A Volta a Portugal é nossa e só nossa!
A 86.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta está na estrada desde ontem, com o tradicional prólogo, este ano, na Maia. Uma corrida maioritariamente com equipas portuguesas desde sempre no seu longo historial, em que chegou a ter três semanas de duração, tantas quantas as do trio de grandes Voltas mundiais, França, Itália e Espanha, sem nunca, em tempo algum, destas se aproximar na qualidade do pelotão e da organização e no prestígio. Era uma competição sobredimensionada para o seu pequeno gabarito e teve se reajustar, reduzindo-se aos atuais onze dias. Todavia, ainda demasiados para a posição no calendário (entalada entre o curto período que medeia o Tour e a Vuelta) para que a prova portuguesa se pudesse tornar mais atrativa às melhores equipas estrangeiras.
Na verdade, não poderá sê-lo sem que a Volta se valorize na classificação da União Ciclista Internacional (UCI) - em que é de escalão 2.1. Para o fazer, a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) teria de ter essa pretensão e expô-la à UCI. Mas parece mais ou menos reconhecido que não tem ou terá nos próximos tempos. Ou pelo menos, é conivente com o interesse das equipas portuguesas, a maioria avessa à internacionalização da Volta a um nível mais elevado, uma vez que, enfrentando adversários de qualidade (muito) superior, deixariam de competir pela vitória e longe ficariam, vide a Volta ao Algarve, que todos os anos reúne as melhores equipas do pelotão mundial (WorldTeam).
Perdendo todo o protagonismo que os seus patrocinadores exigem para mostrar as suas marcas, esvaziavam-se os seus já parcos orçamentos. Perante a míngua, a extinção é um risco efetivo. Para evitá-lo, impõe-se que o tempo de publicidade, de exposição à audiência (na estrada, mas acima de tudo, em transmissão televisiva em direto através de canal aberto) seja o mais duradouro possível (entenda-se, durante mais dias... de competição). Logo, que a Volta continue longa, bem portuguesa e para português ver.
Não interessa, pois, à FPC, que a qualidade da lista de participantes da edição de 2025, entre 28 competições de nível 2.1 registadas na UCI, seja a penúltima mais baixa do ranking do portal de ciclismo Pro Cycling Stats, apenas à frente da Volta ao Ruanda e ao Irão (que se realiza no Azerbaijão. O ciclismo de estrada português está fechado sobre ele próprio e cada vez mais... orgulhosamente só.
Apesar do decréscimo, imparável nos últimos anos, da qualidade das equipas da Volta a Portugal, a competitividade poderá, todavia, não estar em causa. Será certamente de um nível inferior quando comparado com o que se vê quase todas as semanas em vários países europeus (e por cá, uma vez por ano, na Volta ao Algarve), mas ainda assim interessante para o público/audiências - que crescem em número quando há portugueses a lutar pela liderança da prova. Para seduzir as gentes, a organização da Volta aposta no aumento da exigência do percurso, já de sei reconhecidamente elevada, com mais chegadas em subida, o que, de resto, é uma tendência global.
Veremos se a edição em curso compensa a menor qualidade geral dos participantes com interesse competitivo, com árduas batalhas na estrada, nas subidas que serão muitas! Vamos para a estrada ver passar os corredores ou para diante do televisor. A Volta está na estrada e promete muita dureza. Espetáculo garantido?