Nota prévia: Tendo em atenção o número redondo de 150 artigos publicados nesta rúbrica do Jornal “A Bola” e reconhecido pelo facto de ter ao longo do tempo tido sempre absoluta liberdade expressar os conteúdos da matéria expressa, quero deixar de forma sentida a minha gratidão, em especial aos sempre bons e distintos amigos Ex Diretor e Sub Diretor do periódico, Vítor Serpa e Fernando Guerra.
Acrescentando o facto de neste artigo versar um tema que reveste um significado de absoluto estado de alma, dedicado a quem jamais deixarei de evocar em toda a minha vida, peço desculpa pela dimensão em texto o que lhe é atribuído, mas que por mais que escreva nunca a paginação descrita em palavras se aproxima do tanto que teria por explorar.
Na passada 2ª feira, dia 9 de janeiro e dada a excelente parceria protocolar entre a universidade da Maia e o F. C. Porto, foi levada a efeito no Auditório Dr. Fernando Sardoeira Pinto do Museu do Clube, mais uma Aula Aberta no sentido de cultivar de forma bem expressiva a memória de Mestre José Maria Pedroto, que partiu a 7 de janeiro de 1985 e desde essa data de forma periódica e há 5 anos de forma anual, é levada a efeito uma conferência referente a um tema devidamente selecionado.
Este ano tentei explorar o Futebol (também) como cultura, vida e festa. Presentes no Auditório convidados de referência, tal como o Magnífico Reitor da minha universidade da Maia, Professor Doutor José Ferreira Gomes; Dr.ª Cecília Pedroto, (esposa do saudoso homenageado); Vice-presidente da Associação Nacional de Treinadores e ex. atleta do clube Domingos Paciência; Ex jogador portista Frasco; companheiro e Presidente do Conselho Fiscal A.N.T.F., Prof. Neca; Presidente da Câmara de S.to Tirso, vice presidente e presidente da Assembleia Municipal da autarquia; Juiz conselheiro Doutor António Madureira; alguns dos meus distintos colegas e demais amigos de eleição e ainda os melhores cinco alunos de cada turma do Curso de Educação Física, Gestão de Desporto e Mestrado em Treino Desportivo da Universidade da Maia, que para além do prémio de presença nesta conferência, visitaram a preceito a história do F.C.Porto bem documentada num dos Museus mais prestigiados a nível mundial, como se confirma os prémios internacionais justamente conseguidos.
A este propósito aproveito para agradecer o empenhamento revestido duma fraterna forma de servir que jamais deixarei de recordar por parte da Diretora do Museu Engª Mafalda Magalhães, do Diretor de Programação Jorge Maurício Pinto e do que considero um verdadeiro “ponta de lança” (que marca golos), pela impressionante eficácia e pormenor de ação, meu bom amigo Fernando Rola.
Uma nota especial para a presença continuada do meu colega campeão António Cunha e a felicidade de ter também junto a mim o treinador Sérgio Conceição que muito me honrou com a sua presença neste encontro de homenagem, memória e saudade.
Procurei no início e de forma muito resumida dar ênfase à história e evolução do jogo ao longo do tempo, referenciando:
CHINA – (sec. XXV a.C.) TSU SHU – bola cheia de crinas e aparas de madeira – jogo violento – treino militar
JAPÃO- KEMARI – quadrado 20m lado – observando o número de toques, servindo de diversão.
GRÉCIA – (sec. VII a V a.C.) EPISYIRUS – 13 jogadores de cada lado - jogado com mãos, promovendo o espetáculo.
ROMA (200 a 100 anos a.C.) – HASPARTUM – semelhante EPISKYRUS – Treino Militar.
GRÃ GRETANHA – sec. VIII – jogos entre aldeias- Diversão e Treino Militar.
FRANÇA – sec. XI a XIX – SOULE – jogado em bosques, servindo a parede como baliza e com o caráter da diversão.
ITÁLIA sec. XV a XVIII – Cálcio – equipas 27 jogadores de cada lado e 6 árbitros – defesas /médios e avançados – bola impelida com pés e agarrada com mãos - Exercício e Espetáculo.
Anotei algumas datas a ter em atenção, tais como:
26 outubro (1863) – na Freemason´s Tavern (Londres), estudantes universidades Cambridge, Westminster; Oxford, Rugby School, criam Football Association.
1888 – Irmãos Pinto Basto (estudavam no S.George College), regressam a Portugal introduzido o Futebol (quintas da Fronteira e Bonjardim), em que jogavam propriamente a aristocracia, como a família Redondo; Condes de S. Lourenço, Marquês de Borba, Aires Ornelas, etc …tendo a espetacular aprovação do povo que nunca mais o largou.
Ainda foram referenciadas algumas datas, como em 1904 a criação da FIFA; 1914 – FPF; 1930 1º campeonato do mundo; 1939 atuais 17 leis; 1955 – UEFA.
1883 1º sistema Clássico (Blackbun Olímpic Game); 1925 WM, como consequência da alteração da lei do fora de jogo, (Herbet Chapman – Arsenal de Londes); 1933 – Ferrolho Rappim – mais tarde adaptado ao Catenácio Italiano (Helenio Herrera) com a criação do Líbero; 1958 Brasil C.M. Suécia, introduz o 4x2x4; 1962 Brasil C.M.Chile, 4x3x3; anos 70 Ajax com Rinnus Michels Holanda 3x4x3 (losango); 4x4x2; 3x5x2; 4x2x3x1 …etc …
Assumi de seguida o CONTEXTO SOCIAL JOGO FUTEBOL, como reflexo da forma de viver dum povo, anotando alguns exemplos:
Argentina – voluntariedade, entrega, qualidade técnica superior. Exemplo: Messi, Simeone, Maradona, Valdano, Saviola, Lizandro Lopez, etc
Brasil – capacidade criativa, genialidade, algum egocentrismo: Pelé, Romário, Garrincha, Ronaldinho Gaúcho, Neymar, etc…
Itália – leitura de jogo com algum pragmatismo tático: Baresi, Maldini, Pirlo, Baggio, Del Piero, etc…
Holanda – capacidade técnica, leitura de jogo, sentido coletivo: J.Cruijff, R. Gullit; F.Rijkard, Van Basten, Bergkamp, etc …
Inglaterra – tendência ofensiva, princípios do fair play: Bobby Robson, Ferguson, Backham, Rooney, Gerrard, etc…
Alemanha – forte porte atlético, notável capacidade posicional: Beckembauer, Rummenigge; Klinsman, Mathaus, etc …
Espanha – absorveu a fúria e raça e caráter da Améria Latina: Guardiola, Butragueno, Casillas, S. Ramos, Xavi, Raúl, Morata, etc…
França – efeito dos jogadores provindos da África negra e ilhas do Pacífico: Zidane, Platini, Deschamps, Griezman, Mbappé, etc…
Portugal – tem o cheiro da África, toque e bailado do Brasil e capacidade de improvisação, concluindo que os estilos de jogo adquirem diferentes rostos, associados ao caminho universal da globalização: Eusébio, Fernando Gomes, Luís Figo, Chalana, Paulo Futre, Rui Costa, Cristiano Ronaldo, etc …
Anotei de seguida alguns considerandos sobre a modalidade mais representativa no mundo do desporto, sendo o FUTEBOL – modalidade espontânea, imprevisível, barata e democrática.
O teor transgressivo e bizarro do seu padrão gestual.
Futebol cultura como bem expressam os prémios Nobel obtidos por Vargas Llosa e Albert Camus e escritores também consagrados pelo tempo como Vergílio Ferreira; Peter Handke; Miguel Torga; Fernando Pessoa; Aquilino Ribeiro …
Deve-se a J. Marias a bem explícita reflexão quando se referia ao mágico Leonel Messi “onde sobre a relva se escreveram poemas feitos interpretados por gente vestida de calções e chuteiras “.
Jorge Valdano – “jogar bem não chega quando não se ganha; ganhar não chega senão se jogar bem; ganhar e jogar bem não chega se não tivermos jogadores de grande nível … e ao grande nível não se chega, jogando apenas bom Futebol”.
Procurei desenvolver a fórmula solidária dum jogo de Futebol, quer no desenvolvimento da criança na tentativa de formular objetivos de rendimento por oposição aos resultados, anotando particular atenção com especialização precoce e na orientação pedagógica, tendo por exigência o facto de corrigir sem ofender e orientar sem humilhar.
O Futebol como exemplo de prática numa Cadeia – por detrás das grades existe gente e na aplicação das regras do jogo encontrar uma das melhores metodologias para a preparação para a vida.
Também o Futebol na recuperação de estados de inadaptação por deficiência, cuja prática se converte de expressões de suor e afetos.
Ainda anotei o estado das incapacidades por graves lesões e o renascer do “deus caído”.
FUTEBOL como FESTA: mobilização do jogador – rápido, forte, inteligente capaz de vencer resistências na presença da fadiga; mobilização do treinador – quadro de exigências formativas, comportamentais, técnicas e humanas; mobilização do árbitro – coerência, imparcialidade, isenção e autoridade; mobilização do dirigente – liderança dum saber experimentado, protagonizando para o clube como o maior entre os grandes; mobilização do espetador – a alma do clube – hinos de glória indestrutível que vibram com o peso da sua bandeira.
Nesta temática foi remetido para um momento de especial referência: Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, pelo facto de ser considerado na história do Futebol como o mais titulado do mundo com mais de 2.400 títulos conquistados (nacionais e internacionais). No âmbito da modalidade de Futebol sénior a referência de 64 títulos: 2 Ligas dos Campeões, 2 Taças U.E.F.A., 2 Taças intercontinentais, 1 Supertaça Europeia, 22 Campeonatos nacionais, 13 Taças de Portugal, 21 Supertaças de Portugal. Como é possível fazer por vezes “tábua rasa” desta notável identidade ganhadora?! Um exemplo que Portugal em termos internacionais deveria obrigatoriamente explorar neste caminhar de 40 anos de prolongados sucessos por um Presidente eterno (como gosto de titular). Mas infelizmente, ainda muita gente se faz umas vezes distraída, outras vezes dependurada em cruzetas dum oportunismo bacoco ou, faz das atitudes de vingança, ódio, azedume as expressões da sua própria bestialidade!... Mas voltaremos um dia a este assunto. Prometo!...
Por último foi remetida para a apresentação a temática referenciada na ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO JOGO, anotando alguns investigadores, tais como: Malveiro, 1984; Castelo, 1986; Hughes, 1990; Mombaerts, 1991; Claudino, 1993; Rebelo, 1993; Duffour, 1993; Maçãs, 1997; Garganta, 1997; Olson, 1998; Grecaigne, 2001, apelando para a reflexão de alguns resultados: jogadores correm entre 8 a 12 km no jogo; deslocamentos de baixa intensidade 4/5 de todas as ações; deslocamentos de velocidade máxima 15 m em 3 segundos; jogadores realizam 1000 a 11000 ações; 1400 a 1600 deslocamentos com mudanças de função a cada 3.5 a 4 segundos; 1000 ações com bola – 250 a 550 passes (75% curtos, 10% longos e 15% muito longos) ; 350 passes a 1 toque e 150 a 2 toques; equipas de sucesso 15 a 30 ataques para 7 a 10 remates para 1 golo; 10 remates à baliza tem 86% hipóteses de ganhar; 75% das equipas que 1º marcam – ganham, 36% empatam e 14% perdem; equipas que marcam o 2º golo – 93% ganham, 6% empatam e 1% perdem.
Foi estabelecida por comparação a OBSERVAÇÃO NESTE MUNDIAL. Assim, os golos nascidos dos cruzamentos aumentam 83% em relação a 2018; apenas 15% de ataques pela zona central; baixam os índices de pressão alta por intervenção clara dos g. redes – 443 passes para os g. redes no penúltimo mundial para 772 em 2022; Argentina Campeã, foi das equipas que menos correu em distância e que mais depressa recuperou a bola; Alemanha foi a seleção a que mais rematou (52), mas apenas obteve 6 golos; Seleções europeias demoram mais tempo que as sul americanas a recuperar a bola( em média mais 4 s. (18.5 contra 14.95 )… a melhor neste item, ARGENTINA.
Para terminar pretendeu-se autenticar este adiantamento do tempo por parte de Mestre Pedroto quando para tal me convidou a acompanhar o seu ingresso no Clube em 1982, vindo do Vitória S.C. no sentido de colocar em prática o que era absolutamente novidade em Portugal, cujo trabalho tinha por base o estudo e observação do jogo no sentido de após a sua discussão e desproblematização dos dados investigados, instrumentalizar de forma mais eficiente a metodologia do ciclo semanal do treino. Aliás a frase de sua autoria que está escrita nos manuais do tempo que é “olha para o jogo que ele te dirá como deves treinar” nos remetem para uma filosofia de base científica dum treinador adiantadíssimo no tempo.
Para o efeito anoto de forma muito sucinta alguns parâmetros, tais como: Passes positivos e negativos: zona, jogador, setor do terreno e consequência (média 13 com tendência evolutiva); Neutralização de bola ao adversário (interceção e desarme) e consequência da jogada à tomada de posse; Remates efetuados, associando este item às jogadas de ataque e marcação de cantos e livres. Destaque para a 1ª bota de ouro de Fernando Gomes com 36 golos marcados em 3 zonas de área (A12, A4, A6) com 4.6 média/golo e para a 2ª bota de ouro com 39 golos e 3.7 média/ golo, nas mesmas zonas de área referidas.
Obs neste momento remetemos o Auditório para um tempo dum absoluto e emocionado silêncio em homenagem à sua memória, com o coração ainda em chama e luto pela sua partida e que jamais deixará de ser recordada.
Continuando: Eficácia média de ataque com 25ataques, 12 remates e 1 golo para um registo de 18 ataques, 10 remates e 1 golo; Tempo de posse de bola, registando uma média de mais 13 m e 9 seg. sobre os adversários, chegando à qualificação e registo de tempo dum contra-ataque e por último a avaliação da imprensa desportiva, qualificando o texto e refletindo sobre o conteúdo expresso, como aliás está registado no relato digitalizado que foi devidamente exposto.
Ficou assim expresso a identidade bem ilustrada pela capacidade de intervenção dum treinador admiravelmente diferente e do qual jamais deixarei de evocar o meu sentimento, vertido de gratidão e saudade… MUITA SAUDADE!...
José Neto: Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores F.P.F./U.E.F.A.; Docente Universitário – Universidade da Maia; Embaixador nacional para a Ética e Fair Play do Desporto.