Desportistas que contracorrente deram a cara por Donald Trump
Se as eleições americanas tivessem como eleitores apenas os desportistas profissionais, Kamala Harris tinha vencido de goleada. Mas no desporto houve quem ficasse ao lado de Donald Trump, e Bryson Deschambeau até esteve no palco de Palm Beach, na proclamação da vitória
Passava pouco das sete da manhã em Portugal continental, quando Donald Trump fez, em Palm Beach, Florida, o discurso de vitória das eleições presidenciais norte-americanas, depois de um triunfo surpreendentemente confortável, para muitos observadores, sobre a democrata e vice-presidente de Joe Biden, Kamala Harris.
No palco, e perante uma plateia a transbordar de apoiantes em êxtase, estiveram com o ex e futuro POTUS, a família, os colaboradores mais próximos e alguns amigos. Donald Trump, que fez questão de evidenciar a excelência do projeto espacial de Elon Musk, provavelmente o seu principal financiador, a páginas tantas perguntou: «Onde é que está o Bryson? Bryson, vem junto a mim…» Com uma ar quase envergonhado, Bryson Deschambeau, estrela do circuito LIV, de golfe, vencedor de dois Masters, e que conquistou pelos Estados Unidos a Ryder Cup, acenou timidamente e esboçou um sorriso, mostrando que se encontrava mais à vontade do tee ao green do que no palco de Palm Beach.
Bryson Deschambeau, 31 anos, natural de Modesto, Califórnia, estudou na Universidade Metodista do Sul e tornou-se profissional de golfe em 2016. Um ano depois conheceu Donald Trump, a quem ofereceu um conjunto de tacos. Mais tarde juntou-se ao «Trump Golf» e afirmou ter-se sentido «extremamente honrado» por «representar uma organização que nas pessoas de Eric Trump e Donald Trump Jr.» sempre o apoiou «a cem por cento».
Depois do assalto ao Capitólio em 2021, a PGA ordenou que na época de 2022 o Trump National Golf Club deixaria de fazer parte do circuito, e Deschambeau teve de tirar o logo de Trump do seu saco. «É o que é e não comento», disse, na altura, Deschambeau, que dois meses depois voltou a fazer uma volta de golfe com Donald Trump, voltando a fazê-lo, juntamente com Dustin Johnson e Eric Trump, num pro-am, já no contexto do LIV Golf para onde se transferiu. «É sempre uma honra jogar com um Presidente, presente ou passado», disse a propósito.
Trump, PGA, LIV
A ligação de Donald Trump ao golfe é muito forte, não só porque é praticante, mas ainda porque possui alguns dos melhores campos do Mundo, nos seus hotéis, e não são poucos, são 17! Aliás, uma das duas tentativas de assassinato que sofreu durante a campanha aconteceu a 15 de setembro, no Trump International Golf Club, em Palm Beach campo de golfe, onde jogava.
Uma das polémicas que manteve com Joe Biden ao longo dos últimos quatro anos teve precisamente a ver com o golfe. Trump afirma que teve 2,8 de handicap, o que tem sido muito contestado, e Biden, que chegou ao handicap 6 quando era vice-presidente, chegou a desafiar Trump para 18 buracos. Diga-se que o handicap médio de um praticante regular, de meia idade (o que não é o caso de nenhum deles) é de 14, e que só 20 por cento dos golfistas chegam a baixar o handicap 10…
Mas a eleição de Donald Trump pode ter reflexos próximos na modalidade. Trump e a sua organização acolheram de braços abertos o novo circuito LIV, que é financiado pelo fundo soberano saudita, e três dos eventos são realizados nos campos do agora presidente-eleito dos Estados Unidos. Com a chegada do LIV, a PGA cortou completamente com os golfistas que se transferiram para a órbita saudita, e a clivagem tem estado a prejudicar a modalidade e o negócio, porque teve o condão de afastar investidores. Por isso, há mais de um ano que decorrem negociações complexas para integrar os três principais circuitos, PGA, DP World Tour e LIV, que já receberam a bênção dos atletas (nomeadamente de Rory McIlroy e Tiger Woods, os mais contestatários, que vão avançar em janeiro com um torneio futurista, por equipas, que mistura golfe virtual com golfe presencial), ficando sujeitas á aprovação que se segue, que cabe à autoridade da concorrência, e ao Departamento de Justiça. Com Donald Trump na Casa Branca, há uma possibilidade real deste processo ser mais expedito, pela importância que Trum lhe dá, do que seria com uma vitória de Kamala Harris.
