A atividade física desportiva … em nome da vida!... (1) (artigo de José Neto, 124)

Espaço Universidade A atividade física desportiva … em nome da vida!... (1) (artigo de José Neto, 124)

ESPAÇO UNIVERSIDADE29.04.202100:17

Dada a necessidade de compensar com alguma matéria certa implosão de acontecimentos desportivos nesta fase crítica de final de época e sendo imperioso de nos dias hoje invocar esta temática, tendo em conta por um lado o quase desprezo como alguns responsáveis pela gestão da prática desportiva se evadem e por outro lado a verificação de muita gente quer ao longo das estradas, quer em parques de lazer, quer junto à orla marítima, etc , fazem da prática desportiva uma ocupação permanente,  irei defender em quatro ou cinco artigos o que importa, no sentido provocar um meia culpa pela atrevida iliteracia que se dissolve ao longo dos tempos.

Começarei por fazer uma análise histórica e evolutiva da prática da atividade física e desportiva, obviamente de forma muito circunscrita ao resumo da mesma.

Fazendo uma viagem no tempo, as atividades físicas começaram por ser indispensáveis à vida do homem pré-histórico.

As largas caminhadas davam-lhe a resistência nas marchas; a necessidade de perseguir a caça ou de fugir ao inimigo, emprestavam-lhe velocidade nas corridas; a imposição de acertar no alvo, quase sempre móvel, dava-lhe destreza; as valas e precipícios exercitava-os nos saltos; o refúgio ou procura de frutos em altas árvores, ensinavam-lhes a trepar…

A vida simples mantida pelos recursos que a natureza lhe proporcionava, levava o homem primitivo a obedecer àquela lei da fisiologia. “o movimento continuado e repetido desenvolve os órgãos e aperfeiçoa as funções” – o caráter utilitário do exercício!...

A partir de 2000 anos a.C., pelas pinturas e desenhos encontrados, se podem reconstruir as atividades físicas que figuravam entre os costumes das várias povoações: exercícios gímnicos, arco e flecha, corrida, salto, os arremessos, a equitação, esgrima, a luta e boxe, a natação, o remo, corridas de carros, danças, traduzem a intensa exercitação na civilização egípcia.

Os Hebreus manejavam com destreza o arco e a flexa, arremessavam a lança, brandiam a espada usando gritos ensurdecedores antes de atacar, quer para elevar a moral, quer para atemorizar os adversários.

Entre os Persas e segundo Heródoto, ensinavam-se fundamentalmente três coisas às crianças: montar a cavalo, atirar o arco e dizer a verdade.

Na antiguidade clássica merece-nos importância especial a civilização Espartana, cujo objetivo era formar soldados corajosos, valentes que defendessem galhardamente a Pátria. Por isso, o exercício era exclusivamente destinado a fortalecer corpos robustos para a guerra, não esquecendo de selecionar um conjunto de atividades tendentes a formar mães fortes, para gerar filhos fortes para o combate.

Por outro lado, a civilização Ateniense distinguia alguns princípios: o corpo deverá subordinar-se à alma racional (não devemos esquecer que a alma racional para Platão, é substância completa, espírito puro, anterior ao corpo, com o qual se une acidentalmente). A atividade física deverá proporcionar saúde, força e beleza, com nítidas preocupações higiénicas, estéticas e recreativas.

É importante referir (estamos agora em 460 a.C.), o método de Hipócrates, o médico mais notável da antiguidade. Contemporâneo de Platão e Aristóteles, criou um método e cura de doenças, que até podemos chamar de pré-científico, pois prescrevia a corrida como um meio curativo: “Esta far-se-ia sobre a ponta dos pés e com balanço alternado dos braços. Integrava ainda a dieta, banhos frios e a vapor como forma terapêutica e dietética”.

Na civilização grega, com o uso de grandes jogos e festivais, as práticas físicas e desportivas foram um dos fatores mais importantes para a unificação da Grécia. Dentro de todos os jogos, merece-nos referência os Olímpicos, realizados em Olímpia em honra de Zeus, dedicados à força e beleza física do homem. Realizavam-se de 4 em 4 anos, começando por durar 1 dia e mais tarde 5 dias, cujo vencedor recebia uma coroa de oliveira, sendo-lhe permitida a entrada pela porta secreta da cidade, erguendo-se-lhe uma estátua.

Conta-se o ano de 776 a.C. como sendo a data da primeira olimpíada e o ano 303 da era cristã a suspensão dos jogos pelo imperador romano Teodósio, como oposição ao exclusivo do corpo e dos deuses e como antítese do cristianismo.

Seguindo no tempo, entramos na civilização romana. Para as atividades físicas, efetua-se a construção de anfiteatros, onde as lutas de gladiadores e os combates com feras tinham lugar. O regresso dos legionários e a consagração pelos seus desempenhos, o abandono dos campos devastados, tomou Roma com uma elevada população esfomeada, que insistentemente pedia pão e circo.

Importa referir nesta época, Galeno, médico estudioso da obra de Hipócrates. Aplicou a educação do físico à medicina, criando a ginástica médica (129-199 d.C.). Dizia: “A cada indivíduo, segundo as suas caraterísticas, deveria corresponder um conjunto de exercícios também específico”. Para ele era muito importante associar o termo saúde ao prazer do movimento!...

Como vemos na distância do tempo o anunciar das causas de bem realizar o exercício

 que ainda hoje, infelizmente, tantos exemplos de flagrante ataque à saúde de quem ultrapassa a regra de ouro: em termos de exercício e atividade física fazer o que não deve ser feito ou fazê-lo de forma inapropriada são males do mesmo tamanho!...

(CONTINUA)

José Neto: Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador.