Angola e Brasil (Comunidade Lusófona) no Mundial de  Basquetebol China-2019 (artigo de Eduardo Monteiro, 43)

Espaço Universidade Angola e Brasil (Comunidade Lusófona) no Mundial de Basquetebol China-2019 (artigo de Eduardo Monteiro, 43)

ESPAÇO UNIVERSIDADE19.08.201920:48

Pela primeira vez na história do “FIBA Basketball World Cup” que decorrerá  entre 31 de Agosto e 15 de Setembro próximo, em oito das mais importantes cidades da China (Beijing, Wuhan, Guangzhou, Fosham, Shanghai, Nanjing, Shenzhen e Dongguan) vão estar presentes 32 selecções nacionais. Por esse facto, foram construídos novos pavilhões e os que já  existiam sofreram melhoramentos para se tornarem mais funcionais. Por outro lado, a descentralização programada dos jogos das 32 melhores seleções mundiais, oriundas dos cinco continentes, vai proporcionar espectáculos memoráveis aos jovens chineses funcionando como o mais relevante meio de promoção do basquetebol no país com mais habitantes do nosso planeta. Vejamos, então, a população de cada cidade e a cuidada distribuição por grupos, com cabeças de série complementado por sorteio, das respectivas selecções pelos diferentes locais de competição:

A – Beijing (16.704 milhões) (Costa do Marfim, Polónia, Venezuela e China);

B – Wuhan (7.541 milhões) (Rússia, Argentina, Coreia e Nigéria);

C – Guangzhou (10.641 milhões) (Espanha, Irão, Porto Rico e Tunísia);

D – Foshan (6.771 milhões) (Angola, Filipinas, Itália e Sérvia);

E – Shanghai (20.217 milhões) (Turquia, República Checa, USA e Japão);

F – Nanjing (5.827 milhões) (Grécia, Nova Zelandia, Brasil e Montenegro);

G – Shenzhen (10.358 m.)(Rep. Dominicana,França,Alemanha e Jordania);

H – Dongguan (7.271 milhões) (Canadá, Senegal, Lituania e Austrália).

A presença no Mundial China 2019 das selecções de Angola e Brasil, membros activos da Comunidade Lusófona, são uma enorme satisfação para todas as nações e comunidades de língua portuguesa e, simultâneamente, a confirmação de que, em matéria de basquetebol, estas duas grandes nações são duas referencias à escala mundial atendendo a que, ao longo da história da modalidade, têm alcançado grandes êxitos de âmbito regional e internacional em representação dos respectivos continentes, África e  América.

Historial

Esta competição, designada até 2006 (quase seis décadas) por “World Championship for Men”, teve o seu início na Argentina, em 1950, com a participação de 10 seleções nacionais tendo a equipa da casa conquistado o título mundial, ao vencer na final a formação dos USA. A equipa do Chile ficou na 3ª posição. Desde esse arranque inicial, já se efectuaram 17 eventos deste quilate,  sendo os cinco primeiros  na América do Sul (1950, 1954, 1959, 1963, 1967), ou seja, no continente que menos danos sofreu durante a 2ª guerra mundial. Duas décadas após o seu início, os campeonatos mundiais de basquetebol entraram numa fase fundamental do desenvolvimento da modalidade à escala global, na qual a descentralização da competição se tornava necessária e decisiva. Assim, a federação internacional (FIBA) decidiu realizar a prova mundial de 1970  na Europa, concedendo a organização à ex-Jugoslávia, então a maior potência basquetebolística do continente europeu. Contudo, na competição mundial seguinte (1974) a gestão do evento foi entregue, novamente, a um país do continente americano, Porto Rico, localizado na zona central das Américas.

Entretanto, quatro anos mais tarde (1978) assistiu-se a uma segunda  tentativa de descentralização através de um salto para outro continente, o asiático, com uma nova estreia organizacional a das Filipinas. Posteriormente, esta sequência processual não foi bem gerida pelos responsáveis  da federação internacional, pois teria sido oportuno evitar a repetição, a curto prazo, do evento na América do Sul. No entanto, a FIBA face às candidaturas apresentadas optou por efectuar a competição raínha do basquetebol internacional, em 1982, na Colômbia. Resumindo,  dos nove campeonatos mundiais realizados, até aquela data, seis foram na América do sul, um na Europa, outro na Ásia e, ainda, outro na América central o que, de certa maneira, era desanimador para quem pretendia desenvolver a modalidade de forma equilibrada em todos os continentes.

