A sociologia e o desporto (artigo de Vítor Rosa, 159)

Espaço Universidade A sociologia e o desporto (artigo de Vítor Rosa, 159)

ESPAÇO UNIVERSIDADE22.07.202114:41

A sociologia é uma ciência que nos permite olhar para o mundo social, encarando diversos pontos de vista. Aliás, quando muitos alunos começam a estudar a “física social”, na perspetiva de Auguste Comte (1798-1857), ficam muito perplexos com a diversidade de abordagens teóricas. Alguns, até a consideram abstrata e aborrecida. Todavia, ela tem implicações práticas. Se conseguirmos compreender como os outros vivem, também adquirimos uma melhor compreensão dos seus problemas. Por outro lado, a investigação sociológica também nos fornece dados sobre as iniciativas políticas. Não devemos é conceber a sociologia como uma ciência que apenas ajuda os políticos a tomar as melhores medidas.
 

Se Auguste Comte, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber são as figuras fundadoras da sociologia, é preciso não esquecer e ter em consideração que existem outros importantes pensadores. Ninguém fala dela, mas Harriet Martineau (1802-1876), jornalista e ativista, foi chamada de “primeira mulher socióloga”. Nasceu e cresceu em Inglaterra. Considera-se que introduziu a sociologia na Grã-Bretanha. Defendia que no estudo de uma sociedade é preciso ter em conta todos os seus aspetos (políticos, religiosos, sociais, económicos…) e insistia que, nesta análise, se deve incluir a vida das mulheres.
 

Os indivíduos são o produto de uma educação, que é decisiva ao longo da vida. E apoia-se numa pluralidade de atividades. A atração pela prática desportiva, excede amplamente a sua dimensão motriz. Praticar desporto não é apenas correr, nadar, lançar, saltar, marcar golos, etc. É também o reconhecimento do outro (“adversário”) e o respeito pelas regras do jogo. Neste sentido, o desporto não é apenas uma prática. É também uma ética. Portador de mensagens implícitas e explícitas, o desporto constitui um suporte de formação dos jovens e dos menos jovens.
 

Em Portugal, dever-se-ia organizar uns “Estados Gerais sobre o Desporto”, procurando fazer o “estado de arte” sobre os seus princípios, valores, modos de organização, políticas, etc. O desporto é, claramente, um elemento de enriquecimento pessoal e coletivo. E os sociólogos, sobretudo os do desporto, deveriam ser os promotores desse evento. É preciso sair do estado soporífero em que nos encontramos em matéria desportiva, bem como em muitas outras. E há mais práticas desportivas do que o futebol e o estado da justiça dos negócios. Finalmente, uma última nota: o atual ministro da Educação, numa audição na comissão Parlamentar da Educação, no passado dia 14 de julho, anunciou que vai ser lançada uma nova oferta de escola, intitulada “Desporto escolar-Escola activa”, com o propósito de desenvolver práticas não competitivas destinadas a alunos entre os 10 e os 14 anos. Com esta oferta, pretende-se que alunos assumam um compromisso de respeito pela “ética e o fair-play”. Não se percebe esta oferta, nem o que complementa relativamente às tradicionais aulas de educação física.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa