António Paula Brito (artigo de Gustavo Pires, 106)

Espaço Universidade António Paula Brito (artigo de Gustavo Pires, 106)

ESPAÇO UNIVERSIDADE22.10.201900:44

O Prof. António Paula Brito, que faleceu no passado dia 19 de Setembro, era uma figura mais do que conhecida no mundo da educação física e do desporto pois era uma pessoa muitíssimo estimada. Muitos dos, hoje, jovens de setenta e mais anos foram seus alunos no Liceu Camões. Estou-me, por exemplo, a lembrar do meu amigo e colega João Marcelino que, enquanto aluno do Prof. Paula Brito, conta estórias que, entre o humor e a pedagogia, deixaram para aqueles que as viveram ensinamentos que ficaram para o resto das suas vidas. Mas onde o Prof. Paula Brito marcou uma presença inquestionável foi no INEF, hoje Faculdade de Motricidade Humana. Gerações de alunos passaram pelas suas aulas que eram um misto de cultura desportiva, pedagogia ativa e preparação para a vida.
 

O Prof. Paula Brito, enquanto académico, não escreveu muito. A sua marca sempre foi a do contacto com os alunos e os colegas. Ele, antes de tudo, era uma pessoa muito simples.  Relacionava-se com os outros de igual para igual pelo que nunca foi pessoa de puxar pelos galões, como hoje vemos por aí alguns pavões, autênticos parasitas, alcandorados nos poleiros do poder. Um poder que nunca lhe interessou pelo que, para além do Laboratório de Psicologia Desportiva, jamais ocupou um lugar de liderança burocrática no INEF / FMH. Em contrapartida, a sua liderança afirmava-se pelo conhecimento e pela confiança que transmitia às pessoas que com ele conviviam.
 

Conheci o Prof. Paula Brito ainda nos anos setenta. Depois, quando, do ponto de vista profissional, concorri e prossegui a vida académica tive a oportunidade de com ele conviver nas mais diversas situações. A sua companhia era um encanto, desde as conversas de gabinete, almoços que se prolongavam pela tarde em conversas amenas que, para mim, eram um manancial de experiências e de conhecimento, até às atividades no âmbito dos desportos náuticos desenvolvidas no quadro da Licenciatura em Educação Física do ISEF/FMH, organizadas em Vila Nova de Mil Fontes ou as descidas do rio Guadiana, de  Mourão a Mértola, nas quais, para além dos alunos, participavam apaniguados da canoagem como Eduardo Miragaia (jornalista) ou, entre tantos outros, Joana Marques Vidal (a tal).
 

Embora já estivesse à espera da morte do Prof. Paula Brito na medida em o colega Pedro Sarmento, que foi quem mais o acompanhou nos últimos anos, me telefonou a avisar, foi para mim um choque. Para além dos familiares próximos nunca a morte de uma pessoa me perturbou tanto. O Prof. Paula Brito será sempre para mim uma eterna referência e saudade.
 

Com a reserva que gosto de impor a mim mesmo acompanhei por breves momentos o velório e o funeral. Acabei profundamente incomodado ao ver uns burocratas pedantes, chegarem àquelas cerimónias que eram particulares, todos emproados, de viatura oficial e chofer.
 

Para além da ilegalidade da utilização em eventos privados de meios do Estado ou de organizações desportivas de utilidade pública, nem na hora da morte respeitaram alguém que, com a máxima competência, privilegiou a honestidade que preside sempre à simplicidade da vida. Aquelas tristes figuras só demonstraram que não aprenderam nada com o exemplo que foi a vida do Prof. Paula Brito.
 

Perante aquelas cenas do mais genuíno nacional parolismo, lembrei-me que o Prof. Paula Brito viveu a sua vida com simplicidade, mas, também, com um imenso humor. As suas atitudes, comentários e opiniões eram, geralmente, envolvidas num fino humor que, muitas vezes, os mais duros de espírito, como agora se comprovou, não tinham sequer capacidade para perceber. Por isso, esteja lá ele onde estiver, aqueles que ainda por cá andam e com ele privaram ao longo dos anos devem, como eu, estar a imaginar as piadas que, a propósito, o Prof. Paula Brito estaria a dizer ao ver aqueles olímpicos pimbas, a expensas do Estado ou de terceiras entidades, a chegarem às cerimónias do funeral de carro oficial e de chofer, inchados que nem uns sapos e sem a mínima consciência ético-moral dos seus tristes comportamentos.
 

Por ele sempre ter recusado qualquer homenagem ou cerimónia oficial relativamente a sua pessoa é, agora, tempo da FMH que, para o ano, comemora 80 anos, prestar uma justa homenagem ao Prof. Paula Brito. Uma homenagem que junte os seus amigos e colegas e dispense as nomenklaturas oficiais para as quais ele sempre olhou com um ar crítico e humorado.

Gustavo Pires é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana