«A arte de complicar o que estava fácil...», a crónica do Vizela-Benfica
João Mário em ação no Vizela-Benfica (Foto: Imago)
Foto: IMAGO

«A arte de complicar o que estava fácil...», a crónica do Vizela-Benfica

FUTEBOL17.09.202300:50

Benfica sem instinto matador para ‘fechar’ o jogo; penálti fortuito relançou o Vizela; águias acabaram, no mínimo, desconfortáveis...

Roger Schmidt foi Roger Schmidt e independentemente das jornadas das Seleções, ou das viagens transatlânticas em cima da hora, levou a campo a equipa do costume, apenas com a novidade Anatoly Trubin, nas redes, para um jogo em que foi batido de penálti (67), fez uma passe à Ederson para Aursnes (45+2), ficando para outras núpcias um exame mais rigoroso às suas qualidades. E se Trubin teve muito pouco que fazer, deveu-se ao facto de o Benfica ter realizado uma primeira parte de grande nível, que deixou o Vizela sem argumentos, tal a superioridade alardeada. As duas equipas encaixaram-se em sistemas semelhantes (4x2x3x1), mas os encarnados obrigaram, através de uma pressão que chegou a ser asfixiante, os anfitriões a funcionar bastas vezes em 4x5x1, com um bloco baixo, à procura de atingirem o intervalo com danos mínimos. 

Essende, na frente vizelense, nunca foi ameaça, a posse de bola ao fim dos primeiros 45 minutos era de 29%-71%, e os encarnados apenas cometeram, nesse período, uma falta. A este domínio quase imperial corresponderam apenas dois golos, magro pecúlio para tanto e tão bom futebol. Mas ao Benfica, mesmo nos melhores períodos, faltou instinto matador, faltou algo que se via amiúde na equipa encarnada na época passada, que era recuperar a bola e encarar de imediato as redes adversárias. Agora já não é bem assim, e o que foi perdido em objectividade sobra em lateralizações, esquecendo-se que, por mais agradável que seja à vista aquilo que Sven-Goran Eriksson qualificava de futebol-champanhe, a coisa mais importante do jogo é meter a bola dentro da baliza adversária. E até ao golo do Vizela, caído do céu e contra a corrente do jogo, num lance fortuito em que Aursnes foi imprudente (67), o Benfica, além dos dois golos que marcou, desperdiçou uma mão cheia de ocasiões que podiam ter-lhe permitido uma noite agradável e descansada em Vizela. 

Depois de a equipa da casa ter reduzido a desvantagem, acentuou-se o desacerto de Kokçu, que se descalibrou ao serviço da Turquia, percebeu-se melhor que Bah está longe da forma da época passada e que Di María foi de mais a menos, o que era uma inevitabilidade depois de ter jogado em La Paz, com a Bolívia. O treinador espanhol dos minhotos mexeu bem na equipa quando espevitou o meio-campo com Diogo Nascimento e o ataque com Soro, enquanto Schmidt esteve certo ao trocar Kokçu por Chiquinho, e voltou a acertar e ser pragmático ao fazer entrar Florentino para o meio-campo defensivo em detrimento de João Mário, mas a troca de Di María por Neres devia ter acontecido uns minutos antes... 

Uma questão de controlo 

Houve um período de cerca de dez minutos, após o golo do Vizela, em que o Benfica perdeu o controlo da situação, a equipa partiu-se e pairou no estádio a sensação de que, após tanta superioridade, podíamos estar perante um verdadeiro golpe de teatro. Depois, muito por obra e graça de João Neves, a argamassa do Benfica, que marca os ritmos e parece estar em todo o lado, os encarnados reergueram-se em organização e foram capazes de ligar alguns períodos de posse de bola, que fizeram esfriar as ambições caseiras. Mas não deixaram de viver, desnecessariamente, repete-se, sob o estigma de um cruzamento, uma confusão na área, ou uma meia-distância dar o empate ao Vizela. E este é um tipo de risco que as grandes equipas não correm...

 Para o Vizela, que apesar de ter melhorado ao longo do encontro nunca justificou qualquer ponto (aliás, para o Benfica, o jogo da época passada neste mesmo estádio foi infinitamente mais complicado), perder com os encarnados não é dramático. O mesmo não pode dizer-se da inversa: equipa que quer ser campeã não pode deixar pontos em jogos em que tem momentos de brilhantismo e constrói inúmeras oportunidades de golo. Finalmente, em relação a Roger Schmidt, apesar da vitória justa, reagiu tarde às vicissitudes do jogo, perante o manifesto declínio físico de algumas unidades...