Não há jogadores iguais e por esse motivo é redutor compará-lo com qualquer outro jogador do passado recente, porém há características e contextos que se cruzam na linha do tempo, nascendo daí pontos de contacto e conexões que vale sempre a pena explorar. Quem melhor para falar de Gianluca Prestianni, atacante argentino rápido, cujo pé forte é o direito embora possa jogar nos dois flancos, do que aquele que foi o último grande extremo argentino destro do Benfica? Em conversa com A BOLA desde o México, onde reside desde 2022, depois de se ter transferido do Boca Juniors para o Pumas, Eduardo Toto Salvio aplaude a decisão das águias em assegurar a contratação do jovem futebolista do Vélez Sarsfield. «É um jogador de enorme potencial», começa por dizer o internacional argentino de 33 anos. Satisfeito por saber que os encarnados se anteciparam a outros emblemas europeus que tinham Prestianni no radar, destaca as duas principais qualidades: «É um jogador muito rápido e tem golo. Andam muitos clubes atrás dele, fico contente se ele for para o Benfica.» Encarnados têm um pré-acordo com o Vélez Sarsfield por €8 milhões por 85 por cento do passe. O jogador só pode assinar pelo Benfica a 31 de janeiro de 2024, dia em que celebra 18 anos Apesar de estar fora do país natal, Salvio continua a acompanhar o campeonato argentino e também o português, em especial os jogos do clube onde jogou durante oito épocas, pelo que consegue fazer uma análise ponderada sobre o que pode ou não Gianluca Prestianni trazer ao Benfica e ao futebol português: «Ele é muito jovem e poderá precisar de mais tempo de adaptação, tudo dependerá dele e das circunstâncias. Há jogadores que não precisam de muito tempo para se adaptarem, mas ele tem um potencial enorme e muitas qualidades. Tem, no entanto, de crescer muito porque o futebol na Europa não é a mesma coisa que na Argentina.» O facto de se ter tornado o jogador mais jovem de sempre a estrear-se no Vélez, com apenas 16 anos e três meses, é um cartão de visita. Mas não só. «Não é normal um jogador tão novo conseguir jogar no Vélez e também não é normal jogar sob as condições muito difíceis que atualmente marcam o clube. Ele conseguiu jogar sob uma enorme pressão e isso demonstra que tem uma personalidade forte», observa o argentino com costela portuguesa. ‘Herança’ pesada Eduardo Toto Salvio tem consciência de que faz parte de uma nobre herança. Depois de Portugal (oito elementos), Argentina é o segundo país mais representado no recém-criado Mural dos Campeões, que prestam homenagem aos 20 melhores jogadores que atuaram no novo Estádio da Luz. Além do extremo direito, são mais cinco e outros há, como Javier Saviola ou Enzo Pérez, que ficaram de fora. Pode Prestianni seguir os passos dos compatriotas? «Acredito que sim. Acredito que Prestianni tem potencial para fazer história no Benfica. Todos esses argentinos de que fez referência ganharam títulos. É uma herança pesada, mas penso que ele estará à altura.» O antigo jogador do Benfica deixa-lhe, porém, um conselho: «Que não se deixe comparar com ninguém, que siga o seu próprio caminho. Sempre que um jovem talentoso se destaca na Argentina é logo comparado com este ou com aquele. Ele saberá criar o seu próprio rumo. Espero que seja no Benfica, o sítio ideal para ele aprender.» «Otamendi e Di María continuam muito competitivos» Eduardo Salvio também foi convidado a pronunciar-se sobre Otamendi e Di María. Para o extremo, ambos «continuam muito competitivos» e essa é a razão por se manterem no topo. O central e o extremo justificam o estatuto que têm no Benfica e na seleção argentina, embora no caso do extremo a despedida da albiceleste esteja para breve. «É um jogador muito querido pelos argentinos», destaca o antigo extremo das águias sobre o esquerdino que marcou em todas as finais ao serviço da albiceleste — Torneio Olímpico em 2008, em Pequim, Copa América em 2021, no Rio de Janeiro, Finalíssima em 2022 (Londres, opondo vencedor da Copa América contra o vencedor do Euro-2020, a Itália) e o Mundial-2022, no Catar. Como compatriota e benfiquista, acompanha de perto o trajeto do central e do camisola 11 das águias e admite que estes dois pesos pesados da seleção fazem os adeptos argentinos seguirem mais de perto os encarnados, embora isso não seja condição fundamental. «O Benfica teve sempre um grande impacto no meu país pelos títulos que conquistou e por estar constantemente nas competições europeias, incluindo na Champions, onde fez uma campanha muito boa na época passada, embora este ano as coisas não estejam tão bem.» «É um clube histórico, de topo, e que tive o enorme privilégio de representar», finalizou Toto Salvio no contacto com A BOLA.