Rúben Amorim está de malas feitas para Inglaterra. Para trás fica uma passagem marcante no Sporting, com a conquista de títulos, a criação de uma identidade coletiva bem vincada e um discurso agregador desde o primeiro dia. Um treinador que conseguiu potenciar jogadores como há muito não se via em Alvalade. Com especial destaque no ataque. Amorim, convém lembrar, enquanto futebolista foi sempre visto como um jogador dinâmico, polivalente, com rendimento em várias posições, mas do… meio-campo para trás, com caraterísticas mais defensivas. Porém, como treinador, tem potenciado… avançados ao limite, levando-os às melhores épocas das respetivas carreiras. Gyokeres foi caso de sucesso mais recente, com a melhor temporada do sueco em ano de estreia em Portugal (43 golos/14 assistências), mas se olharmos para trás existem outros exemplos. Como Paulinho, orientado por Amorim também em SC Braga onde assinou a melhor época da carreira em 2019/2020 (26 golos/9 assistências) ou do jovem Tiago Tomás, uma das primeiras referências ofensivas dos leões do técnico, (6 golos/2 assistências) em 2020/2021. Mas nenhum destes foi o ponto de partida. O primeiro avançado de Rúben Amorim surgiu no Casa Pia. José Embaló de seu nome. Que em 2018/2019, ano em que Amorim foi treinador estagiário em Pina Manique, registou a melhor época a nível individual (9 golos em 32 jogos). Hoje, com 31 anos, após passagem por 9 países (Portugal, Chipre, Roménia, Islândia, Polónia, Arménia, Malásia, Líbia e China) e 11 (!) clubes diferentes, nunca mais Embaló conseguiu terminar com um registo como aquele que teve no Casa Pia de Amorim. O segredo dele era a confiança que tinha nos avançados. Sabe muito bem que existem fases más e, mais tarde ou mais cedo, chegará a fase boa, mas para isso é preciso ser sério e trabalhador. Essa mensagem era bem passada Este o mote para a conversa de A BOLA com o avançado que atualmente joga na Arménia, no Alashkert. Afinal o que tem Amorim de tão especial capaz de colocar todos os avançados no topo das carreiras? «O segredo dele era a confiança que tinha nos avançados. Sabe muito bem que existem fases más e, mais tarde ou mais cedo, chegará a fase boa, mas para isso é preciso ser sério e trabalhador. Essa mensagem era bem passada. Há uma história que guardo. Vinha de fase muito boa em termos de golos mas achava que merecia jogar mais, mais minutos. Ele passou uma mensagem a todo o grupo que dado o momento que atravessava teria muito mais impacto no jogo a vir do banco para fazer a diferença. Achei interessante e compreendi o seu ponto de vista», conta o atacante a A BOLA, destacando o papel dos adjuntos Adélio e Carlos Fernandes. «São o braço direito e esquerdo do treinador. Se já tinha ficado espantado com Amorim imagine com esses dois que eram mais novos que eu? Percebiam tanto de futebol e de estratégia, sobretudo nos avançados, que sentíamos ter todas as capacidades para fazer a diferença», assume, revelando saber exatamente o que todos os jogadores estão a sentir com a saída dele para Manchester: «A despedida do Casa Pia foi dura para nós todos e quando lhe dei um abraço perguntei-lhe… ‘E agora? O que eu faço??’ Ele disse-me continua a trabalhar no duro e aproveitar todas as oportunidades que iriam aparecer pois era um grande avançado e iria dar a volta por cima. Tinha 25 anos e a verdade é que anos mais tarde ainda consegui jogar competições europeias e representar a seleção da Guiné-Bissau.» Sempre disse que qualquer jogador nas mãos de Amorim atinge um nível incrível em todos os aspetos do jogo. Gyokeres já tinha qualidade e o treinador apenas potenciou o melhor que tinha. Mas temos de admitir que ultrapassou todos os limites Gyokeres, produto completo José Embaló teve muitos treinadores. Nenhum como Amorim. «Era especial pela estratégia e preparação para o próximo jogo. Dizia-nos ao pormenor que a bola ia cair ali, no sitio exato, e que eu tinha de estar preparado», conta, destacando o papel, claro está, de Gyokeres. «Sempre disse que qualquer jogador nas mãos de Amorim atinge um nível incrível em todos os aspetos do jogo. Gyokeres já tinha qualidade e o treinador apenas potenciou o melhor que tinha. Mas temos de admitir que ultrapassou todos os limites. Que grande avançado! Mas eu fui o primeiro Gyokeres de Amorim e o Carlos Fernandes pode confirmar (risos)», diz, tentando antever aquilo que o técnico poderá fazer com Rasmus Hojlund, também ele nórdico, dinamarquês, que será o próximo projeto de Amorim a potenciar no ataque do United: «Já é um jogador de topo ou não estivesse em Manchester mas Amorim vai juntar tudo. E vai melhorar bastante, tenho a certeza. Vai ser diferente. E vai encontrar, com as suas caraterísticas, uma estratégia para poder brilhar. É o que faz sempre a todos os avançados. A dimensão dele será maior. Agora há desconfiança e tenho muitos adeptos ingleses que me enviam mensagens a perguntar se Amorim tem estofo. Algumas respondo apenas: vocês contrataram um grande treinador.» José Embaló terá sido um dos poucos a não ficar surpreendido com o crescimento do treinador. A saída do Manchester United foi encarada pelo avançado como normal dada toda a qualidade mostrada nestes poucos anos de trabalho: «Sinceramente não me surpreende. Agora, na altura de 2018, se me perguntassem se achava que Amorim poderia ser treinador do Manchester United diria que apenas que talvez um dia… e que tinha de se preparar porque estamos a falar de um nível mundial. Não é que o Sporting não seja mas o United é um colosso. Se hoje lhe pudesse dizer algo seria um agradecimento. Pelo que me ensinou, como me motivou em muitos treinos e jogos no Casa Pia. Agradecer e desejar-lhe a melhor sorte do mundo. Tudo lhe corra bem. E se jogadores acompanharem a paixão dele pelo jogo tudo correrá bem...»