Os desportistas apoiantes
Se a eleição presidencial norte-americana de 2024 se tivesse realizado apenas entre desportistas profissionais, Kamala Harris teria ganho de goleada. Como não foi, o triunfo sorriu a Donald Trump que, mesmo assim, teve alguns desportistas famosos ao seu lado, para lá dos já supracitados golfistas. Por exemplo, do wrestling, espetáculo alegadamente desportivo que a América profunda adora, surgiu o apoio da mais mediática das estrelas, o já retirado Hulk Hogan, que seguiu, depois da reforma uma carreira cinematográfica, e ainda de outro peso-pesado, The Undertaker (o Cangalheiro), altamente popular no país.
Do futebol americano, o mais popular dos desportos nos Estados Unidos, a par do beisebol, Trump teve a seu lado uma das lendas da modalidade, Brett favre, ex-quaterback dos Green Bay Packers e vencedor do Super Bowl XXXI, que faz parte do Hall of Pame desde 2016. Também Nick Bosa, dos San Francisco 49ers, melhor defesa do ano de 2022 na NFL fez campanha por Trump, assim como Harrison Butker, kicker dos Kansas City Chiefs, melhor marcador da NFL em 2019 e vencedor dos Super Bowls LIV, LVII e LVIII. Gardner Minshew, quarterback dos Las Vegas Raiders, deu igualmente a cara por Trump.
Na NBA, onde o apoio a Kamala Harris só foi suplantado por um antitrumpismo militante, foi preciso andar de lupa à procura de apoiantes públicos do presidente eleito. Johnathan Isaac, dos Orlando Magic, foi uma das exceções. Membro do Partido Republicano, trata-se de um conservador cristão que já pregou na Jump Ministries Global Church, em Orlando, e que e foi o único jogador na partida entre os Magic e os Nets durante o hino americano, durante a campanha «black lives matter», agumentando que acreditava no valor das vidas dos negros, mas ajoelhar durante o hino ou vestir uma camisola do movimento não serve a causa que querem defender. Em 2022 publicou um livro, «Why I Stand (Porque Fico de Pé)» onde também explica como a fé cristã o ajudou a superar algumas dificuldades.
Foi, porém, entre os proprietários de algumas equipas da NBA que Trump, encontrou maior conforto. Miriam Anderson, dona dos Dallas Mavericks, mostrou-se uma doadora importante, assim como Charles Johnson, proprietário dos San Francisco Giants da NFL embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido durante a presidência de Donald Trump e os seus confrades David Tepper (Carolina Panthers), Rob Walton (Denver Broncos) e Woody Johnson (New York Jets).
Figuras proeminentes do boxe, como Mike Tyson ou Jake Paul também se afirmaram trumpistas, assim como uma vintena de praticantes de MMA.
Com raízes no atletismo, o antigo medalha de ouro do decatlo Bruce Jenner, hoje Caytlin Jenner, uma mulher transgénero que faz parte do clã Kardashian, também esteve ao lado do presidente eleito.
Do Mundo automóvel, Trump teve o apoio da ex-piloto Danica Patrick, 42 nos, a primeira mulher a vencer uma prova na Indy Car Series e a conseguir uma ‘pole position’ na competitiva (para dizer o menos) NASCAR e do mítico Roger Penske, agora com 87 anos, que foi campeão nas pistas e é o dono da escuderia que transporta o seu nome, a Penske Racing.
No futebol (soccer) norte-americano, o apoiante mais destacado de Donald Trump foi Alexis Lalas, 54, vedeta da seleção yankee onde jogou 96 vezes entre 1991 e 1998 e jogou no Pádua da Serie A. Lalas, que enquanto jogador tinha um look de hillbilly, surgindo muitas vezes de jardineira sem camisola, que era avivado por um cabelo desgrenhado e uma barba ruiva rebelde. Depois, Lalas foi presidente do LA Galaxy (contratou David Beckham), enveredando seguidamente pela carreira de comentador, primeiro na ESPN e depois, até aos dias de hoje, na conservadora FOX.