e ontem, no Bessa, ao intenso forcing final do Boavista em busca do empate. Tiveram os guerreiros, aqui e ali, a pontinha de sorte (aquele remate de Bozenik ao poste, aos 90’!) para chegarem à primeira vitória na Liga 2024/2025. Sim, tiveram, mas ganharam de forma inteiramente meredida.

O Boavista, por seu turno, começou por ser, sobretudo, uma equipa expectante. Não estática, longe disso, pois médios e atacantes mostraram sempre grande disponibilidade para fechar a maioria dos caminhos para a baliza do jovem João Gonçalves, embora não chegasse perto de Lukas Hornicek. Fechou a maioria, sim, mas não todos, pois numa das raríssimas falhas defensivas dos axadrezados, Salazar ganhou bem no alto a bola lançada por Vítor Carvalho, ela foi parar aos pés de Roberto Fernández, o qual, frente ao guarda-redes, não perdoou: um erro, um golo; uma oportunidade, um golo. É assim o futebol.

O golo não abalou demasiado o Boavista, nem colocou euforia no SC Braga. Um golo é diferença muito magrinha para transformar algo branco em algo negro. Os bracarenses, até final do primeiro tempo, continuaram mais dominadores e mais autoritários, mas continuou a não ser fácil penetrar na muito bem organizada defesa axadrezada. O 0-1 era, apesar de tudo, o resultado mais justo que os primeiros 45 minutos poderiam ter.

O descanso animou o jogo. O Boavista apareceu mais atrevido e o SC Braga, em vantagem, pareceu apostar um pouco menos em chegar perto de João Gonçalves. Mesmo assim, foi Zalazar, a meio do segundo tempo, que esteve perto de fazer o 0-2, mas Pedro Gomes evitou o golo em cima da linha de baliza. O Boavista percebeu, então, que estar mais perto da baliza adversária poderia significar que o SC Braga estaria mais perto da sua. E voltou a defender com rigor superlativo, embora não atacasse com o mesmo fulgor. Pouco depois, aos 83’, nasceu a dúvida sobre um lance entre Agra e Victor Gómez: sim ou não a falta na área axadrezada? O VAR chamou António Nobre, mas este manteve a decisão: sem penálti, o que nos pareceu correto.

Finalmente, já no início do período de compensação, bela troca de bola entra Agra e Bozenik, com este a rematar, com estrondo, ao poste esquerdo. Era o fim nas dúvidas sobre o vencedor. E, sejamos justos, estes três pontos, tal como os três trazidos de Genebra, têm já um dedinho de Carvalhal. O mindinho, claro.