A partir de 1982 o processo de candidaturas começou a funcionar de uma forma mais ajustada ao desenvolvimento global pretendido para a modalidade e mais consentânea com a necessidade de descentralizar a competição de uma forma equilibrada pelos vários continentes. Assim, os eventos seguintes foram efectuados em Espanha (1986), Argentina (1990), Canadá (1994), Grécia (1998), USA (2002), Japão (2006), Turquia (2010), Espanha (2014) e, este ano, na China. Esperamos que as condições económicas de âmbito regional  não condicionem a atribuição ao continente Africano e  à Oceania os futuros “FIBA Basketball World Cups”

Campeonatos/Classificações

1950/Argentina -  Classificação: 1º Argentina, 2º USA, 3º Chile;  

1954/Brasil – Classificação: 1º USA, 2º Brasil, 3º Filipinas;            

1959/Chile – Classificação: 1º Brasil, 2º USA, 3º Chile;                   

1963/Brasil – Classificação: 1º Brasil, 2º Jugoslávia, 3º União Soviética;

1967/Uruguai – Classificação: 1º União Soviética, 2º Jugoslávia, 3º Brasil;  

1970/Jugoslávia - Classificação: 1º Jugoslávia, 2º Brasil, 3º União Soviética;

1974/Porto Rico – Classificação: 1º União Soviética, 2º Jugoslávia, 3º USA; 

1978/Filipinas – Classificação: 1º Jugoslávia, 2º União Soviética, 3º Brasil; 

1982/Colombia – Classificação: 1º União Soviética, 2º USA, 3º Jugoslávia; 

1986/Espanha – Classificação: 1º USA, 2º União Soviética, 3º Jugoslávia; 

1990/Argentina – Classificação: 1º Jugoslávia, 2º União Soviética, 3º USA;

1994/Canadá – Classificação: 1º USA, 2º Rússia, 3º Croácia;      

1998/Grécia – Classificação: 1º Jugoslávia, 2º Rússia, 3º USA;            

2002/USA – Classificação: 1º Jugoslávia, 2º Argentina, 3º Alemanha; 

2006/Japão – Classificação: 1º Espanha, 2º Grécia, 3º USA;    

2010/Turquia) – Classificação: 1º USA, 2º Turquia, 3º Lituânia;     

2014/Espanha – Classificação: 1º USA, 2º Sérvia, 3º França.

Medalhados

USA (12 medalhas) 5 títulos (1954, 1986, 1994, 2010, 2014) 2º lugar (1950, 1959, 1982) 3º (1974, 1990, 1998, 2006); Jugoslávia (10 medalhas) 5 títulos (1970, 1978, 1990, 1998, 2002) 2º lugar (1963, 1967, 1974) e 3º (1982,1986); URSS (8 medalhas) 3 títulos (1967, 1974, 1982) 2º lugar (1978, 1986, 1990) 3º (1963, 1970); Brasil (6 medalhas) 2 títulos (1959, 1963) 2º lugar (1954, 1970) 3º (1967, 1978); Argentina (2 medalhas) 1 título (1950) 2º lugar (2002); Espanha (1 medalha) 1 título (2006); Rússia (2 medalhas) 2º lugar (1994,1998); Chile (2 medalhas) 3º lugar (1950, 1959); Filipinas (1 medalha) 3º lugar (1954); Croácia (1 medalha) 3º lugar (1994); Alemanha (1 medalha) 3º lugar (2002); Grécia (1 medalha) 2º lugar (2006); Turquia (1 medalha) 2º lugar (2010); Sérvia (1 medalha) 2º lugar (2014) e França (1 medalha) 3º lugar (2014). 

Os maiores opositores, em termos desportivos, aos norte americanos e outras selecções dos países ocidentais, foram sempre as formações da ex-Jugoslávia e da ex-União Soviética que através do seu sistema político/desportivo  conseguiram apresentar super/seleções que incluíam atletas oriundos das nações sob a sua tutela. Depois das alterações políticas verificadas  naquelas duas super potencias do basquetebol, surgiram novas nações  independentes que já começaram a mostrar resultados surprendentes a nível internacional. A Eslovénia é o actual campeão europeu e a Sérvia, República Checa, Lituânia e Montenegro  conseguiram o apuramento para este mundial. No actual  ranking internacional  a Sérvia ocupa o 4º lugar, o 6º a Lituânia, o 7º a Eslovénia, o 9º a Croácia, o 15º a Letónia, o 19º a Ucrânia, o 24º a  R. Checa e o 26º a Georgia, o que é surpreendente em termos de desenvolvimento da modalidade ao mais alto nível.

 Melhores jogadores (MVPs)

1950 – Oscar Furlong (ARG), 1954 – James Kirby (USA), 1959 – Passos Amaury (BRA), 1963 – Vlamir Marques (BRA), 1967 – Ivo Daneu (JUG), - 1970 – Sergei Belov (URS), 1974 – Dragan Kicanovic (JUG), 1978 – Dragen Dalipagic (JUG), 1982 – Rolando Fraser (PAN), 1986 – Drazen Petrovic (JUG), 1990 – Toni Kukoc (JUG), 1994 – Shaquille O´Neal (USA), 1998 – Dejan Bodiroga (JUG), 2002 – Dirk Nowitzki (ALE), 2006 – Pau Gasol (ESP), 2010 – Kevin Durant (USA), 2014 – Kyrie Irving (USA). 

Os melhores jogadores em cada evento, foram sempre atletas de enorme qualidade, com percursos notáveis quer nas suas selecções quer na NBA. Figuras incontornáveis na história do basquetebol, em diferentes épocas, que maravilharam todos aqueles que tiveram a oportunidade de os ver jogar. Do continente americano tiveram essa distinção  James Kirby, Shaquille O´Neal, Kevin Durant e Kyrie Irving (USA), Passos Amaury e Vlamir Marques (Brasil), Oscar Furlong (Argentina) e Rolando Fraser (Panamá). Da Europa foram galardoados como MVP os jugoslavos: Ivo Daneu, Dragan Kicanovic, Dragen Dalipagic, Drazen Petrovic, Toni Kukoc e Dejan Bodiroga, assim como Sergei Belov (Rússia), Dirk Nowitzki (Alemanha) e Pau Gasol (Espanha). Quer dizer, mais europeus (9) do que americanos (8) com uma acentuada presença dos atletas oriundos da antiga Jugoslávia (6).

Modelo de competição

Face ao considerável aumento do número de selecções dos diversos países participantes no “FIBA World Basketball Cup” o sistema competitivo teve que ser reformulado. Assim, apresentamos o novo modelo de competição exclusivamente adoptado para esta competição:

1ª Fase (31 Agosto a 5 de Setembro)

Na 1ª fase as selecções dos 32 países encontram-se distribuídas por 8 grupos de 4 equipas cada, tal como foi indicado anteriormente disputando, entre si,  o apuramento dos dois primeiros classificados de cada grupo para a 2ª fase (1º ao 16º classificado).

2ª Fase (6 a 9 de Setembro)

Nesta fase as 16 selecções apuradas da fase anterior são novamente agrupadas de acordo com a seguinte distribuição:

Grupo I - Foshan (1º e 2º do grupo A e 1º e 2º do grupo B);

Grupo J - Wuhan  (1º e 2º do grupo C e 1º e 2º do grupo D);

Grupo K - Shenzhen (1º e 2º do grupo E e 1º e 2º do grupo F);

Grupo L - Nanjing  (1º e 2º do grupo G e 1º e 2º do grupo H).

Em cada grupo as equipas jogam entre si para apuramento dos dois primeiros classificados para a fase final.

Fase final

Quartos de final (10 e 11 de Setembro)

As oito selecções apuradas da fase anterior  disputam entre si a passagem às meias finais de acordo com a seguinte fórmula:

Dongguan - (1º do grupo I – 2º do grupo J) (1º do grupo K – 2º do grupo L)

Shanghai – (1º do grupo J – 2º do grupo I) (1º do grupo L – 2º do grupo K)

Jogos de Classificação do 5º ao 8º lugar (12 a 14 de Setembro)

Os jogos de classificação do 5º ao 8º lugar são disputados entre as equipas eliminadas nos quartos de final e são necessários porque o ranking final do “FIBA Basketball World Cup 2019” será utilizado para qualificar directamente 7 selecções para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e, ainda, selecionar 16 equipas para os Torneios FIBA de qualificação para os Jogos Olímpicos.

Meias finais (13 de Setembro)

As meias finais serão efectuadas na cidade de Beijing entre os vencedores dos quatro encontros dos quartos de final da seguinte maneira:

Beijing – (vencedores dos jogos realizados em Dongguan)

Beijing – (vencedores dos jogos realizados em Shanghai)

Apuramento do 3º lugar (15 de Setembro)

Beijing - Jogo entre as selecções eliminadas nas meias finais para atribuição da medalha de bronze.

FINAL (15 de Setembro)

Beijing - Jogo entre as selecções vencedoras das meias finais para atribuição do título de Campeão Mundial e das respectivas  medalhas de ouro e prata.

Favoritos

Se analisarmos os resultados dos dois últimos mundiais e, também, os Rankings da FIBA à escala internacional, tudo apontaria como grande favorita para a conquista do terceiro título consecutivo a equipa representativa dos USA. Contudo, a onda de lesões dos seus principais jogadores, a necessidade de recuperação da exigente competição profissional norte americana e o facto da época da NBA ter início uma semana após o final do campeonato mundial, são factores que condicionam a disponibilidade dos atletas, na casa dos trinta anos, com contratos milionários. Não se pode obrigar atletas profissionais a participar numa competição desta envergadura, nesta altura do defeso, pondo em risco a sua integridade física que, eventualmente, os impeça de cumprir o contrato de trabalho que assinaram com uma equipa da NBA ou de qualquer outra liga profissional de outro continente. No entanto, apesar da ausência da maioria dos jogadores que conquistaram o Mundial de 2014 e os Jogos Olímpicos no Rio- 2016, a FIBA continua a indicar a selecção dos Estados Unidos como a principal favorita, logo seguida das formações da Sérvia, Grécia e Espanha.

Eduardo Monteiro é ex-treinador do SL Benfica e das Seleções Nacionais